11 de junho de 2024
Em "Eric", Benedict Cumberbatch se afunda em problemas e no álcool / Foto: Divulgação
Uma família desestruturada de classe média baixa. Desaparecimento do filho pequeno. E uma investigação desafiadora, cheia de armadilhas. “Eric”, nova série da Netflix, lança mão desses elementos para narrar a história de um pai atormentado pelo sumiço do filho. A reboque, a série levanta discussões sobre racismo, homofobia, alcoolismo e descaso do poder público norte-americano com a população em situação de rua.
Estrelada pelo britânico Benedict Cumberbatch, que é também um dos produtores, “Eric” se passa na década de 1980 e acompanha o drama do casal Vincent (Cumberbatch) e Cassie (Gaby Hoffmann) depois que o filho Edgar (Ivan Howe), de 9 anos, desaparece no caminho para a escola.
Vincent é um manipulador de fantoches, famoso por ter criado o programa de TV infantil “Good day, sunshine”, uma espécie de “Os Muppets”, com bonecos de espuma sintética conduzindo o espetáculo. Após grande sucesso na TV, o programa perde audiência e Vincent passa a ser pressionado pela emissora para reverter a situação.
Em casa, a situação não é das melhores. Seu casamento com Cassie está desmoronando e as brigas constantes do casal começam a impactar Edgar. Durante uma dessas brigas, o garoto some. Vincent, que deveria levá-lo para a escola, fica em casa discutindo com a esposa e não vê o filho saindo sozinho.
Consumido pela culpa, Vincent recorre ao álcool. O que era uma dose de vodca vai virando duas, três, quatro… até chegar ao ponto em que ele não consegue ficar sem uma garrafa ao lado. A dependência, evidentemente, piora ainda mais seu relacionamento com Cassie e afeta sua própria sanidade.
Nesse estado emocional caótico, ele encontra desenhos de um monstro chamado Eric feitos pelo filho e se convence de que, se conseguir colocar um fantoche de Eric na TV, Edgar voltará para casa.
Vincent se apega ao plano. O que não esperava é que Eric apareceria para ele em carne e osso, como se fosse seu monstro interior, trazendo à tona seus medos, fracassos e arrependimentos.
Em paralelo à via crucis enfrentada pelo protagonista, o detetive Michael Ledroit (McKinley Belcher III), um homem negro e gay dentro de uma corporação racista e homofóbica, não consegue avançar nas investigações. Para piorar, precisa lidar com a acusação de ser racista – embora seja negro – por dar mais atenção ao caso de Edgar do que ao desaparecimento de um jovem negro. Também orbitam a investigação alguns personagens secundários, aparentemente sem conexão entre si, mas que são fundamentais para a conclusão da narrativa.
Há, por exemplo, o vice-prefeito, que pretende fazer “uma limpa” no centro da cidade, tirando os moradores de rua no intuito de revitalizar a região com o apoio de um magnata das construções; um empresário do ramo de limpeza urbana traficante de drogas, um casal de moradores de rua viciado em drogas, um idoso com passado comprometedor e que é vizinho de Vincent, um dono de boate que já foi preso por exploração sexual infantil e um policial corrupto.
Cumberbatch e Gaby Hoffmann também se destacam pela interpretação. Enquanto um encarna a deterioração do homem, Hoffmann é a figura da mulher obstinada e forte. É ela quem segura a barra no momento mais crítico, mesmo estando emocionalmente abalada.