Ícone do site Folhadamanha

Pensar ou não pensar: Eis a questão

ADAILTON DE AMEIDA

Na pressa dos dias embarcamos em uma enxurrada de compromissos, nos ocupamos com atividades necessárias, outras nem tanto assim, resta-nos escassos momentos para refletir sobre as mudanças que nos cercam. Enquanto o mundo se renova, por vezes, estamos adormecidos demais para acompanhar tais mudanças.
Pois bem, enquanto há vida, ainda há tempo para reflexão, por isso convido você, neste dia, a abrir uma fresta nesta bolha e espiar comigo a importância de refletirmos sobre a inovação.
A constante mudança e movimento que nos permeiam estão intrínsecos à natureza. Essa força motriz e pulsante, o nosso organismo, nossas células estão sempre em transição, de igual forma a terra não é a mesma no segundo seguinte. “Ninguém entra em um mesmo rio uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo, assim como as águas que já serão outras”, frase atribuída ao filósofo pré-socrático Heráclito, sintetiza que o mundo é um eterno devir, com efeito, estamos num constante “tornar-se”.
Não obstante as mudanças que ocorrem por força da natureza, é evidente que o homem, por meio do livre-arbítrio, é o ator principal das próprias mudanças que o cerca.
Em sua inventividade, o homem cria a cada dia novas tecnologias para auxiliá-lo em suas tarefas, contudo, é preciso cautela ao entregarmos aos algoritmos responsabilidades eminentemente humanas, como sabemos, eles podem nos deixar na mão nas horas mais improváveis.
A inteligência artificial tem ganhado espaço em nossas vidas, ao nos proporcionar maior agilidade em processos, dinamismo e conforto. Sua importância é incontestável em uma série de atividades, entretanto, insta refletir o quanto essa revolução tecnológica paradoxalmente pode significar um retrocesso em outros aspectos.
Isto porque o pensamento crítico, um dos maiores atributos do homem, ante o comodismo oferecido por esta tecnologia, pode ser aperfeiçoado, mas também pode ser colocado de lado.
A internet através de sites de pesquisa, facilitam o aprendizado, é possível consultar obras literárias e científicas gratuitas, que contribuem para a formação humana e acadêmica, porém o uso irresponsável da internet gera danos e atraso no processo de aprendizagem, isto quando o indivíduo apenas reproduz o material consultado, sem qualquer critério ou contribuição crítica.
Assim, é recorrente hoje em dia, situações de plágio, não apenas no meio acadêmico e escolar, mas em diversas situações. Aparentemente, pensar criticamente se tornou uma tarefa rara entre aqueles que transferem essa responsabilidade aos mecanismos tecnológicos.
Recentemente, a inteligência artificial deu mais um passo, e com isso expôs novamente uma faca de dois gumes, uma ferramenta para nos ajudar a pensar, ou, se utilizada negligentemente, para nos fazer pensar menos. Trata-se de tecnologia que “imita” a linguagem humana através de um “chatbot” capaz de criar conteúdo de diversas áreas, bem como escrever textos e resolver problemas matemáticos. Com efeito, a ferramenta fez sucesso e já foi utilizada para escrever livros, vejam só.
O fenômeno tecnológico pode gerar receio em profissionais de diversas áreas, visto que tarefas antes desempenhadas por eles, agora poderão ser realizadas por “robôs”.
O assunto, quando falamos em literatura, também traz preocupação, visto que a inspiração e a criatividade do escritor estão diretamente relacionadas às suas emoções e experiências de vida.
Dito isso, será possível a substituição desses sentimentos por algoritmos?
Em outras palavras, um poema escrito pela inteligência artificial poderia superar a sensibilidade humana?
Deixo a você, caro leitor, estas questões, dignas de reflexão.

ADAILTON DE ALMEIDA, escritor. Integra a Associação Cultural dos Escritores de Passos e Região, cujos membros se revezam na autoria de textos desta coluna aos sábados

Sair da versão mobile