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Opinião

“Simplifique, estúpido!”

“A perfeição não é alcançada quando já não há mais nada para adicionar, mas quando já não há mais nada que se possa retirar.” – Antoine de Saint-Exupéry
“Simplicidade é o último grau de sofisticação.” – Leonardo da Vinci
Estas máximas refletem bem a proposição de Ockham, filósofo inglês e frade franciscano nascido em vilarejo do mesmo nome, em 1275, na Inglaterra, segundo a qual, “a solução correta para uma questão é quase sempre a mais simples possível”. Embora Aristóteles e outros filósofos e pensadores já o tivessem precedido na teorização sobre o tema, foi Guilherme de Ockham quem o difundiu de forma mais efetiva, sendo-lhe atribuída a autoria, consagrada modernamente pela expressão ‘A Navalha de Ockham’ (com variação para Occam).

‘Navalha’, pela analogia com este instrumento, para cortar os excessos que não contribuem em nada para o resultado almejado. O desenvolvimento de tal ideia teve vários desdobramentos nos campos das ciências, da filosofia e da religião, servindo de base para a criação do método científico e para a explicação, de forma racional, de fenômenos naturais, tais como a chuva, as marés, os terremotos e tantos outros, antes atribuídos à vontade de Deus.

Na condição de religioso franciscano, ao excluir a hipótese de Deus, em plena Idade Média, para explicar tais ocorrências, isso quase lhe custou a vida, em uma época em que a igreja detinha tal monopólio. De forma singela, observa-se este princípio, por exemplo, quando se afirma que o caminho mais curto entre dois pontos é uma reta, e, até mesmo, quando se adverte alguém a ‘não inventar’ e fazer bem o ‘feijão com arroz’ para executar corretamente e com sucesso determinada tarefa.

Ao longo da história, a “Navalha de Ockham” tem sido usada de diversas formas, tais como na escolha da teoria do eletromagnetismo, de James Maxwell, como princípio matemático para definir o conceito de sequência aleatória, criando a área que ficou conhecida como complexidade de Kolmogorov, bem como no chamado princípio KISS, Keep It Simple, Stupid , ou , em português, “simplifique, estúpido”, uma vulgarização da máxima de Albert Einstein de que “tudo deve ser feito da forma mais simples possível, mas não mais simples que isso” e, até mesmo, na literatura: “Escrever é cortar palavras”, os excessos, segundo Carlos Drummond de Andrade.

Independentemente disso, faz-se necessário observar que estas afirmações não significam um reducionismo ou simplismo, em que, invariavelmente, a explicação mais simples sempre é a correta, mas, sim, que a explicação mais simples dentre as demais que efetivamente explicam os observáveis deve ser a preferida em detrimento das outras.

No campo das ciências humanas, temos a teoria das necessidades básicas humanas de Maslow, fundador e principal exponente da psicologia humanista, que se fundamenta na existência de uma série de necessidades comuns a todos os indivíduos e se encontram organizadas das mais urgentes até as menos urgentes, cuja representação gráfica desta hierarquia é feita através de uma pirâmide, popularmente conhecida como pirâmide de Maslow.

Na base da estrutura se encontram as necessidades mais vitais e prioritárias para a sobrevivência biológica (comida, água, sexo, sono…). Subindo na escala, encontramos, pela ordem, as necessidades de segurança (segurança física, do emprego, da saúde, da propriedade…), amor/relacionamento (amizade, família, intimidade sexual…), estima (autoestima, confiança, respeito dos outros, respeito aos outros…) e, no topo, aquelas de menor urgência e que estão ligadas à realização pessoal (moralidade, criatividade, espontaneidade, ausência de preconceitos…).

À medida em que as necessidades inferiores são supridas, prossegue o indivíduo na busca de satisfação e realização nas superiores.
Na fala de Fátima Servián Franco (Em “A teoria das necessidades humanas de Maslow”), à qual aderimos, “A sociedade de consumo causou profundas mudanças culturais, as quais modificaram o conteúdo, os termos e os conceitos dos desejos naturais do ser humano. Hoje em dia, ao contrário do que diz a teoria das necessidades humanas, parece que só estamos preocupados em ter, em acumular bens e serviços.

Por outro lado, as dimensões mais existenciais perderam a vigência, juntamente com os valores que foram, antigamente, a base das relações sociais e a pedra angular de diferentes culturas. Por isso é necessário rever e voltar a classificar a noção de necessidade atualmente”.

Vivemos tempos estranhos em que a tentativa de subversão dos valores básicos e universais, por todos os meios possíveis e de forma absolutista, com amplo apoio da patuleia ignara e principalmente da “intelligentsia” – penso que “burrittsia” seria mais adequado -, busca inverter a pirâmide de necessidades do indivíduo e, por extensão, da sociedade, colocando-a de ponta-cabeça, o que é, sob qualquer ponto de vista, insustentável.

Finalizando, em poucas palavras, simples assim: “O verdadeiro progresso social não consiste em aumentar as necessidades, mas em reduzi-las voluntariamente; porém, para isso é preciso sermos humildes”. – Mahatma Gandhi
“Deus fez o homem reto, mas eles se meteram em muitos extravios”. – Eclesiastes
Saúde e paz a todos!

WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA (@washingtontomedesousa), bacharel em Direito, ex-diretor da Justiça do Trabalho em Passos, escreve quinzenalmente às quartas, nesta coluna

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