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Opinião

WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA

Uma gota d’água no fogaréu

Em meio a tantas vozes que se levantam para manifestar opinião sobre tudo e sobre todos neste mundo tão conturbado que nos assombra, de guerras, ódios, desconstruções, polarizações, desamor…, tal qual vulcão a expelir lava incandescente e destruidora, não quero ser mais uma a alimentar tal erupção, muito embora pudesse expressar opinião, fundamentada (amontoando mais uma às demais), tomando partido ou de uma ou de outra corrente antagônica de pensamento, mas que em nada contribuiria para apontar caminhos estáveis para a solução dos problemas.

Em documentário recente sobre a Segunda Grande Guerra, o narrador, em suas palavras finais, chega à conclusão de que a humanidade, de lá para cá, não aprendeu quase nada, pois se repete nos dias atuais, fomentando os mesmos ódios, antagonismos, intolerâncias, xenofobias e tantos outros antivalores que grassavam no mundo àquela época e que hoje retornam, ganhando força cada vez maior na sociedade e entre nações (a ONU bem que poderia se chamar de Organização das Nações Desunidas… e as redes sociais de redes antissociais).

Mas, nem só de eventos ruins devemos ser lembrados, coisas boas também foram construídas ao longo da história da humanidade. E é graças a elas que sobrevivemos e estamos aqui hoje, com cerca de oito bilhões de habitantes neste planeta azul. Ao longo da trajetória do homem sobre a face da terra, grandes impérios se ergueram, ruíram e sucederam-se.

Alguns já se tornaram até mitos, pela sua distância longínqua no tempo, sendo vistos hoje como lendas. Mas, de tudo o que se viveu e produziu, o que permanece até hoje e que prevalecerá enquanto aqui habitarmos, as ‘coisas boas’ que estes impérios todos nos legaram, são os valores, tais como a preocupação com a justiça (Código de Hamurabi – Suméria/Babilônia), a arte, ciência e filosofia (Gregos), leis (Romanos) etc.

Aqueles que não prezavam os valores inerentes ao ser humano, mas que pautavam suas conquistas apenas pela destruição de outros povos e por se apossar das terras e riquezas alheias, não legaram contribuições ao crescimento da humanidade e, hoje, caíram no esquecimento, ou são lembrados apenas pelo que destruíram e não por algo bom que possam ter acrescentado à humanidade (como o Império Mongol, só rapinagem e destruição).

O que nos acompanha, de forma permanente, nesta ou em qualquer outra realidade, o que nos leva a prosseguir, a construir, crescer e gerar coisas boas para a sociedade e para o nosso semelhante, o entusiasmo pela preciosa vida que nos é dada, são os valores pelos quais optamos.

Trago à memória aqui os versos do poeta português Camões, enaltecendo conquista inédita do navegador Vasco da Gama: “Cessem do sábio Grego e do Troiano, As navegações grandes que fizeram; Cale-se de Alexandre e de Trajano, A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano,

A quem Neptuno e Marte obedeceram. Cesse tudo o que a Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta.” E, ainda, para concluir, as palavras de Jeremias, o profeta das Lamentações, em meio ao caos e desesperança: “Quero trazer à memória o que me pode dar esperança”. Coloque em sua vida valores pelos quais valha a pena viver, que lhe renovem a esperança em tempos difíceis, que promovam e celebrem a preciosa vida que nos é dada.

Ao recorrermos a princípios, sejam eles quais forem – científicos, éticos, do Direito, religiosos… em quaisquer circunstância que nos encontremos e para os quais apelemos em busca de socorro para as nossas demandas cotidianas -, não nos esqueçamos de que o fazemos, ainda que de forma não consciente, alicerçados e comprometidos com valores anteriores que os validam e que, muitas vezes, desconhecemos, porque escapam à nossa consciência, por terem origem em uma instância à qual, ou por obtusidade ou por orgulho intelectual (essas duas coisas costumam andar juntas), negamos existência. Sem eles (os valores), não sairemos do patamar da animalidade e das suas consequências que diuturnamente ‘dialogam’ conosco através dos fatos quase sempre desagradáveis e trágicos da vida.

Encerro, com os versos, sempre atuais, do cantor Fábio Júnior em “Muito cacique pra pouco índio”:
“Muito cacique pra pouco índio / Muito papo e pouco som / Pessoas querendo ser o que não são / Quanta conversa jogada fora / Quanto sentimento em vão / Vamos tentar de vez, agora / Fazer valer a voz do coração / Promessa não é dívida, é dúvida / Pessoas se vendendo estão / Completamente sem noção do caminho / Que elas mesmas escolheram / Essa loucura faz sentido / É pura manifestação / De que você não foi ouvido / Infelizmente não, não, não, não / Se manda daí, vem pra cá / Encarna de novo, sossega esse povo / Carente de amor, de esperança, de fé / E de tudo que realmente tem valor”
Saúde e paz a todos!

WASHINGTON L. TOMÉ DE SOUSA (@washingtontomedesousa – Youtube), bacharel em Direito, ex-diretor da Justiça do Trabalho em Passos, escreve quinzenalmente às quartas, nesta coluna

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