6 de novembro de 2023
LUIZ GONZAGA FENELON NEGRINHO
Nunca se viu tanta violência no país nos últimos tempos e em múltiplos aspectos. Violência urbana, rural, familiar, violência contra a criança, contra a mulher… Enfim, violência praticada e vivenciada para análises sociais e científicas. Síndrome, sim, já que desperta insegurança em causas inespecíficas.
Aliás, bom que se diga: nunca especialistas do ramo foram chamados ao debate dessas questões cujos sintomas nem mesmo eles sabem como, por que e para que tanta crueldade.
Os teóricos vão acusar a falência das instituições públicas. Outros, os meios de comunicação. Outros, ainda, os políticos. Outros tantos vão falar na falta de educação e no desrespeito que antecede a qualquer ato violento. E assim por diante.
Há quem busque na sociologia uma explicação mais adequada e consentânea para fundamentar o comportamento humano dos indivíduos. Porquanto eles os formadores da própria sociedade humana. É nesse estudo, o da ciência política que trata os aspectos de pessoas é que vamos visualizar os fenômenos sociais. Por óbvio, se existe violência em multiplicidade é porque existem fenômenos por trás disso.
Não apreciador de análises teóricas e metodológicas, costumo ser pragmático, mais prático, mais pés no chão. Vamos a um exemplo. Nos tempos de escola, não havia drogas nas portas dos estabelecimentos nos quais estudava. Não que me lembre. Como não havia professores de baixa qualidade de ensino. Eram comprometidos. E se existiam os mais bravos, os ferozes por assim dizer, também existiam os suaves, pelos quais tenho profunda saudade. Educadores na acepção da palavra. Ninguém dá o que não tem ou o que não sabe. Eles se entregavam. E sabiam.
Só que os teóricos de hoje, os quais se intitulam estudiosos do comportamento humano, se esquecem das interdependências, grupos e instituições. Ninguém está em defesa de ser mais incisivo com um menor. Falar de tudo, com jeitinho. Ah, as santas e benditas palmadas em forma de reprimenda, sem o ato malvada da covardia. Essas ficaram na dor da saudade. É para não perdê-los para um falido sistema carcerário, cemitério ou coisas do gênero. E a K9 se espalhando pelo país… Meu Deus! Loucura, meu!
Pudesse valer nesse ato e espaço de pequenas passagens e parcos conhecimentos sobre o assunto e citar professores que tive, vão ver que razão me assiste. Sistema mudado, saem agora em defesa dos alunos. Não se pode sequer levantar a voz. Colocar de castigo, nem ver. Vira caso de polícia. Entretanto, bater nas professoras, diretoras, pedagogas, ah, isso pode. E vamos lembrar que o próprio Estado, com instituições duvidosas, é fomentador dessa chamada disciplina científica, mediante pesquisas. Que pesquisas?
A realidade social é complexa e nem se entrarmos no túnel do tempo vamos entender. Como explicar a morte de um jovem de 18 anos, morto às duas da manhã, num local estranho e perigoso, praticando esqueite? Ora, se estivesse em casa dormindo com a família, em local seguro, estaria fora de perigo.
E o autor do atropelamento? Não se poderia aplicar o mesmo instrumento de raciocínio? Carro adulterado para “rachas”? Esportes radicais, para variar, estão falando mais alto. A culpa é da polícia. Vão reclamar ao bispo. Porque os pais não estão nem aí.
Tampouco o sistema educacional falido. O resultado do ENEM é um exemplo. Um desastre. Peguem as redações como tipificação de vulcânica tragédia.
Os casos exigem respostas acadêmicas, sim, porque as mudanças sociais são liberais e os modelos hoje defendidos são objeto de técnicas macroestruturais, analisados à luz da sociologia. E o meio familiar?
Voltando ao problema de antes, por que tanta violência assim no Brasil? O ser humano anda cometendo agressões indiscriminadamente, sem motivos palpáveis e justificáveis. Agride e tira a vida de seu semelhante à toa. Inutilmente. Um comportamento banal. Desentendimento de trânsito, doméstico, amoroso, à porta de uma boate. Assim, do nada.
Nem há o que dizer sobre a criança que, estudando, levou um tiro na escola. Ou uma facada. Aliás, os casos se sucedem. Dois casos num curto espaço de tempo. Uniformes escolares choram por si. E nada justifica a agressão, a morte. Injustiças, brutalidade e homicídios que se materializam e agridem terceiros em tenra idade, a título de balas perdidas e achadas.
Quais as causas da violência? Falta de solidariedade humana, amor ao próximo, falta de Deus no coração? O que Jesus faria se estivesse neste mundo e a Ele fosse dado as ferramentas para corrigir essa doença social de larga gravidade?
Especialistas vão continuar falando e debatendo. E haja holofotes para 15 minutos de fama. E não haverá vencedores nessa contenda que perpassa os limites da compreensão humana, sabidamente muito mais tenebroso do que uma guerra no Oriente Médio.
Dizem os estudos, as causas da violência no Brasil são de natureza natural e sistêmica. A população mais pobre sofre mais, a mais rica não fica atrás, sendo que para a remediada, remédio não há… Na verdade muito tem a ver com a inadequação das políticas públicas sociais e de segurança.
Estamos vendo a luta para a taxação das armas e munições na relatoria da reforma tributária. Não há óbice quanto a isso. No que diz respeito aos livros, quanto à sua importância, devem continuar isentos. Mas isso não basta. Obrigação primordial do Estado é direcionar livros [e seu conteúdo] ao coração e interesse das crianças, jovens e adultos. Ferramentas tecnológicas estão emburrecendo nossos jovens e crianças!
Longe de ser o “gás motivacional da vida”, ler é poder transformador de vidas. E por extensão, vidas por excelência.
Pensando bem, será que o Estado e governantes afins, querem o povo atento, questionador e cobrador?
Aí que está. Querem mesmo que o povo vá para Maracangalha!
PS: Para Dr. Jairo Santos Cardoso, cuja partida nos deixa tristes e pesarosos, o carinho da amizade, com o registro público de um coração agradecido. Condolências à família.
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)