WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA
Autofagia verborrágica II
Diz o dito popular que “o peixe morre pela boca” e, na mesma linha, o provérbio que afirma que “no muito falar não falta transgressão”.
E o Brasil, país sério?, vem se repetindo e se aperfeiçoando nisso, cada vez mais, como versão piorada de si mesmo. Até quando?
Tempos atrás escrevi artigo sobre o tema, quando estava em alta (ou em baixa) determinado ministro do Supremo Tribunal Federal pela sua aparição diuturna nas mídias, opinando sobre tudo e sobre todos, de forma incontida, cujo nome retorna à evidência agora, pela boca do ex-juiz e atual senador Sérgio Moro, em suposta ilação (pleonasmo necessário, amigo leitor) de ilícito, como noticiado pela imprensa: “Procuradoria Geral da República pede condenação à prisão de Sergio Moro por dizer que Gilmar Mendes vende habeas corpus…”.
Relembremos: “Um certo ministro do Supremo tem se tornado uma quase unanimidade nacional como figura antipática, odiada e execrada pelas posições e decisões que vem tomando, sobretudo as que beneficiam com ‘habeas corpus’, à farta, personagens da política e do meio empresarial acusados de graves crimes (digo quase unanimidade por que sempre há quem o aplauda e, como já dizia o impagável Nelson Rodrigues, “toda unanimidade é burra.” (que falta ele está fazendo nestes dias, com suas tiradas marcantes). Certamente, com sua veia sarcástica, irreverente e contundente, estaria amargando processo ou cadeia, por ordem monocrática de entidade superior. Entretanto, não somente as decisões daquele ministro têm chamado atenção.
A sua eloquência dentro e fora daquele tribunal ao fundamentar os seus votos, ao criticar os dos demais ministros que dele divergem e ao emitir seus pontos de vista sobre a conturbada cena política brasileira, também o colocam na contramão dos anseios do povo, da opinião pública, que deseja justiça, mas não a identifica nas decisões e opiniões desse magistrado”.
O mesmo se repetiu, em inúmeras manifestações públicas do então, à época, presidente Bolsonaro, nas suas falas incontidas, irrefletidas e muitas vezes desrespeitosas e agressivas com seus interlocutores, o que, sem sombra de dúvidas, ajudou a sepultar a sua reeleição – opinião quase unânime, até mesmo entre os seus eleitores.
Tragédia anunciada, o atual presidente Lula segue no mesmo caminho verborrágico incontido (pleonasmo mais uma vez necessário, amigo leitor), não se distanciando dos demais neste aspecto, causando estragos de várias ordens com as suas falas distanciadas, muitas vezes, da verdade e do bom senso.
Diz o texto sagrado que o Diabo é o pai da mentira. Parece que encontrou no Brasil um sem-número de filhos, em todos os níveis, a começar pelos “lá de cima”.
Nosso país está a navegar, uma vez mais, e, como sempre, repetindo-se, em águas revoltas e turbulentas, nas quais ventos impetuosos e inclementes da criminalidade e das incertezas políticas e econômicas em todos os níveis batem contra a embarcação, ameaçando naufragá-la.
Urge a retomada da sensatez aos que nos dirigem, sobretudo à nossa corte superior de justiça, se não pela unanimidade, ao menos, preferencialmente, pela via colegiada, por sua maioria, a servir de exemplo (até mesmo e principalmente aos demais Poderes) de condução democrática da coisa pública e não de modelo monocrático e autoritário, a apontar novos e serenos rumos de superação do ‘status quo’, para que não nos tornemos a ‘nau dos insensatos’, a ser tomada de assalto pelos marujos e pelas circunstâncias.
Saúde e paz a todos!
WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA, bacharel em Direito, ex-diretor da Justiça do Trabalho em Passos, escreve quinzenalmente às quartas, nesta coluna