Carlos Renato
PASSOS – Pais de crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista em Passos pedem mais apoio do poder público, incluindo suporte psicológico e social, para garantir que os filhos tenham mais acesso a serviços essenciais nas áreas de saúde e educação.
Para Felipe Bueno, coordenador do Movimento Orgulho Autista Brasil (Moab) em Passos, o município avançou em alguns aspectos, com a realização, por exemplo, do concurso público em 2024 que previa a contratação de professores de apoio, mas que ainda existem diversos desafios na área educacional a serem superados.
“Passos ainda sofre com a falta de suporte especializado na rede pública de ensino e tem dificuldade em oferecer as adaptações necessárias, como salas sensoriais, capacitação continuada dos profissionais e metodologias inclusivas como o Plano de Desenvolvimento Individualizado (PDI)”, afirma.
Segundo Felipe, além da educação, o município também deveria dar mais atenção na área da saúde. “Passos não tem um Centro de Referência Municipal de Atendimento aos Autistas, o que existe aqui são entidades que realizam esse serviço de investigação para o diagnóstico e de oferta de terapias como a Apae e a Apap”, alega.
Felipe aponta que o Moab em Passos é composto por mais de 80 famílias, mas ressalta que a quantidade de pessoas com autismo na cidade pode ser maior. “O poder público ainda não conseguiu medir de forma efetiva quantos autistas existem na nossa cidade, pois sabemos que ainda existe dificuldade de acesso ao diagnóstico por diversos fatores”, alerta o coordenador.
Luciana Monteiro, que é mãe atípica, afirma que o município ainda falha na oferta de atendimento a equipes multiprofissionais, importantes para o devido acompanhamento a pessoas que tem autismo.
“Meu filho é um menino autista que precisa de acompanhamento médico. Recentemente ele saiu da triagem da Apae, porém ainda estamos na fila aguardando os acompanhamentos. Me informaram que a fila está enorme e que teria que aguardar ser chamado – detalhes a ficha (acompanhamento) já foi feita, mas os atendimentos ainda não – para mim que sou mãe não está nada fácil. Decidi pedir ajuda na Apap, mas infelizmente tive a ‘porta fechada’ e meu filho está sem atendimento por motivo de filas”, reclama.
Conforme Luciana, até o momento, o único suporte oferecido pelo poder público foi apenas um atendimento feito por uma fonoaudióloga no PSF, mas, que seria insuficiente.
“Na segunda consulta a médica simplesmente falou que sabia as necessidades do meu filho, porém não iria atender mais, pois estaria sobrecarregada. Conclusão meu filho é autista e tem várias necessidades, porém em Passos estamos com essas dificuldades. Só quem tem filhos autistas sabe o quanto é difícil”, aponta.
De acordo com a professora e mãe atípica Márcia Silveira, esses problemas enfrentados pelas famílias reforçam a importância de reduzir a discriminação e o preconceito contra o autista.
“Entender que são pessoas que sentem, aprendem e convivem em sociedade, só que, de forma e em tempo diferente. O objetivo mais importante do poder público seria proporcionar um maior entendimento em torno do espectro autista, difundindo as necessidades e os direitos das pessoas com autismo”, ressalta.
Procurada, a Prefeitura de Passos, por meio da Assessoria de Comunicação, ainda não se manifestou sobre as alegações feitas pelos pais atípicos. O espaço segue aberto à administração para eventuais esclarecimentos sobre o assunto.
Entidade
O Movimento Orgulho Autista Brasil (Moab) é uma entidade nacional não-governamental, sem finalidades lucrativos, criado em 2005, sendo formado por pais, mães, amigos e simpatizantes da causa.
Segundo o coordenador em Passos, Felipe Bueno, o objetivo da entidade é buscar a melhoria da qualidade de vida para as pessoas diagnosticadas com autismo e dar suporte às famílias, além de cobrar por políticas públicas.
Seminário
Nesta quinta-feira, 25, acontece o 1º Seminário Regional de Autismo do Sul de Minas, marcado às 19h, no auditório do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas (IF Sul de Minas) – campus Passos.
De acordo com os organizadores, o evento será um momento único de aprendizado, troca de experiências e fortalecimento da inclusão, com a participação de palestrantes com vivências na área do autismo, que devem levar temas relevantes à causa.
O seminário é voltado para famílias atípicas, estudantes, profissionais da saúde, educação, assistência social e toda a comunidade interessada em compreender melhor o universo do Transtorno do Espectro Autista (TEA).