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Opinião

GILBERTO ALMEIDA

“Prioridade, Senhor Prefeito!”

“A saúde pública está muito próxima à privada! ” – Jú Albuquerque
A Câmara Municipal de Passos anunciou a devolução de 5 milhões de reais para a Prefeitura. Cá do meu canto, fiquei imaginando uma possível destinação deste dinheiro que é uma cifra considerável.

Analisando o governo de Sua Excelência, o Senhor Doutor Prefeito Diego Rodrigo de Oliveira, não obstante a grande conquista da instalação da Heineken em Passos, podemos observar que são muitas as mazelas que nem mesmo a pirotecnia midiática conseguirá encobrir e que poderiam ser evitadas com organização, capacitação e planejamento e logicamente, investimento público.

O ponto central e que mais afeta a população como um todo, está exatamente nos problemas enfrentados pelo Sistema Municipal de Saúde. No cenário complexo da saúde pública, onde as necessidades básicas de cuidado e atendimento deveriam ser garantidas a todos os cidadãos, emerge uma realidade marcada por desafios significativos.

O acesso universal a serviços de saúde de qualidade, torna-se uma utopia para muitos que dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde (SUS). São profundos os problemas enfrentados pela população que não tem acesso a planos de saúde ou atendimento privado, destacando o sofrimento e as dificuldades que permeiam suas jornadas em busca de cuidados médicos essenciais.

A ausência de recursos adequados, a espera prolongada, a falta de medicamentos, o não atendimento a cirurgias eletivas e a desigualdade no acesso a especialistas são apenas alguns dos aspectos desafiadores dessa realidade, exigindo uma reflexão aprofundada sobre as soluções necessárias para garantir uma saúde digna a todos os cidadãos.

Procurei entender melhor os problemas enfrentados na saúde de Passos, me entrevistando com pessoas com experiência em Gestão de Saúde e especialização em Saúde Pública e também Técnicos com experiência em gestão de urgência e emergência a fim de trazer ao debate algumas medidas que, se adotadas, vão melhor o Sistema Municipal.

A começar pelo ponto nevrálgico que é a UPA, que hoje atende mais do que a sua capacidade instalada, por isso faz-se necessário revitalizar suas estruturas, modernizar os equipamentos, renovar o mobiliário, otimizar os fluxos de atendimento e investir em aspectos de humanização para os pacientes, acompanhantes e funcionários.

Alguns exemplos de ações urgentes que precisam ser realizadas: pintura da Unidade, climatização dos consultórios e áreas comuns, melhoria da estrutura dos exames laboratoriais, implantação de mais um aparelho de Raio-X, inclusão de mais exames complementares destinados ao atendimento de urgência, assim como a segurança no atendimento, além de merecer prioridade absoluta, não permitir faltar insumos e medicamentos o que sabemos ocorrer com certa frequência.

Há inúmeras reclamações sobre a necessidade de oferecer mais profissionais de medicina até mesmo para a supervisão e acompanhamento dos quintanistas de medicina que ali trabalham e que ainda não adquiriram plena capacidade para resolver problemas mais complexos.

O excesso de demanda na UPA, precisa também ser tratado, a começar na indicação de que o tempo máximo de permanência do paciente na UPA para elucidação diagnóstica e tratamento é de 24 horas e, estando indicada internação após esse período, o ponto crucial para otimização no atendimento aos pacientes que necessitam de transferência para Unidade hospitalar através do Susfácil, é a implementação de um protocolo de regulação de acesso e o treinamento e capacitação dos operadores do sistema Susfácil para que o preenchimento dos formulários eletrônicos que devem ser exatamente iguais aos prontuários médicos, sejam feitos com melhor qualidade, para análise e avaliação da condição clínica do paciente pela Central de Regulação de Alfenas e pela Santa Casa de Passos.

Outro ponto a ser considerado para aliviar a demanda da UPA, é a evolução dos atendimentos praticados nas UBS e ESFs regionalizadas, que suportariam todo o atendimento que não se enquadra em urgência e emergência. A falha no sistema que antigamente chamávamos de ambulatorial, ocasiona invariavelmente a procura por atendimento na UPA subvertendo todas as diretrizes do sistema.

Os recursos devolvidos pelo Legislativo são aplicados pelo Prefeito de forma discricionária, mas vendo tudo o que acontece hoje em Passos e a dor infinita de famílias que não podem esperar a letargia do sistema municipal, me encorajo a deixar aqui minha modesta sugestão.

A destruição da alegação de que faltam recursos para a Saúde pública no Brasil foi o único ponto positivo da cruel pandemia que enfrentamos: durante todo o tempo sobrou dinheiro público para todas as cidades, a ponto de sequer conseguirem gastar e devolveram recursos para a União. A pandemia nos ensinou que o que falta não é dinheiro, mas sim vontade política dos gestores nos mais diversos níveis de verdadeiramente darem prioridade na otimização das ações de Saúde.

Por isso, usar na Saúde os 5 milhões de receita extraorçamentária, seria apenas e tão somente demonstrar solidariedade deste governo até o momento tão frívolo, àqueles que correm até risco de perder a vida, pela inépcia e pela escolha equivocada de prioridades.

GILBERTO BATISTA DE ALMEIDA é engenheiro eletricista e ex-político, escreve quinzenalmente às quintas nesta coluna

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