31 de março de 2025
Pesquisas em melhoramento genético subsidiam a renovação do parque cafeeiro de Minas e rendem bebidas de excelência / Foto: Reprodução
BELO HORIZONTE – Quanta tecnologia há numa xícara de café? O que faz o café de Minas tão especial? Qual o segredo de Minas para uma das bebidas mais apreciadas do mundo? Você já deve ter ouvido essas perguntas e é possível arriscar algumas respostas: ciência, clima e solo favoráveis e a dedicação do cafeicultor.
Pesquisas direcionadas para o desenvolvimento de novas cultivares são responsáveis por saltos de produção e sabores particulares. Entre elas destacam-se os estudos em melhoramento genético do cafeeiro que desenvolveram cultivares adaptadas para os diferentes sistemas de produção da cafeicultura mineira.
De acordo com o pesquisador em cafeicultura da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais Gladyston Carvalho, as pesquisas buscam gerar conhecimento para o cafeicultor e oferecer, por meio da genética do café, aumento de produtividade e transformação no sistema produtivo.
“São 587 municípios cultivando café, somos o estado maior produtor de café do Brasil, detemos média de 50% da área cafeeira e 40% da produção nacional. São muitos produtores que dependem da cultura e da pesquisa agropecuária”, afirma.
O também pesquisador da Epamig, Vinicius Andrade, afirma que a área de plantio de café no Brasil não registra grande crescimento, no entanto a produtividade aumentou significativamente desde a década de 1980.
“A média, que era de sete sacas por hectare, agora atinge 25 até 30 sacas por hectare”, aponta. Segundo ele, as pesquisas também têm por objetivo manter o cafeicultor na atividade, bem remunerado, além de criar condições para sucessão familiar já que se trata de uma das culturas mais relevantes para o Brasil.
Genética
Com décadas de pesquisas científicas, por meio de trabalhos da Epamig e seus parceiros, como Embrapa e universidades, Minas alcançou patamar e marco expressivo como maior produtor de café do Brasil.
Topázio MG1190, MGS Paraíso 2, MGS EPAMIG 1194, MGS Aranãs e MGS Ametista são nomes de algumas das cultivares desenvolvidas para as condições do estado e que vêm potencializando a produtividade, vigor e a qualidade do café mineiro. Ao todo, a Epamig já registrou mais de 20 cultivares.
Cultivares
No desenvolvimento de novas cultivares de café, primeiro buscam-se as características complementares desejadas de uma e outra cultivar. Esse cruzamento artificial chama-se hibridação.
A partir dessa combinação faz-se o avanço de gerações buscando a fixação das características desejadas nas plantas. Esse processo leva de 20 a 30 anos. “Nos primeiros 12 anos de desenvolvimento de uma cultivar o trabalho é todo feito dentro dos campos experimentais. A partir da 4ª geração avaliamos a interação com os diferentes ambientes. Depois desse passo é que podemos registrar e iniciar as recomendações”, comenta Gladyston.
“A Epamig desenvolveu um projeto robusto de avaliação de cultivares de café na região do Cerrado Mineiro entre 2016 e 2022. Com o apoio da Federação dos Cafeicultores do Cerrado e do Consórcio Pesquisa Café foram instaladas unidades demonstrativas em propriedades de produtores parceiros. Pelos resultados obtidos foram identificadas cultivares com maior potencial para a região. Com essa experiência de sucesso avançamos para o projeto de “Validação de cultivares de cafeeiros e transferência de tecnologias para as regiões cafeeiras de Minas Gerais”, conta Gladyston.
Atualmente os estudos para recomendação das cultivares para os diferentes ambientes e sistemas produtivos vêm sendo realizados em todo o estado, com potencial para subsidiar tecnicamente a indicação de cultivares para a renovação do parque cafeeiro de Minas.
MGS Paraíso 2
Conduzida em sistema orgânico na Fazenda Samambaia, em Santo Antônio do Amparo, região do Campo das Vertentes, a cultivar MGS Paraíso 2 foi escolhida pela resistência à ferrugem, principal doença do cafeeiro. “Já sabíamos da sanidade da cultivar então apostamos”, conta Daniela Edel Teixeira, engenheira agrônoma e gerente da fazenda.
Ela complementa que a busca por uma cultivar apropriada para uma lavoura orgânica também considerou a qualidade sensorial da bebida e a produtividade, “temos a expectativa de 30 sacas por hectare na primeira safra”. A lavoura orgânica também é conduzida com técnicas agroecológicas estudadas e difundidas pela Epamig.
Na Fazenda da Lagoa, também em Santo Antônio do Amparo, pertencente ao grupo NKG, está instalada uma das unidades demonstrativas da Epamig. Segundo o engenheiro agrônomo e gerente Patrik Lage, a fazenda vem testando novos materiais genéticos desde 2017 em busca de produtividade, precocidade de maturação e qualidade de bebida.
“A cultivar MGS Paraíso 2 foi um dos destaques. Dos 400 hectares renovados recentemente, 150 foram plantados com ela e o que chamou atenção foi a alta produtividade e a precocidade”. Ele explica também que a resistência à ferrugem e possibilidade de reduzir o uso de defensivos agrícolas são decisivos na escolha da cultivar. “As primeiras lavouras implantadas com a MGS Paraíso 2 obtiveram produtividade de 45 sacas por hectare na primeira safra”, revela.