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Opinião

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

Dr. José Emboaba

A morte do amigo e vizinho José Emboaba (sábado, 22-04) chocou a comunidade de Formiga. Dias antes estive com ele na empresa Pneus Pinheiro, ao lado do escritório. E amiúde, pela manhã e à tardinha, via-o passear com seu bichinho de estimação, ao que parece um yorkishire.

O corpanzil de Emboaba e o bermudão pouco acessível ao corpo destoavam do pequeno animal. E a gente se acostumou com as imagens, as cenas, os personagens. Enfim, o conjunto assimétrico proporcionava e produzia um espetáculo à parte. A saudade agora toma assento.

Profissional da ala médica, generalista por assim dizer, Dr. José Emboaba Guimarães Pernambuco não se dava a atender em profusão aos ricos e abastados. No comum das vezes atendia aos economicamente mais pobres. Quem pagava era atendido, quem não podia pagar não ficava de fora. E lá estava o médico humano, inteligente, perspicaz, culto, comedidas palavras, pronto para aviar o que melhor convinha a seus pacientes. Era bom no que fazia: dar conforto a quem desse ingrediente precisasse.

Numa de minhas idas ao seu consultório, ao final do atendimento, ao perguntar quanto era, abriu uma gaveta, e disse: – “Coloque um tanto aí, é para ajudar uma senhora”. Na hora lembrei-me do saudoso Dr. Lamartine, dentista da hora, mesmo estilo, pouco afeito a arrancar o coro de quem quer que fosse. Como fazem falta na comunidade humana – e muito – pessoas assim.

Ao tomar conhecimento do motivo de sua morte pus-me a pensar longamente, tomado de calafrios: será ato de coragem, desespero ou fraqueza atentar contra a própria vida, essa de pôr termo à existência – o perturbador suicídio?

Não sou da ala médica especializada, pelo que desagradável a intromissão sobre tema tão sombrio quanto catastrófico. Presentes no caso o conflito psicológico de decidir entre a vida e a morte. Tudo muito complexo e deve ser analisado por autoridades da ciência médica. E atacar de frente o problema eminentemente preocupante pelos números havidos no meio social.

E não há se falar em casos isolados e nem em escassez de probabilidades de dramas. Números frios (desculpem-me pelo trocadilho) falam por si. Os casos se sucedem e ao que tudo indica podem ser trabalhados e evitados na medida do possível. Dias antes de Dr. Emboaba, uma linda garota de 28 anos, não se sabe o motivo, também se matou nas Areias Brancas. Volta-se a dizer: não se trata de casos tomados à parte.

Engana-se, pois, quem julga que o também chamado autoextermínio incomoda apenas e tão somente pela ausência de quem atenta contra a própria vida. As consequência são terríveis para os que ficam: familiares, amigos, companheiros – a sociedade como um todo.

Daí a necessidade de se estabelecer atenção aos casos de suicídio e analisar a afinidade de tais situações com os casos de transtornos mentais e outros ligados a outros fatores. Segundo a ciência: 90% dos casos têm ligação, sim, com os problemas mentais.

Ouço por aí um e outro dizerem que a vida não está boa, que está difícil, não dá para suportar os trancos a que estão submetidos. Ora, pois. Extraindo as variáveis enunciadas, casos típicos de problemas mentais, há de se perguntar quem não carrega consigo uma enormidade de contratempos e embaraços, a ponto de querer chutar o balde e atirar longe a toalha? São problemas conjugais, divórcio, desemprego, dificuldades financeiras, saúde abalada etc.

Se a coisa não anda boa por aqui, quem garante que do outro lado estará melhor? Não se atendo ao ato e fato de se acreditar que a vida é dádiva; não nos pertence. É assim que penso. Sem entrar nessa de histórico e perfil do suicídio, infinitamente melhor viver a vida como nos foi ofertada para ser vivida com coragem, tolerância, altivez e muita alegria.

Já dizia o grande romancista Érico Veríssimo: “A vida vale a pena ser vivida apesar de todas suas dificuldades, tristezas e momentos de dor e angústia”. E o aclamado escritor brasileiro não para aí: “O mais importante sobre a face da terra é a pessoa humana”. E encerra o autor de “Olhai os Lírios do Campo”, obra-prima do gaúcho da cidade de Cruz Alta, do belo estado do Rio

Grande do Sul: “E surpreender o homem no ato de viver é uma das coisas mais fantásticas que existe”.
Entretanto, se houver algo mais grave e preocupante, procure ajuda médica. Não dê mole. O fenômeno é complexo e envolve uma série de fatores. Viva a vida, com inteligência, sabedoria, crença e fé. A preservação da vida é fundamental.

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinhogmail@mail.com)

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