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Opinião

FOTO: REPRODUÇÃO

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

O caminho linear é o da paz

É preciso deixar claro que não existe inocência na guerra. Guerra é guerra. A não ser, claro, entre aqueles que dela não participam, não querem participar, exceção feita às vítimas, na maioria das vezes, utilizadas como inocentes úteis, caso específico de escudos humanos, como sói ocorrer no distúrbio que se estende há mais de 70 anos entre israelenses e palestinos, com ferocidade nos dias que se sucedem.

Nas redes sociais, e dando o que falar, sentença atribuída à Erich Hartmann, intitulada “Melhor Declaração Sobre a Guerra”. Assim: “A guerra é um lugar onde jovens que não se conhecem e não se odeiam se matam, por decisão de velhos que se conhecem e se odeiam, mas não se matam”.

Resenha posta, ato consequencial, de todas as partes do mundo as mais diferentes opiniões e posições. Uns analisam o contexto por quem disse. Outros, de forma diferente, pelo que foi dito. Outros, ainda, explicação técnica e de cunho eminentemente hierárquico, soldado alemão que não concordava com a guerra. Como subordinado tinha que obedecer ordens de sua liderança. E se discordasse da guerra e tentasse a deserção, por exemplo, a execução seria o limite. A essa altura, nem há de se falar nos traumas e danos à saúde mental de que são vítimas os soldados pós-guerra.

A história relata que Erich Hartmann foi piloto de sucesso, condecorado com o título “O Ás dos Ases”, tendo conseguido grandes feitos em sua carreira, por isso mesmo condecorado pessoalmente por Adolf Hitler por relevantes serviços prestados (?), cujos títulos devem ser desprezados. Para muitos um herói; para outros, um pesadelo na terra e no ar.
Bem, e aí?

No uso de deslavada utopia, sem nos valer do uso de atribuições e sim pelo que foi dito e como foi dito, que tal pegarmos os donos da guerra (pudesse assim chamar os promotores desses palcos de horror), colocássemos na arena rodeadas por leões, para se combaterem até à morte, na concepção de que, posteriormente, permitissem o sorriso de uma criança no recôndito do lar com a família, seja aqui, em Beirute ou na ilha de Madagascar?

Loucura? Sim. Mas não o único que pensa diferente. Entre ficar discutindo o sexo dos anjos. Entre banalizar a morte por ideias malucas e sem sentido. Em vez de procurar chifres em cabeças vazias de cavalo. E no comum do que se vê, no lugar de ideologizar o horror por insensato ódio instalado até a medula óssea pelas vias pérfidas da discórdia. E ou no lugar de culpar covardemente quem está fazendo e não falando, pura e simplesmente, por que não trilharmos o caminho da paz, começando exatamente dentro de cada um de nós?

A eliminação da guerra a partir do que pensamos, falamos, produzimos, agimos e reagimos. O mundo pode ser diferente e melhor se cada um de nós fizer a sua parte, de preferência não julgar de maneira leviana e irresponsável, o que é comum em nossas vidas. É tão fácil botar reparo; difícil é consertar o reparo. Confeccionar, um pouco mais penoso, mas possível.

Quem sabe um não à violência pode ser uma forma branda e suave para a obtenção do caminho da paz, como peregrinos que somos sem fronteiras. E antes de se pensar em tomar territórios com ofensivas, por que não buscar ganhar de graça o coração do próximo e a preço nenhum?

Não é difícil, não é impossível. E é bem menos oneroso do que ficar deitando falação contra quem age e faz e não cuida de falar o que faz. Está na terra, está no ar. E irmãos de volta. Em persistindo dúvidas, pergunte àqueles que regularmente se recolhem no alto da montanha para buscar a revelação definitiva que provém do alto.

E se ainda pairar dúvidas de que o caminho linear é o da paz, por que não lembrar de que “navegar é preciso, extraindo forças da necessidade de seguir, enquanto vida houver?”. Afinal, produzir algo bom, ainda que à custa de relativo sacrifício, faz bem à saúde e faz a vida valer a pena. Amém!

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)

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