Opinião

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9 de outubro de 2023

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

Café, tragédia e morte

Não tenho por hábito atrapalhar o café de ninguém. Mas há muito – ainda que queira – não posso tomar meu café em paz. Posso até dizer: meu café tem cor, sabor e textura de violência e horror.
O ato de se tomar café passou a se misturar ao ato de ler as notícias e sofrer as tétricas amarguras do dia a dia. E ao passar os olhos no noticiário, o impiedoso encontro com o trágico, com a angústia da morte. Com o que há de pior. Histórias e seus relatos na frieza da verdade. Duras, amargas e tristes. Não que a imprensa exagere. Algumas até que sim. O número de acidentes e de morte é que está na escala evolutiva do exagero.

Não necessariamente na mesma ordem, num curto espaço de tempo, praticamente na mesma semana, o corpo de um idoso é encontrado desovado na cidade de Passos, às margens da MG-050 na manhã de quarta-feira (4/10), próximo ao Aeroporto de Passos.

Apurou-se (campo especulativo), um idoso de 76 anos deixou de pagar uma dívida. Em razão disso, fora morto por um caminhoneiro no estado de São Paulo (Sumaré-SP) a golpes de enxada. Deixaram o corpo distante do local onde aconteceu a morte. Tentativa boba e inócua de tentar complicar o trabalho da polícia. Polícia quando quer, trabalha e pega. Judiciário depois, noutra sorte, solta.

Por perversão que a própria natureza humana não desconhece – estúpida banalidade a envolver discussão ainda mais estúpida – um segurança teve sua vida ceifada também na cidade de Passos (30/09). O que gerou a morte do segurança de um supermercado seria assunto para um singelo pedido de desculpas e tudo estaria resolvido. Mas, não. A morte tem de preencher lacunas nas manchete dos jornais e esfriar o café da manhã de terceiros.

Mata-se por pouco, por nada; querem é matar.
Para complicar o paradoxo de um cotidiano que tinha tudo para dar certo, mas não, quatro médicos foram alvejados (três morreram), na Praia da Barra da Tijuca, entre os postos 3 e 4, num quiosque onde, em tese, se poderia instalar para descontração debaixo de um calor infernal, em frente ao Hotel Windsor, no Rio de Janeiro (05/10).

Tudo indica, pela linha de investigação, os médicos foram confundidos por milicianos. E se põe a pensar: no campo da barbárie e do contraditório. Bandidos que inapelavelmente tiram vidas por atos covardes sem dó e nem piedade, retiram do seio da sociedade humana e científica, personagens que muito estudaram e estudam para salvar vidas. E numa história que mais lembra o terror por si só, 33 estojos, ou sobras de projéteis, foram recolhidos pela perícia técnica, o que leva à conclusão de que se tratou realmente de crime de execução.

Poderão então dizer, na paranoia de sempre: médicos no lugar errado, na hora errada… Não. Em absoluto. Os médicos, especialistas em ortopedia, viajaram ao Rio para participar de um congresso internacional para aprofundar o conhecimento e questões fundamentais da medicina e da assistência médica. Estudos acumulados ao longo de suas carreiras para salvar vidas e não tirar vidas a pérfidos golpes de armas de fogo. Oposição na tragédia.

E para encerrar outros começos trágicos, três pessoas morreram em acidente entre carreta e caminhão guincho na rodovia MG-050. Também na tarde de quinta passada (05-10), num “L” que não tinha nada para dar certo, três pessoas morreram e duas ficaram feridas na rodovia MG-050, entre São Sebastião do Paraíso e Itaú de Minas, após um grave acidente envolvendo quatro veículos.

Pela dinâmica do sinistro, segundo se apurou pela Folha da Manhã (“Folha, Polícia, 06/10”), “as vítimas estavam em um caminhão guincho, de Passos, que bateu contra uma carreta de Araraquara”. Os três ocupantes do caminhão guincho morreram ainda no local.

Não que se queira esfriar ou azedar o café de quem quer que seja. São relatos dramáticos do cotidiano, alusão à Grécia Antiga por um não à guerra e à violência. Naqueles tempos, bem antes de Cristo quando o gênero dramático era muito utilizado para ser representado nos palcos e nas marcas do seu tempo, muito há de ser considerado. Tudo no campo da produção e encenação.

Deixa-se de lado, por conveniência, as Guerras Médicas e a Guerra do Peloponeso. Violência e confrontos devem ser evitados.
Aqui, por aqui, infelizmente, pelas dores do mundo, num show de horrores, as tragédias são ao vivo e em cores!

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)