21 de agosto de 2023
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho
Não há como ser diferente. Entre um dia e outro, no day after da vida republicana, notícias avançam e complicam a vida do ex-presidente Bolsonaro. A julgar por declarações emitidas por próprios seus aliados e alinhados, a situação vai de mal a pior e não se vislumbra uma saída honrosa para um relativo conforto. E vai além do horizonte perdido. Ou, numa lufada de vento que vem, se desfaz e fica pra trás, está mais o desastre total. O caos.
E por mais se tente arranjar uma saída, um meio-termo, não dá mais pra segurar. Tudo aponta para algo tão grave que o pior dos pesadelos está para acontecer, o que não é bom para ninguém, muito menos para as nossas instituições. O momento não é grave, é gravíssimo!
Um segundo ex-presidente, num curto espaço de tempo, a ser preso por ligação com o crime? Noutra perspectiva, a infâmia a eles atribuída? Trata-se de situação delicada e contundente, porque, afinal de contas, todos sofremos com isso, direta e indiretamente.
Quem pensar que só os adeptos e correligionários vão padecer com os incômodos e o infortúnio do ex-presidente está redondamente enganado. A desordem instituída afeta a todos, numa ruína que supera os tornados que afetaram recentemente regiões do Brasil e do mundo e fizeram estrago de grande proporção, com morte e destruição.
Talvez não saibam, há quem dê a vida pelo capitão, o que não é nenhum exagero. Era para o Sr. Mito pensar nisso antes de entrar em roubadas como a de que não acreditava em Covid; que tudo não passava de uma gripezinha; “isso daí de distanciamento e máscaras é pra boiola, uma bobagem”; e o que podia fazer com tanta morte na pandemia, já que não era coveiro; que não estava nem aí para vacinas, como também não botava fé em urnas eletrônicas.
E se presentes, como joias, relógios etc., se ganhou, eram dele. E tome premissa do “Imbrochável”.
Pois é, Senhor Presidente! Brincar de matar não tem vez e nem hora. Porque nessa dimensão de vida tudo tem começo, meio e fim. Ao que parece, dessa vez, fechou-se o cerco para os seus sonhos e pesadelos.
E tudo veio com a bomba da semana – cujas fontes geradoras de energia que a sustentam – foi o depoimento do hacker de Araraquara (SP), Walter Delgatti Neto à CPI dos Atos Golpistas, na quinta passada (17).
Na ocasião, foi possível aquilatar [nada a ver com as joias] a dimensão da roubada em que se metera Bolsonaro e membros de sua trupe. Lembrando o Pr. Silas Malafaia: “Não é moleza não, meu irmão!”
E não foi. E não é. À Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI), Walter Delgatti disse que, desempregado, topava qualquer parada, ou seja, qualquer coisa para sair de uma situação difícil. E ficou ainda mais aliviado quando, segundo ele, teve garantias do próprio presidente de que podia tranquilamente invadir as urnas eletrônicas para testar a lisura dos equipamentos.
E que se fosse preso, não se preocupasse. Como presidente da República, Bolsonaro daria proteção, concederia o indulto, como fizera com um deputado, que era café pequeno para ele. E Carla Zambelli, a intermediadora do encontro, segundo o depoente, foi quem pagou R$40.000,00. Da seguinte forma: R$14 mil, mediante depósito bancário, o restante em espécie.
E quando pediram sigilo ao hacker de Araraquara, que fritada! De lembrar-se de casos assemelhados. É que alguns segredos, mesmo a peso de muito dinheiro, não valem a pena. Fazem mal à saúde, não só física, mas à mental. Daí que não foi bom para Walter Delgatti prestar serviços para a Lava Jato, quando vazou mensagens de autoridades envolvidas os escândalos na operação Lava Jato. Investigado na operação Spoofing (falsificação tecnológica), vulgarmente conhecido como “Vaza Jato”.
Aí, então, alguém lembrou, que a Bíblia, por ser o “Livro dos Livros”, a palavra de Deus, tem resposta para tudo e para todos e para toda e qualquer eventualidade. E foi adiante. Assim como existe João, 8:32: “Conhecereis a verdade e a verdade os libertará”, também existe Lucas: 12:2-3: “Não há nada encoberto que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a ser conhecido. Porque tudo o que vocês disseram às escuras será ouvido em plena luz; e o que disseram ao pé do ouvido no interior da casa será proclamado dos telhados”.
Entre revelações bombásticas de ilícitos de toda ordem para a desordem, esquemas espúrios, antes que a casa caia, em meio a denúncias tantas, tensão e muita preocupação, uma pergunta que não quer calar: quando mesmo o calabouço terá serventia para abrigar infratores da ordem e da lei?
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)