Proatividade, honestidade, perseverança, lições aprendidas e boas doses de ousadia. Estes são os elementos presentes no relato de Paulo Sérgio Soares, 52 anos, que com brilho nos olhos rememora a trajetória de trabalho que começou na vida simples da roça e hoje o posiciona como um dos empresários de destaque na região de Passos, Minas Gerais. Paulo é o diretor-proprietário da Carvalho & Soares Construtora e Incorporadora, e também um dos sócios-fundadores do Grupo Canastra, empresa de armazenagem e comercialização de grãos.
Nascido em Passos e criado em São João Batista do Glória, foi com os pais que Paulo experimentou as primeiras ações empreendedoras. O mais velho dos cinco filhos de Milton e Gasparina, Paulo aprendeu as atividades rurais de plantar e criar animais para comercializar, e ajudou nas tarefas da “venda” montada pelo pai na cidade. A prática e os exemplos vivenciados na família influenciaram sua vocação para as vendas e os negócios: “Nessa fase aprendi o trato com o cliente, a forma de atender e fazer amizades”, afirma.
O desejo de conquistar crescimento profissional e financeiro foi construído ao longo do tempo. Mas Paulo cita um episódio da adolescência que funcionou como uma “chave” para mudança de atitude: um mal desempenho escolar levou o pai a lhe dar o castigo de perder as férias e trabalhar em uma tarefa da qual Paulo não gostava nem um pouco. A lição? Entendeu que era preciso mais esforço para alcançar os objetivos desejados. Passou a estudar à noite e a trabalhar durante o dia nas atividades rurais e no comércio da família.
A PRIMEIRA MOSTRA DO EMPREENDEDORISMO
Ainda jovem, trabalhou como auxiliar administrativo na prefeitura gloriense, período em que também desenvolveu a habilidade comercial por meio da compra e revenda de frangos e bezerros. Foi durante seu trabalho na prefeitura que o jovem Paulo deu a primeira mostra de empreendedorismo e ousadia: vendeu 100 linhas telefônicas no plano de expansão de DDD que chegava ao município. “A empresa de Belo Horizonte que veio fazer as vendas não atingiu a meta de vender as 100 linhas, e sem essa quantidade mínima de linhas não seria implantado o DDD na cidade. Eu propus ao prefeito na época, o José Heitor, que se eu ganhasse uma comissão da empresa, eu venderia todas essas linhas, e assim eu fiz”, relata Paulo.
Com o dinheiro conquistado, Paulo investiu em plantio, adquiriu gado para revenda, negociou carros e imóveis mediante corretagem, e comprou seu primeiro carro: um Fusca bordô equipado com toca-fita auto-reverso “Roadstar”, um feito e tanto para o jovem de 18 anos, que para completar a quantia de compra do Fusca vendeu até uma máquina de escrever que tinha. Nesse período, cursava à própria custa o chamado segundo grau integrado ao curso técnico em Contabilidade, no Colégio Imaculada Conceição, em Passos. “Apesar de não ter exercido a profissão, aprendi uma ciência importante que me ajudou posteriormente em meus negócios”, aponta.
Ao término do curso técnico, Paulo teve um revés nos negócios. Aos 22 anos, perdeu o que tinha conquistado e ficou com dívidas. Foi aí a primeira grande lição de perseverança: recomeçou vendendo as pamonhas produzidas pela mãe e acessou a ampla rede de amigos para se recolocar no mercado. “Ser alguém em quem as pessoas confiam e manter a reputação é um valor que trago em toda a minha vida”, destaca o empresário.
Na ocasião, a prefeitura do Glória estava inaugurando o ginásio poliesportivo e buscava alguém para fazer funcionar o bar no dia da inauguração. Paulo não teve dúvidas e conversou com o prefeito da época, Ivanir Rodrigues: “Eu dou conta, se o senhor me permitir. Conheço fornecedores de bebidas, se me der o prazo até amanhã eu providencio o freezer, mesas, cadeiras”, conta. Com a ajuda da mãe Gasparina e das irmãs, fizeram até comida para vender no dia a dia do bar.
A experiência foi bem-sucedida e Paulo permaneceu arrendando o bar durante um ano. Quando houve a primeira licitação pública para arrendamento do espaço, Paulo não venceu o processo. Mas um tempo depois, participou de nova licitação e voltou a operar o bar, onde dedicava a maior parte do seu trabalho.
O PARCEIRO NO RAMO IMOBILIÁRIO
Foi quando um contato com Odilon Tadeu de Carvalho, de quem Paulo já era amigo, trouxe a oportunidade de entrar para o ramo imobiliário. Tadeu era proprietário da Telinveste, empresa de aluguel de linhas telefônicas que, com a privatização das telecomunicações, veria seu ramo de serviço se extinguir em pouco tempo. Sabendo da habilidade do Paulo para a negociação de imóveis, Tadeu propôs ao amigo a criação de uma imobiliária para compra e venda de imóveis. Dentro de seis meses, Paulo, na época com 26 anos, encerrou as atividades do bar e partiu para a sociedade, inicialmente com 40% de participação dos negócios.
Em pouco tempo, Paulo passou a ter 50% da sociedade com Tadeu e juntos ingressaram também no ramo da construção civil, com a reforma e venda de um primeiro imóvel em Passos. Nascia a Construtora Carvalho & Soares, que em 2000 empreendeu seu primeiro loteamento em São João Batista do Glória, o “Residencial Maria Rosa”, e a partir daí não parou mais: até o momento, são 27 loteamentos construídos e quatro em execução, em sete municípios da região.
