GILBERTO ALMEIDA
A confissão do ódio
“No socialismo as intenções são melhores que os resultados, e no capitalismo os resultados melhores que as intenções” – Roberto Campos
Final de ano é tempo de reflexões e recordações. Mesmo não entendendo bem o porquê deste fenômeno, as pessoas , e eu também, tiram um tempo para analisar os acontecimentos, pensar naquilo que poderia ter sido feito diferente no ano que se encerra e por fim, aguçar a saudade daqueles que nos deixaram e hoje habitam o andar de cima.
Nesta época, a infinita saudade que sinto de meu pai Humberto de Almeida, mesmo presente em todos os instantes de minha vida, fica mais doída e fico a procurar, talvez nas estrelas, lembrar-me de seus ensinamentos e de tudo o que ele me mostrou em sua passagem entre nós.
Me lembrei dos meus tempos de engenharia, época que a esquerda festiva imperava no ambiente universitário, empolgando o coração sensível dos jovens a não se conformar com as injustiças sociais e a fome. Meu pai era deputado pela ARENA e eu, mesmo na proximidade apaixonada que tinha por ele, direcionava meus embrionários pensamentos políticos em direção contrária àquilo que ele defendia.
Com sabedoria ele sabia compreender meu momento e nunca se opôs a que eu participasse de algumas passeatas e até mesmo uma greve estudantil. Certa vez, nossas conversas se envolveram em direção à política e nunca me esquecerei de uma de suas lições que até hoje me servem de diretriz: Ao se referir à esquerda, ele calmamente me ensinou que toda aquele romântico discurso esquerdista, embalava a juventude mas que não resistia à realidade de quem tem o dever de administrar.
Ele também em seus tempos de estudante militou em hostes de esquerda, até descobrir que palavras bonitas, discursos apelativos mostrando inconformismo com as injustiças, não solucionavam os problemas e, ao contrário, ao assumir o poder, a esquerda cria multidões de dependentes do Estado que recebem migalhas enquanto desfrutam de grandes banquetes, se apresentando como generosos combatentes que vencerão a fome e as desigualdades, igualando a todos nivelando-os por baixo e com dependência umbilical do Estado assistencialista e totalitário.
O desenvolvimento econômico é completamente destruído, porque a iniciativa privada é considerada uma cruel predadora do extrato social e os empresários capitalistas selvagens que desejam explorar o suor dos trabalhadores. No aspecto político, todo o discurso de defesa da democracia se resume apenas à retórica e toda oportunidade de tolher liberdades e direitos humanos e a eliminação de uma imprensa livre, ponto central de uma democracia, é exercida de forma implacável criando um sistema de eternização no Poder pelo convencimento das massas agradecidas pelas migalhas que lhes são destinadas como se apenas isto bastasse.
A direita, por outro lado, ao combater a cartilha da esquerda, prima pelo incentivo ao desenvolvimento econômico e fazer, como dizia o ex ministro Delfim Neto, crescer o bolo, mas na hora da partilha, não distribuía corretamente tal crescimento, esquecendo completamente daqueles que compõe a base da pirâmide social.
Dizia meu querido pai, que estava por vir, um novo modelo onde o Estado intervisse menos na vida dos cidadãos, garantisse as liberdades e o desenvolvimento econômico oferecendo infraestrutura necessária, mas que fosse um Estado interventor para minorar as distorções sociais.
Até hoje, e meu pai se foi há 41 anos, muito pouco foi alcançado na busca de um modelo que garantisse estabilidade social com desenvolvimento no Brasil. A bem da verdade, nos jogaram nesta indesejável polarização política entre extremos que não serão a solução para nosso país.
Vivemos, isto sim, uma clara realidade de um governo que insiste em controlar massas pelo estômago, que pouco ou nada valoriza os vetores econômicos e que busca incessantemente aparelhar todos os segmentos da sociedade para tentar se eternizarem no Poder em uma pseudo democracia.
O atual presidente, Sr Luiz Silva, perdeu completamente a tenência de descortinar todo o conteúdo ideológico que carrega, muito diferente daquilo que apresentava quando candidato. Usa e abusa do estado e dos recursos públicos para garantir governabilidade, nomeia em outros poderes personagens cuja maior característica consiste em fazer parte de sua intimidade garantindo lealdade em detrimento de qualquer interesse nacional e passeia pelo mundo com sua histriônica esposa, privilegiando países governados por ditadores sanguinários, como se ali estivesse a fazer um estágio.
Enquanto isso, apesar de toda a maquiagem contábil e medidas de bombeiros apagando incêndio garantindo uma aparente estabilidade econômica, especialistas afirmam que os caminhos dos déficits bilionários nos conduzirão em breve a uma severa recessão quando não teremos mais reservas para acudir aqui ou acolá.
Mas fica, como se fosse um emblema para ratificar o que me lecionou meu saudoso pai, um fato pouco explorado pela imprensa quase toda cooptada: o discurso centrado no amor, na união e na paz vociferado pelo Sr Luiz Silva soa despudorado e obsceno, quando esse mesmo falastrão concede o indulto presidencial de final de ano, não contemplando a centenas de pessoas que nunca foram condenados pela justiça e que foram presos preventivamente (qual justificativa para 1 ano de prisão preventiva?). São verdadeiros presos políticos que não mereceram o que outros, muitos desses assassinos e traficantes receberam do presidente que escancarou todo o seu ódio e desejo de vingança que presidem suas ações.
Quanta saudade do Humberto de Almeida!
GILBERTO BATISTA DE ALMEIDA é engenheiro eletricista e ex-político, escreve quinzenalmente às quintas nesta coluna