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Opinião

WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA

Possuídos, possessos e possuidores

Você tem valor como ser humano intrinsecamente, independentemente das circunstâncias externas, ou pelo que lhe atribuem as pessoas, as instituições, a sociedade?
Vivemos, hoje, em uma sociedade da coisificação (materialismo) e categorização (utilitarismo) de tudo e de todos, em que as pessoas, via de regra, têm valor e atribuem valor ao outro somente se elas ou o outro se enquadrarem (ou se submeterem) em determinada corrente política (de preferência nos extremos, quer da direita, quer da esquerda – neste caso, quem opta pelo centro já está condenado por ambos os lados.

É a famigerada polarização que se observa no Brasil e no mundo), religiosa (também de radicais – afinal, você tem que manifestar radicalidade na sua fé exclusiva, em detrimento das demais, onde mais vale a ‘declaração da sua fé’ que a vida do portador da fé, seja ela qual for) e por classe econômica e social, em que o ser humano é visto pela ótica do ter e não do ser, resultando, tudo isso, na desumanização do homem, com todas as consequências desastrosas que estamos vivendo, diuturnamente, em todos os aspectos da vida em sociedade.

‘Haters’

Os ódios estão soltos e, tal qual o cachorro que está habituado a correr atrás de um carro quando este passa, assim agem muitos, sem mesmo saber por quê. Por quê? Ora, por que estão acostumados. É o poder do hábito. Daí, quando o carro para, o cão também para, sem saber o que fazer. Daí, quando você manifesta opinião, mormente nas redes sociais, tratando de política ou qualquer outro tema, alguém vai atacá-lo, por mais moderada que seja a sua expressão, basta, apenas, você se movimentar.

Na religião, para ficar somente em um exemplo atual, temos uma guerra, de fundo religioso, entre correntes extremas do islamismo e do judaísmo, patrocinando toda sorte de atrocidades em Israel e na Palestina, querendo exterminar um ao outro (e veja que são parentes por parte de pai, hein!), tudo em nome de Alah e de Javé. Que deus é esse?
No campo socioeconômico, os dados estatísticos e a realidade são cruéis, apontando concentração de renda cada vez maior, exclusão social, pobreza, violência, discriminação contra os menos favorecidos…

Uma homenagem ao min. Alexandre de Moraes, para horror de muitos, talvez até do próprio autor do enunciado
Retomando a indagação posta ao início deste artigo, poderia apresentar uma resposta de cunho religioso, para quem assim crê, na qual o homem carrega, intrinsecamente, a imagem e semelhança do seu Criador, segundo o livro do Gênesis, cap. 1, versículos 26 e 27, mas não vou fazê-lo (muito embora já esteja feito), contudo, vou recorrer a argumentos do nosso ordenamento jurídico (artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal) para fundamentar a resposta, na fala do Ministro Alexandre de Moraes, em sua obra “Direito Constitucional” (2005, p. 16), sobre a dignidade da pessoa humana: “Um valor espiritual e moral inerente à pessoa, que se manifesta singularmente na autodeterminação consciente e responsável da própria vida e que traz consigo a pretensão ao respeito por parte das demais pessoas, constituindo-se um mínimo invulnerável que todo estatuto jurídico deve assegurar de modo que, somente excepcionalmente, possam ser feitas limitações ao exercício dos direitos fundamentais, mas sempre sem menosprezar a necessária estima que merecem todas as pessoas enquanto seres humanos e a busca ao Direito à Felicidade”.
“Sua alma, sua palma”.
Saúde e paz a todos!

WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA, bacharel em Direito, ex-diretor da Justiça do Trabalho em Passos, escreve quinzenalmente às quartas, nesta coluna (Reflexões @washingtontomedesousa – Youtube e Facebook)

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