Opinião

Opinião

11 de setembro de 2023

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

O Rei Leão

Permita-me dizer. Na singeleza da apresentação, hoje acordei para a vida. Não que vá fazer algo extraordinário. Longe disso. E nada que envolva rentabilidade econômica.
Vou continuar sendo eu mesmo, com qualidade e defeitos, uma leve diferença: valorizar a amizade de amigos. E boto fé. Tenho e os conservo em número razoável.

Não tantos assim, é certo. Mais que os dedos das mãos. Muitos teimam falar em ditado e didaticamente. E os amigos vêm e aparecem de diferentes jeitos e formas. Ora pela presença física, ora pelos aparelhos smartphones, pelos quais me chegam lindas mensagens. Cada uma melhor e mais interessante que outra.

A última – por nobreza de caráter e gentileza – me chega pelo amigo Luiz Carlos de Pádua. Diz respeito à canção africana Wimoweh, da lavra e poder criativo original de Solomon Linda Popoli – ano de 1920, tomando corpo em 1939 –, com surpreendente detalhe. Ainda garoto, o sul-africano do povo Zulu, em magistral improviso, e num admirável falsete, jorrou para o mundo das criações e diversidades (num abaixo ao apartheid), história a relatar a compensação das dificuldades raciais.

E mandou ver, para, num futuro relativamente breve, gerir outras versões. E tomem brigas por direitos autorais. As canções, como em quase tudo na vida, se juntam e se amarram em fortes sentimentos, interesses e emoções, passando por reformas e alternâncias. Como na amizade. Apesar das diversidades, passe o tempo que passar, é possível sua necessária riqueza de manutenção. E se permita Simba volte para a alcateia.

A mais significativa música africana de todos os tempos, passou por muitas transformações. Gravada inicialmente em 1952 pela Banda americana The Weavers, com o sucesso assegurado bem adiante, em 1961, pela Banda The Tokens, sofrendo ligeiras modificações na letra e título, denominada “The Lion Sleeps Tonight”, numa boa tradução: “O Leão Dorme Esta Noite”. Ou pode ser “à noite”, o importante é que o leão durma. Lembrando, na dinâmica do tempo, em 1994, tornou-se trilha sonora do laureado filme da Disney, Rei Leão. E se imortalizou.

Na vida de cada um, e de todos nós, na referência e solidificação de boas amizades, a boa música tem sua qualidade mantida nas trincheiras de sonhos, ainda que na forma de fantasias distantes. Daí o “aui mauê” ou “a whim away”, não importa, que devem ser mantidos e resguardados na boa qualidade.

Entre as belezas do continente africano estão suas canções. A identidade do seu povo está na interligação de suas memórias decantadas ao longo do tempo. Têm a ver com o sofrimento do seu povo. E em meio a biodiversidade multicultural, a extrema pobreza. E quando se fala em África não há como dissociar e deixar de fora a figura política e antológica de Nelson Mandela.

E ao filme/documentário O Rei Leão e o Músico Esquecido (2019), nascido e brotado pelas narrativas de Rian Malan, jornalista e historiador branco e suas incursões sociais e políticas. E a história do Rei Leão é um recheio de aventuras e ensinamentos, que cativa crianças, jovens e adultos. Daí a sequência, obedecendo a ciclos.

Como se vê, um mix de tudo um pouco para um “auimauê” que se junta à alma e é tão antiga quanto significativa para um povo sul-africano que ganha espetáculo com sua dor e sortilégios, à custa posterior do sucesso de outros.

No jeito moleque de ser, no tempo a ser avaliado e medido no calor da boa e franca amizade, o bom vinho se entrelaça na cor vermelho-escura ao som de uma canção que se eternizou na magia da tela de fortes emoções. O leão dorme à noite. Deixem-no, pois, dormir em paz. Da infância à velhice.

Aproveita-se a oportunidade, no que tange à justiça social, se não podemos melhorar tanto assim o mundo combatendo a desigualdade, ofertando boa qualidade de vida a todos, indistintamente, pelo menos que a legalidade e o respeito às pessoas sejam resguardados em suas liberdades fundamentais, sejam através das figuras do Leão I, II ou III, de qualquer tempo e/ou película.
Quanto à autoria, se fica para um garoto que se atreveu a cantar as cores da África num lindo falsete para encantar o mundo das verdades.

PS: Para Luiz Carlos de Pádua, fino trato na arte de colecionar e projetar belezas tantas para múltiplas sensibilidades.

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)