WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA
Lei de Murphy, submarino afundado e outras fatalidades
“Não há nada tão ruim que não possa piorar” (máxima da Lei de Murphy)
Com certeza, todos já experimentamos, em algum momento de nossas vidas, a ação e os efeitos desta tenebrosa lei, provavelmente naquela conjuntura em que tudo já está muito ruim e, aí, você pensa que nada de pior pode acontecer… e acontece.
Ninguém tem controle de todas as variáveis de seu próprio destino. Arriscaria até a dizer que não temos controle sobre quase nada, por mais seguros que sejamos ou estejamos. A qualquer momento, algo totalmente inesperado pode nos surpreender. Vejam só o caso do atual conflito entre Rússia e Ucrânia. Quem diria que a tropa de aluguel (Grupo Wagner) contratada pela Rússia para lutar contra os ucranianos iria se amotinar e ameaçar invadir Moscou? A ‘casa quase caiu’ para o Putin há poucos dias. Se, sem provocação, o inusitado já acontece, ainda mais quando, de alguma forma, cooperamos para tal.
Conspirando contra nós mesmos – A queda
Lembro-me de personagem que, altas horas da noite, chegando de viagem à sua residência, no segundo andar de um prédio, em noite chuvosa, passa, antes, por um carrinho de cachorro-quente e compra um sanduiche para comer em casa. Após comer a pequena refeição, resolve atirar os restos e a embalagem na lixeira externa do edifício, que ficava na rua. Dirige-se, então, à sacada de seu apartamento, piso de granito liso, molhado pela chuva fina que caía, e lança o pacote de lixo em direção à lixeira.
No balanço do movimento, escorrega no piso molhado, desequilibra-se no parapeito e cai dois andares abaixo, em direção ao contêiner de lixo (sorte não ter caído dentro!). Acorda algum tempo depois, corpo estirado na calçada, rodeado por socorristas do Samu e pelos vizinhos. Ainda atordoado, sem se dar muita conta do que estava ocorrendo, sente a ausência de um de seus braços.
É que, na queda, ao bater na cerca de proteção do prédio, este membro ficou praticamente separado de seu corpo, preso apenas pelos ligamentos. Sobreviveu. Não perdeu o braço, mas teve que usar uma estrutura de metal para sustentá-lo, cheia de hastes e de pinos que o atravessavam, por um bom tempo, até a sua recuperação.
Conspirando contra nós mesmos – A implosão
Fato recente, a tragédia do minissubmarino Titan. Projetado para submergir até à profundidade de 1,3 mil metros, desceu a 4 mil metros para visita turística ao naufragado Titanic (semelhança até no nome). Levava a bordo dois tripulantes e três passageiros.
É a famosa “tragédia anunciada”, resultando na implosão do submergível e morte de todos a bordo. Advertências não faltaram, inclusive de ex-diretor da empresa proprietária do submarino, demitido justamente por alertar para tal perigo na sua utilização fora do limite para o qual fora projetado.
“Eu era feliz e não sabia”
Quem já não disse essa frase, quem já não viveu uma situação, ou encontrava-se em uma condição, em que se julgava insatisfeito, infeliz e, por vontade própria ou necessidade, buscando se livrar dela, meteu-se em outra pior? Depois, muitas vezes, bate o arrependimento. Mas aí já é tarde e quase nunca é possível, ao menos, voltar ao estado anterior. Isso ocorre muito em relacionamentos amorosos rompidos, na troca de parceiros, em separação de casais, na vida profissional, em quase todas os aspectos e circunstâncias da vida e, até, na política.
Nesta sociedade imediatista em que nos tornamos e vivemos, em que tudo se torna objeto de consumo rápido e descartável, necessitamos investir e trabalhar mais nas coisas ordinárias do nosso cotidiano, nos nossos relacionamentos e nas coisas que nos apresentam obstáculos, antes de as abandonarmos aos primeiros sinais de dificuldade e partirmos para outra opção aparentemente melhor, como resposta aos nossos problemas, sem exaurirmos, antes, as possibilidades de solução.
Uma vida melhor e mais justa para nós e para todos não nos chega gratuitamente. É uma construção pessoal e coletiva, que demanda tempo (a vida toda), compromisso com princípios éticos e com o outro, em trabalho árduo, diuturno e incessante.
Soluções fáceis e mirabolantes não existem – e, se adotadas, com certeza, vão atrair as fatalidades da Lei de Murphy (sobre você e sobre outros). Portanto, “…não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos”.
Saúde e paz a todos!
WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA (@washingtontomedesousa), bacharel em Direito, ex-diretor da Justiça do Trabalho em Passos, escreve quinzenalmente às quartas, nesta coluna