Opinião

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18 de setembro de 2023

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

Ética segregacionista

É comum ouvirmos que alguém, por motivo ou outro, não está agindo bem, não está fazendo a coisa certa, nem por determinação da lei e nem por exigência daquilo que esteja no campo da ética, da moral e dos bons costumes.

Fala-se muito, e principalmente, na questão ética. Será que se leva a sério tão importante discurso em toda e qualquer atividade humana e profissional? Tenho comigo que não. Senão, vejamos. É comum alguém, depois de consultar um médico ou advogado e depois de ouvir opinião das duas categorias, buscar uma segunda opinião. Será isso correto? Provável que sim. Nada mais justo. Em tese, não se está fugindo ou ferindo a ética.

Para desencargo de consciência, seja por excesso de zelo, prevalência do bom senso, esteio da segurança, não só pode como deve procurar uma segunda opinião, guardando, na evidência, o cuidado de acertar com aquele ou aqueles aos quais recorrem e se busca ajuda. Caso contrário vira uma baita confusão. Quando, então, lado outro, por parte destes é preciso o resguardo da ética, moral e, sobretudo, o sigilo profissional.

O respeito às regras do jogo é fundamental, na observância dos valores humanos no que diz respeito ao comportamento e posturas transparentes. Mesmo porque se ética profissional sugere mais que honestidade e consciência, passando a ser elemento central para o sucesso de indivíduos e de empreendimentos comerciais, o sigilo profissional é fator primordial. Sigilo é tão importante quanto o ar do sucesso que se respira. Nele envolve direito e dever do agente e do profissional. E mais. Está em não divulgar informações obtidas em decorrência de suas atividades.

A matéria é complexa e envolve uma série de fatores, entre os quais a interferência do poder público. Ente que naturalmente fiscaliza cada passo de cada um de nós no meio social. Nunca a vida das pessoas ficou tão devassada, tão à vista. De repente, a pergunta: como fica a privacidade dos cidadãos, enfim, de nossas existências? É complicado.

Hoje em dia, alguém chega ao estabelecimento público ou privado, curiosamente não perguntam pelo nome, mas sim pelo CPF, ou seja, estamos inseridos no cadastro de pessoas físicas. O que não é novidade. Pelo menos até que que se chegue o chip, aquela lâmina miniaturizada, cujas funções muito terão a ver com as identificações.

Então se volta às duas profissões anteriormente citadas: médicos e advogados. As duas classes profissionais se valem da ética e do sigilo profissional, estando subordinados ao Código de Ética Profissional. Mas, na verdade, nem todas as profissões devem obrigação ao sigilo profissional. Será que os meios de comunicação seguem rigidamente os padrões e as regras destinadas a resguardar valores dos indivíduos, entre os quais a camada mais pobre da sociedade? Tudo leva a crer que não.

Programas bombásticos, na busca insana por audiência, ocupam espaço público, exibem o íntimo das pessoas, entram com repórteres nas periferias e favelas dos menos favorecidos pela sorte, execram, no intuito da espetacularização da pobreza. E onde entra a ética em casos tais? Não se observa. Não há. Os direitos são violados, feridos, à custa do sangue de desafortunadas criaturas de um quadro social tão pobre quanto lamentável.

Em razão de tudo e por tudo, vê-se a desigualdade envolvida nas circunstâncias da vida. Não deveria haver por igual a prática do Código de Ética, Sigilo, Respeito – seja lá o nome que se queira dar – no âmbito da lei, por imperativo da igualdade social? Questionável.

O dever moral, a ética e os bons costumes deveriam, sim, apontar as mazelas, as tristezas do mundo em que vivemos, mas para o bem. Com o intuito de ajudar, para que o mundo das pessoas deixe de ficar menos feio e triste e levar adiante a alegria de viver. Vejam os casos das enchentes no Rio Grande do Sul. É sinistro. Chega-se à casa, não há mais casa; não há cama, mesa e banho. Nem sequer há documentos.

No que tange ao “direito” de informar acerca dos diferentes mundos social e político, na busca pelo ibope, nos impele demonstrar o óbvio: existem duas ou mais verdades num mundo que mais se revela cão do que submetido a dispositivos legais. E não só. Do que normas voltadas para o bem-estar da sociedade, o que objetivamente acarreta muitas penas. E não menos, no desagradável, dores agudas e intensas.

Para o exercício pleno do bem e da ordem, façamos o seguinte: a paz seja restabelecida pela ausência de conflitos. Sabedoria antiga e que a ela nos faz chegar através de tênues fios condutores de um coração agradecido, aqui e agora: “Falemos tudo de bom das pessoas; aquilo que não for bom, que não agrega e não seja fator de elevação da alma, melhor jogar nos arquivos do “pra nunca mais voltar”.

Com quem aprendi a lição? Mesmo personagem de uma agência bancária de tempos bons, na esquina debaixo da Praça da Matriz de Passos. Ele que também sentenciou: “A amizade é via de mão dupla”. Um dia por aqui passou, fez o dever de casa, tornou-se lição de vida, no chamativo dádiva, Sebastião Thomaz de Abreu, o Doro.
Ao eterno mestre da ética, moral e bons costumes, o carinho da homenagem.

LUIZ GONZAGA FENELON NEGRINHO, advogado, escreve aos domingos nesta coluna.(luizgfnegrinho@gmail.com)