GILBERTO ALMEIDA
“Ouçam José Figueiredo”
“ Devo dizer que a intenção de apontar esta possível imperfeição da licitação pretendida é antes de tudo um alerta que no final das contas protegeria Sua Excelência, embora não seja isto de minha competência. Mas uma análise mais comedida e sem exasperação, poderia, quem sabe, evitar passivos judiciais ao nosso portentoso alcaide”. Minha coluna “Empatia Contratual” do dia 10/03/2022.
Eu tive uma oportunidade de aprendizado, rara em minha vida, que foi a de atuar como secretário do saudoso Prefeito José Figueiredo. Naquele tempo eu tinha 30 anos e ele 80 e fui privilegiado por ter o convívio com um homem sábio, decente e apaixonado por Passos. Com o meu topete dos 30 anos, minha postura inicial quando críticas aconteciam, era a de responder de forma fulminante na tentativa de desconstruir os críticos.
E fica aqui uma das preciosas lições do inesquecível “Zé Magro”. Certo dia, me encontrando sozinho com ele no gabinete, Figueiredo me fitou fixamente nos olhos e disse: “o tempo e a velhice me ensinaram uma coisa que me ajuda muito e que se você conseguir entender vai te fazer crescer.
Quando recebo uma crítica, minha primeira reação é de ficar chateado e querer responder, mas aprendi a não ouvir as palavras duras e as vezes até ofensivas e tento entender o que estão querendo dizer e isto ajuda muito. Fique sabendo que grande parte das pessoas à sua volta, não são capazes de corrigir nada e apenas elogiam e isto é muito perigoso e faz a gente errar e não corrigir falhas”.
Nesta minúscula quinta de papel, neste bilhete quinzenal que comecei a publicar há mais de 30 anos, tenho sempre procurado oferecer uma visão crítica do cenário político em seus vários escalões, muitas vezes fazendo duras objeções a atos de nossos gestores públicos, mas sem jamais perder o senso de justiça e nunca com intenção de denegrir ou diminuir quem quer que seja. Muito menos tenho a pretensão de ser o dono da verdade ou ofender pessoas que embora na visão deste parco articulista podem estar cometendo erros.
Foi assim, e uma pequena frase no início deste texto pode mostrar, que há anos venho apontando severas falhas nos processos de credenciamento para publicidade institucional da Prefeitura de Passos. Cheguei inclusive a conversar com o líder do Prefeito na Câmara que naquela ocasião permitia diálogo comigo, o que hoje não ocorre mais, mostrando o passivo judicial que poderia causar.
No entanto, e aqui inauguro mais uma severa crítica ao Excelentíssimo Senhor Doutor Prefeito, a obsessão midiática que preside as ações de seu governo não lhe permitiu ouvir, fazendo-o persistir no erro. É muito mais fácil relativizar as críticas, classificá-las como verrinas.
Agora o Ministério Público Estadual (ainda não entendi bem porque não denunciaram na promotoria de Passos) abre inquérito apontando o gritante maltrato à Lei para realizar tal credenciamento, o que, além de desdobramentos complexos e aprofundamento da investigação de tudo que representou aos cofres públicos os contratos dele originados, dará, no mínimo uma lancinante dor de cabeça.
Mas, embora o governo municipal se aproxime de 60% de seu mandato, é sempre tempo de rever e corrigir rumos. Talvez o ponto central para uma retomada, seja exatamente fazer uma autocrítica do que chamei de obsessão midiática e começar a tratar com mais seriedade os problemas que parecem ter solução na ilusão dos vídeos, muitos deles que beiram ao ridículo.
Passos não aguenta mais tanta inépcia administrativa e parece que Sua Excelência o Senhor Doutor Prefeito Diego Rodrigo de Oliveira está convencido que a atuação exitosa para trazer a Heineken, outorgou-lhe uma popularidade indestrutível.
Não Senhor Doutor Prefeito, as pessoas estão querendo saber de coisas importantes que lhes afetam muito mais! Elas estão agora observando que toda aquela encenação ocorrida nas redes sociais, mostrando a atuação efetiva da Prefeitura nos mutirões contra a Dengue, não passavam de uma grande balela e hoje amargamos uma posição vergonhosa no cenário estadual, chegando em certo momento a ter mais casos de dengue do que a capital do Estado.
Passos não atingiu a meta estabelecida pelas autoridades de Saúde, mostrando uma realidade invertida do que se colocava na mídia. O que as pessoas querem é ter um atendimento à saúde decente e não apenas anunciar mais 5 PSF’s, diga se de passagem necessários, enquanto os existentes estão dilacerados e alguns deles, segundo relatos, sequer contam com um médico.
As pessoas querem ser respeitadas na saúde e denúncias graves como aquelas feitas pelo médico Dr Antônio Carlos Silva, a quem conheço e atesto sua seriedade, sejam usadas para corrigir as seríssimas falhas apontadas. Tem gente morrendo de dengue e de falta de um atendimento melhor do Sistema Municipal de Saúde e isso, por si só, não permite que a pirotecnia virtual praticada pela conquista da Heineken, encubra as mazelas do governo.
As pessoas, por exemplo da Rua Varginha anunciada com pompa e gala pelo Prefeito que seria a primeira a ser pavimentada com recursos do Deputado Emidinho Madeira, querem ver a pavimentação concretizada, já que os recursos estão em conta há anos e o governo municipal não consegue gastar.
Todos querem que neste mundo violento e cheio de tensões, que a política de Saúde mental seja aperfeiçoada e ficamos todos indignados quando vemos desídia da Prefeitura permitir que a reforma do Hospital Otto Krakauer, bancada com recursos do judiciário e MP, se torne dinheiro desperdiçado, jogado levianamente no lixo, porque nenhuma solução foi adotada.
As pessoas não se importam de aturar, como é o meu caso, Sua Excelência a se exibir em extravagantes vídeos, mas gostariam que a pavimentação das 28 ruas deixassem de ser promessa e brotasse, no governo, alguém competente para fazer a obra andar e principalmente explicar os controversos e numerosos aditivos contratuais, sem que a obra evolua e a cidade continue a amargar com problemas urbanísticos que nunca têm fim.
Tente imaginar que perfeição pode ser construída nas quimeras das redes sociais, mas geram repulsa quando as pessoas constatam que o cenário real é imperfeito e a ira nasce quando a saúde não funciona e Passos se torna referência negativa em Dengue, quando os buracos nas vias públicas, a lama e a poeira tornam a cidade feia e intransitável, enfim, quando os serviços públicos municipais, as licitações e contratos estão deixando muito a desejar, mesmo existindo recursos de emendas depositados em conta e a Prefeitura brincando de Banco imobiliário, enquanto arranjos políticos são tratados nos porões do Cortiço do Rosário.
O Diego que conheci era muito diferente. Um moço simples, estudioso e bem-intencionado não é congruente com Sua Excelência o Doutor prefeito que, com arrogância e empáfia interpreta alertas como críticas maliciosas e acaba se perdendo, vislumbrado pelo poder.
E a propósito do inacreditável vídeo pegando porquinhos, fica mais uma vez um alerta: tome cuidado para não chafurdar na lama com os pobres suínos ou, sendo fiel à historinha infantil, lembre-se que o Lobo Mau foi rendido pelos caçadores.
Afinal a conta sempre chega!
GILBERTO BATISTA DE ALMEIDA é engenheiro eletricista e ex-político, escreve quinzenalmente às quintas nesta coluna