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Opinião

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

Tempo é passado

O tempo passa, a gente vai vivendo, amando e aprendendo. E no aprendizado, entre dores e alegrias, o amargo das decepções é o que demasiado chateia e incomoda.
Por mais que tentemos nos esquivar dos problemas diários, não dá. Inexorável, eles ocorrem sem que nos apercebamos.

E no desenrolar de situações, pessoas do nosso meio são as mais propensas a nos tirar a paz e o sossego. E nem bem sabemos por quê. E há como sair à francesa, de fininho, dos atropelos e transtornos que muito nos aborrecem? Muito difícil. Na verdade, não.

As pessoas à nossa volta agem de forma difusa: umas deliberadamente, outras, sem querer querendo. Outras, ainda, objetivando o resultado do mal pelos sortilégios de ocasião, o que é pior. Com isso infunde-nos medo, pavor. Um deus nos acuda.

Talvez a solução seja distanciar-nos de “pessoas agressivas e transtornadas, porquanto agridem o nosso espírito”. Aprendi faz tempo no best-seller de Dale Carnegie, o “Como fazer amigos e influenciar pessoas”, obra lançada em 1936. Como ensina a boa psicologia, boa forma de fugir de aporrinhações que incomodam tanto ou mais que a cantoria dos elefantes da Galinha Pintadinha é “relativizar os problemas e buscar novas perspectivas”.  Pensando bem – no pilar da relatividade – a coisa tende a ficar no mais ou menos.

Desse modo, num paradoxo terrível, não seria menos pior aliar-nos com os problemas existenciais dos quais não podemos de forma alguma nos safar? Isso mesmo: fazer deles companheiros de jornada. Menos doloroso. Pode parecer ideia maluca. Quem sabe pedir ajuda a William Shakespeare. Talvez o famoso dramaturgo inglês dê uma ajudazinha para a solução de tudo que dos aborrecimentos constam.

Não me ocorre que o autor de Otelo, Macbeth e Romeu e Julieta tenha dito algo como evitar as pessoas irrequietas, buliçosas e chatas. Como de resto, o criador da também obra de O Mercador de Veneza tenha nos advertido a respeito da possibilidade de nos desvencilhar de manobristas voltados a atos e fatos perversos do dia a dia.

Todavia, deixou em seus legados algo sobre como não sofrer duas vezes o mesmo problema. Segundo ele “é não lembrar-se deles novamente”. Tiro e queda. Fecham-se as comportas para lembrança na ordem do bis in idem e estamos resolvidos. Será?
Entre imaginação e realidade fico a matutar.

Minha avó materna não fez estudos regulares, não leu Shakespeare, creio não tomou conhecimento de tão notável figura nem para assuntos de tricôs e bordados e dizia o mesmo, só que de maneira diferente. Orientava para não nos prendermos ao passado, já que o passado costuma machucar. “Passou é passado”, dizia ela. E completava Maria Pimenta, lá da querida São Sebastião do Paraíso: “Para que sofrermos duas vezes?”.

Noutra vertente, outro apelo filosófico vem em socorro desse pobre coração ao longo de tempo de experiência de vida. Ao me perguntarem se tenho medo de leão africano, cobra venenosa, hipopótamo e centopeia, de cara digo que não.

Ora, pois. Como temer algo que nem sequer está próximo de mim? Entretanto, se mudarem a rota da pergunta, do que temo mais e terrivelmente, resposta pronta e acabada vem assim: do bicho de dois pés. Sim, do homem. Este é o grande vilão, o inimigo de si mesmo e de seus semelhantes. Entretanto, há os que não são lá tão ruins assim, mas lesionam, prejudicam e maltratam. Muito especialmente com a boca. Ah, a pedra e a palavra atiradas…

O animal irracional é aquela coisa, reage de um jeito mais ou menos previsível. E com jeitinho há como dele escapar. E do homem, será que temos como agir com a mesma facilidade e metodologia? A resposta é não. É imprevisível, sagaz, traiçoeiro, capaz de tirar a vida do próximo por nada e das mais diferentes formas, seja por atos, palavras e omissões. Por isso a gente torce, ora e reza até mais não poder. E olhem só. Fantasmas e assombrações continuam aparecendo à luz do dia.

Assim sendo, vamos ficar desacreditados de tudo e de todos nos circuitos da civilização humana? Não é bem assim. Não vamos e nem podemos deixar-nos levar por terrível e obscena desmotivação. A depressão coletiva e generalizada assoma, toma conta e acaba a graça.

No entanto, um pouco de cautela nunca é demais, nem mesmo o caldo de galinha, no imaginário, nas boas praças de alimentação do Terminal Rodoviário de Formiga continua não fazendo mal a ninguém. Isto é, desde que temperado a gosto e saúde do freguês. E de forma alguma errem na pimenta.

Esteio e vanguarda – no sonho estrela-guia – vó Maria Pimenta não erra. Nas teorias e terços da vida, sempre pronta para ajudar a levantar o ânimo e o moral da tropa pelo bem da ancestralidade. Embora não a tenha conhecido para tão úteis e necessitadas bênçãos: a bênção, vó Maria!

LUIZ GONZAGA FENELON NEGRINHO, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com). 

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