LUIZ GONZAGA FENELON NEGRINHO
Do jeito que está salvação não há
O que diria a sociologia e a antropologia sobre a violência no Brasil, hoje mais do que nunca com raízes profundas em todos os setores do nosso convívio social?
A antropologia estuda o homem na sua inteireza. A sociologia por sua vez, trata do homem e seu posicionamento no meio sistemático social. Ambas as ciências se interagem. Pelo menos é assim: o processo acontece com o nascimento, passa pela evolução, esbarra-se no meio em que vive, com o aguardo da morte que nos cabe neste latifúndio, entre direitos e obrigações sociais.
No constrangimento físico e moral, a palavra violência tem como origem uma oposição ao direito, à justiça, pela força. Diante disso podemos analisar qualquer ato violento em múltiplos aspectos. E os danos são tão terríveis que deixam sequelas psicológicas de alta gravidade.
No que diz respeito ao crime, costumam relacioná-lo à pobreza, o que não encontra respaldo na verdade dos fatos. Tem algo de ilegítimo em matizes preconceituosos. Os agentes da criminalidade estão em toda parte, seja através de um carro luxuoso, como o Porsche que tirou a vida da advogada com um futuro brilhante pela frente, ou um simples canivete oxidado, utilizado pelo filho para matar a mãe porque esta se negou a dar dinheiro para suprir a droga do filho.
Que droga! Entretanto, é assim.
Nada de estereótipos de que só os favelados cometem delitos e infrações. E a forma de dizer que existem crimes organizados leva-nos a pensar também que é uma impropriedade. O crime por si só, tendo como resultante a multiplicidade de sua essência e trajetória, foge de qualquer ato que possa atribuir como organizado. É uma aberração, isso sim.
Um assalto, sequestro, roubo seguido de morte, um acidente de trânsito com condutores embriagados ou despreparados, homicídios dolosos, violência contra a mulher, crianças, doentes, idosos. A tão desencantada pedofilia. Não dá. Nos escombros das mazelas, entre os sobreviventes, os danos morais que não podemos subjetivamente avaliar. Por questões diversas, casos há que são irreversíveis. Quem gostaria de ser vítima de uma arma de fogo apontada para a sua cabeça, na iminência de perder a vida?
Por outro lado, e os agentes da política quando convidados pelo comando dominante do poder público para prestar relevantes serviços em suas respectivas pastas e não o fazem? Também incorrem em atos terríveis de violência. Esquecem de suas responsabilidade das quais são revestidos e, de forma espúria e desonrada, deixam-se levar pela cultura da propina, já que no exemplo dos acontecimentos, o próprio Ministério dos Transportes informou que será instituída uma comissão de sindicância investigativa para apurar as supostas irregularidades detectadas nos dias de hoje. Supostas irregularidades? E há gente do PT envolvida nos escândalos.
E o que causa revolta é a explicação dos acusados pelas vias da baixaria. Como se estivessem lidando com pessoas desprovidas de inteligência, tentam justificar na maior que, em face dos bilhões de reais rolantes nos projetos e obras pelas desonras do governo, as quantias incorporadas nas irregularidades não podem ser levadas a sério em nível de desrespeito à coisa pública.
De jeito algum. No conjunto, trata-se de uma pequena parcela. Pouca monta, quase nada. Cuidam de quantificar quanto é que se pode ou não estar em desalinho para com o ordenamento jurídico a que estão sujeitos. Roubar pouco pode. É o que se depreende. Nos lucros e dividendos, três fazendas, total de cinco mil hectares; casa de três milhões e meio de reais, vários milhões de reais espalhados por todo o Brasil se sacolejando através de propinas em falsas licitações. Enfim, bagatelas.
No imaginário social da política, furtar uma galinha é possível e passável. Um projeto de avicultura, não. É o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) da Dilma na mídia e no cenário nacional. São denúncias de superfaturamento e irregularidades em obras muitas das quais inacabadas e possivelmente jamais o serão, o que gerou o afastamento de funcionários da cúpula da pasta e a demissão do ex-ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR), acarretando sérias mudanças nas regras para a indicação não só do diretor-geral, mas de outros membros nos diversos escalões.
Um abacaxi para o Diário Oficial da União. Não sobrou quase ninguém com poder de mando para eximir-se do pecado e contar a história Tintim por tintim. Bem a propósito, uma zorra total. O que diria Salomé, de Passo Fundo, em aconselhamento, à presidenta Dilma Rousseff? Barbaridade, tchê!
Não obstante as teses equivocadas acerca da criminalidade urbana violenta no Brasil, esses conflitos a envolver as irregularidades nas licitações e propinas com achaques, levam-nos não só à indignação, mas a outras discussões de diversos níveis, porquanto geram violência em cadeia, se bem que sem cadeia no respeitante ao sistema prisional.
Ultrapassam a compreensão humana, haja vista que tais crimes nas esferas oficiais inviabilizam outros segmentos administrativos que precisam ser movimentados a toque de caixa, com urgência, e de preferência digitalizados, sem a torpeza dos cinco dedos.
Do jeito que está, salvação não há. É só patifaria o que estamos assistindo.
LUIZ GONZAGA FENENELON NEGRINHO é advogado (luizgfnegrinho@gmail.com).