29 de maio de 2023
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho
Sem medo de errar, posso dizer que tudo está pela hora da morte. Ainda há pouco fui abastecer o carro, quase caí pra trás. E não foi tanto assim além do que permite enfrentar a costumeira viagem para Formiga e trajeto trabalho/casa e vice-versa.
Quanto vale viver? Não sei ao certo, mas é caro. Tudo pela hora da morte. Aliás, instalaram uma agência funerária ao lado de um predinho que construí na Cidade das Areias Brancas.
A princípio, não gostei. Depois, pensando bem, todos têm direito a viver e a prantear os seus, mesmo que pela simbologia e traslado da morte. Ainda que diante da espetacularização que fazem por aí nessa área supinamente comercial. E desde que não perturbem, deixo passar.
E por falar em custos, gastos e despesas, sou pego de surpresa com o que gastou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua comitiva em viagem à China e aos Emirados Árabes. Por tudo, somaram R$6,6 milhões com estadia de 12 a 15 de abril. A princípio, um exagero. Para que tanto assim? Mas é preciso reavaliar a capacidade do retorno, em especial no que tange aos investimentos futuros. Avaliar, em nível de interesse nacional, o que de retorno tais viagens poderão acarretar a curto, médio e longo prazo para os cofres públicos.
Perguntam-me o que acho e vou logo dizendo: número estratosférico para um país que precisa se refazer sob o ponto de vista econômico, fiscal, social e, sobretudo, moral. Onde já se viu gastar tanto dinheiro assim com hospedagem, aluguel de carros, intérpretes, entre outros, que nem vêm ao caso? Mas é preciso sopesar, mesmo porque não dá para fazer omelete sem quebrar os ovos.
Nunca fui chegado às babaquices e farofas de Bolsonaro, que também tinha suas loucuras e exorbitâncias, mas torrar R$130 mil num coquetel na embaixada brasileira na China de Xi Jinping não é um negócio da china – conotação de levar-se alguma vantagem. É dinheiro pra dedéu.
Depois de tudo, fui tomar pulso da comitiva e sua reengenharia de acompanhamento político e diplomático. Foram 73 pessoas que acompanharam Lula nas viagens, valendo dizer que, por cabeça, a média de custo foi de R$90 mil. É pouco, é muito? Confesso, não sei dizer. Fico naquela de preocupar-me com os gastos básicos, até certo ponto sofríveis, a que me submeto no dia a dia. Nada fácil e nem um pouco módico para um modesto cidadão brasileiro.
Antes que impiedosamente me ataquem por tachar como abusiva essa gastança, vou logo dizendo: nada a ver. Se por uma causa justa, tomo gasto necessário como investimento, o que pode vir a ser o caso.
Como se fora ontem, o saudoso amigo Murilo Andrade pregava ensinamento quanto a diferenciar a expressão “gastar tempo” e “perder tempo”. Aprendi com ele. No que submeto à apreciação dos caros leitores a questão das viagens do presidente brasileiro, se a memória não falha, ao todo até aqui (09/05), foram oito países. Neste caso, há de se adentrar no mérito avaliativo dos verbos gastar e investir.
Quem sabe não é premente a necessidade de fazer o Brasil retomar as rédeas e o timão no cenário mundial, o que não deixa de ser algo positivo? Até então, nos últimos quatro anos, nisso posso dizer sem medo de cometer deslize, zero. Brasil sem o pendão da esperança. Um fracasso. A não ser o caso das joias personalizadas e criminalizadas.
No entanto, gostaria de lembrar a esbanjadores oficiais. Não atropelem o orçamento e o bom senso. O sensato é que se faça visitas oficiais, mas lembrar que contribuintes sofrem a duras penas com impostos que diuturnamente lhes são impostos sem a mínima complacência.
Ora, pois. Se pago o IPVA, que não é barato, por que tenho que pagar pedágios, já que o dinheiro arrecadado com esse imposto tem dois fins: a metade vai para os cofres municipais e a outra parte é destinada ao governo estadual para manutenção e recuperação de rodovias? Na pressuposição de carga tributária, uma escorchante bitributação.
E antes que pensem que só nas bombas de combustíveis e nos pedágios da vida residem a tragédia, não. Terrificante alarde há de ser feito para tristeza e preocupação de muitos em outro hemisfério. Também se paga e muito para morrer, custo operacional nem sempre com ato de bravura sistêmica nas bolsas de valores dos devidos cuidados.
Cá pra nós, por ato de consequência, fato extremamente penoso para os que ficam. No distributivo, pelas vias judiciais sucessórias, o somatório dá lugar à divisão de bens, haveres e muita confusão entre os herdeiros. Ou será diferente?
Para os que partem, o que deveria ser tão só a dor da saudade, o processo se estabelece na comodidade daquilo que se plantou e deixou para o que seria retomada do crescimento existencial. Mas não. No lastimável, não é bem assim.
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)