Os resultados bem-sucedidos da construtora são fruto de gestão profissional e busca de excelência: a Carvalho & Soares é certificada no Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade do Habitat (PBQP-H) e na ISO 9001 pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Em 2019, os sócios Paulo e Tadeu decidiram separar os negócios, a fim de que cada um buscasse seus objetivos profissionais e familiares. Na rescisão da sociedade, coube a Tadeu a empresa OTC Empreendimentos Imobiliários, e a Paulo a Carvalho & Soares Construtora e Incorporadora. A amizade e a parceria entre os dois seguem fortes, inclusive na forma de sociedade em outros empreendimentos, nos ramos imobiliário e agrícola.
COMO COMEÇOU A DIVERSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS
Ao longo de sua jornada, Paulo desenvolveu a versatilidade para atuar em diferentes ramos – setor imobiliário e agronegócio, como uma estratégia para a sustentabilidade dos seus empreendimentos. “Há épocas em que um ramo pode estar em baixa, e o outro segmento em alta. Isso equilibra os negócios, acredito que não é prudente colocar todos os ovos na mesma cesta”, exemplifica o empresário, citando a frase da sabedoria popular.
Usando sua experiência rural da juventude e em sintonia com a vocação econômica da região, Paulo sempre atuou no ramo do gado, concomitantemente com os negócios imobiliários. Em seguida, expandiu para a produção de leite, ocasião em que também ocupou o cargo de presidente da Associação dos Produtores de Leite do Sudoeste de Minas (Aproleite). Em 2013, concentrou a atividade rural na produção e venda de soja, milho e feijão.
Sempre atento às necessidades e oportunidades do mercado, Paulo vislumbrou a possibilidade de um novo negócio, frente a um déficit de capacidade de armazenagem e beneficiamento de grãos na região de Passos. Buscou produtores rurais parceiros que comungavam da mesma visão, inclusive seu sócio Tadeu, e em 2015 foi inaugurado o Grupo Canastra, que presta serviços de armazenagem, beneficiamento e comercialização de grãos.
Os seis sócios – Paulo, Tadeu, Raul Ferreira Godinho, Daniel Martins Godinho, Carlos de Simoni Silveira e José Márcio de Simoni Silveira – compartilham uma visão arrojada de negócios e por isso a empresa já diversifica sua atuação com a fabricação de ração animal e produção de bioinsumos para uso próprio, preocupados com a sustentabilidade no cultivo de alimentos.
A atuação nesta ousada diversificação de empreendimentos – construtora, fazendas e empresa de armazenagem de grãos – continua exigindo de Paulo uma rotina de esforço e disciplina, que começa às 6 da manhã. Mas se há um segredo para conciliar tudo, ele diz que é a capacidade de reunir as equipes certas, apoiar seus funcionários, planejar e delegar. “Eu aprendi pessoalmente cada tarefa que precisa ser feita, em todo trabalho que me dispus a fazer. Isso me ajuda a saber delegar e coordenar os processos”, explica, complementando que “ter pessoas comprometidas é essencial”.
VISÃO DE MUNDO E A TECNOLOGIA
Sobre a era de intensa digitalização em que vivemos, Paulo acredita que os recursos tecnológicos trazem possibilidade de alta produtividade, resultando em mais facilidades para os negócios, uma vantagem em comparação ao período em que ele começou, 30 anos atrás.
Mas se tivesse que dar um conselho para a geração profissional que está começando agora, Paulo afirma: “Nem tudo está na tela do celular ou nas redes sociais. É importante desenvolver o contato pessoal, a habilidade de negociar frente a frente, além da importância de não gastar todo o tempo em conteúdos digitais que no fim das contas não trarão ganho algum”.
Envolver-se com a comunidade e fazer sua parte é outra recomendação do empresário para os jovens empreendedores. Ele é colaborador contínuo do Lar São Vicente de Paulo em São João Batista do Glória, parceiro do Hospital Regional do Câncer e membro da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Passos.
Embora as novidades de todo o mundo estejam na palma da mão, literalmente “a um clique”, Paulo sugere à jovem geração que invista na possibilidade de viajar para vivenciar outras culturas, exercitar a curiosidade e pesquisar ideias de negócios. “Tive oportunidade de conhecer 18 estados brasileiros e 24 países, gosto muito de viajar para conhecer novas tecnologias, novos lugares, o modo como as pessoas fazem as coisas”, relata ele, que além de viajar diversas vezes para congressos e visitas técnicas a fazendas norte-americanas, também incluiu nos roteiros a chance de conhecer os feitos da Antiguidade, como as construções romanas, bem como as inovações, como as construções super contemporâneas no Qatar.
Se existe um lema de vida, provérbio ou frase que Paulo segue como inspiração? O empresário afirma que não existe alguma citação específica, mas que acredita e respeita a lei do retorno: “Quem não trabalha certo, de forma justa, uma hora dá errado. E vice-versa: quem é honesto, colherá bons frutos”.
Outro lema do empresário é o de enfrentar os medos e correr riscos. “São as adversidades da vida que nos amadurecem. Se der errado, é levantar e refazer melhor, de um novo jeito, adaptando às novas realidades”, afirma Paulo, que exercita isso ao longo da vida profissional e, agora, também em um recomeço no âmbito pessoal, caminhando para o segundo casamento.
Sobre o futuro, Paulo é determinado e otimista: “A gente é quem constrói, temos nas mãos as ferramentas para adaptação dos negócios, mesmo em cenários difíceis”. Com uma mente e um espírito tão empreendedores, Paulo, que também tem a missão de preparar os filhos sucessores nos negócios – os jovens Paulo Otávio e Gustavo – certamente não se acomoda. Novos sonhos a realizar vêm por aí, respaldados na garra e na fé de alguém que construiu, passo a passo, um patrimônio de negócios, pessoas e de vida.