Opinião

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1 de fevereiro de 2024

Estímulo à leitura sempre

Dia desses, amigos me diziam de suas preocupações com os filhos adolescentes em relação ao uso excessivo do celular. Eles estavam meio perdidos e não sabiam bem o que fazer com o vício dos filhos. Imagino que as escolas, os professores e os pais, em geral, estejam experimentando situações dessa natureza.
Em todo caso, aproveitei para lhes dizer que nadar contra a corrente da tecnologia me soava algo inglório, já que os avanços na área são um fato cada vez mais presente na vida de todos nós. A questão reside em ajudar os filhos a encontrar as doses de equilíbrio no uso das ferramentas.
Sim. Não é fácil para ninguém alcançar esses níveis de autocontrole. Muitas vezes, os próprios adultos não o conseguem. Mas o equilíbrio entre o que é positivo e, por outro ângulo, negativo representa um objetivo a ser atingido em praticamente tudo que nos envolve.
Se o incremento das ferramentas tecnológicas é maravilhoso e tão útil em diversos setores, pode também acarretar os males da ansiedade, superficialidade, desconcentração e falta de interesse dos adolescentes para o desenvolvimento de atos mais profundos, como os da leitura e da escrita.
Embora as informações estejam, hoje, a meros cliques nas telas virtuais, o verdadeiro conhecimento dependerá, no entanto, da imersão nos livros e nos estudos. Só assim se poderá desenvolver melhor o pensamento analítico, a compreensão de textos mais longos, a memória e a capacidade de escrever com um mínimo de clareza e correção.
Lembro-me, a propósito de pais preocupados, professores e escolas, de um livro que li há anos e que parece adequado às questões que ora abordo. Na época, cá publiquei o texto que segue abaixo.
Num desses momentos em que adentro uma livraria em busca de um livro específico, ou para correr os olhos em algum romance apto a despertar o interesse dos que dependem de ler – como é o meu caso −, eis que, na segunda hipótese, deparo com uma obra chamada “O clube do livro – ser leitor – que diferença faz?”
Curioso pelo título, começo a folheá-lo e a me entregar às páginas iniciais. Daí à admiração foi um passo, o que me fez adquiri-lo logo em seguida.
Pode tal obra ser pedagógica, didática, ou mesmo um ensaio. No índice já se percebe que contém relatos fundamentados na importância de se formar um universo cada vez maior de leitores.
A autora é Luzia de Maria, doutora em letras pela USP, professora da Universidade Federal Fluminense e autora de quinze livros de gêneros diferentes. Experiente professora de longa carreira, o título “O clube do livro” se refere a uma ideia sua em 1982, quando trabalhava na escola pública Nilo Peçanha, em Niterói (RJ).
Foi uma iniciativa extracurricular, em que ela reunia os alunos inscritos para os estimular a ler e comentar o que liam durante encontros semanais de quatro horas. Como a biblioteca da Nilo Peçanha não dispunha de muitas obras, ela mesma chegava para os encontros com pilhas de livros de seu acervo particular e os distribuía a critério dos próprios alunos.
“As leituras eram absolutamente livres: eu chegava com bolsas carregadas de romances, contos, crônicas, poesias, ensaios. Apresentava tudo a eles para escolherem o que ler, e os dias seguintes eram recheados de comentários, perguntas, instigações, curiosidades, descobertas, deslumbramentos…”, diz a professora.
Todos os subsídios relativos à literatura também eram usados nas atividades, como resenhas sobre livros, entrevistas e artigos de autores publicados nos cadernos de cultura dos grandes jornais brasileiros.
No decorrer dos capítulos, há um item especial, em que alunos daquela época, hoje, profissionais bem-sucedidos, comentam suas experiências marcantes de entrega à leitura. Todos reconhecem a importância do trabalho de Luzia de Maria, todos continuam leitores. Eis o gratificante fruto daquele trabalho.
Mas, além das declarações de ex-alunos, a autora ainda nos expõe a amplo leque de argumentos a fim de tornar clara sua disposição de nos transmitir a paixão que nutre pelos livros.
Acrescenta, portanto, exemplos de textos realmente empolgantes, sugere romances, menciona autores, estabelece relações entre leitura e saúde cerebral, leitura e libertação do pensamento, fuga da indigência intelectual e acesso ao mundo das palavras escritas. Já, no derradeiro capítulo, traz ótima análise do percurso de Machado de Assis, de modo a revelar os panoramas da brilhante carreira desse gigante da literatura.
Reitere-se, por oportuno, que estatísticas recentes mantêm os brasileiros em patamares bastante insuficientes no que se tange a índices de leitura e escrita, o que torna ainda mais louváveis os esforços de Luzia de Maria em arquitetar excelentes pontos de vista sobre a importância de ler e para melhor performance ao escrever.
“O clube do livro – ser leitor – que diferença faz?” é, pois, ótimo guia para os professores e os pais que compreendem a importância das ideias tão bem expressas na referida obra.