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Opinião

MARCEL VAN HATTEM

Como nascem as “fake news”?

Tudo começou com uma fake news. Na verdade, com um clickbait que depois foi convenientemente transformado em fake news. Em entrevista a O Estado de S.Paulo, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), só contou o que já era público: que seu estado estava integrando um consórcio unindo as regiões Sul e Sudeste para tratar de forma conjunta de seus legítimos interesses junto à União.

Da mesma forma, aliás, já atuam os estados do Nordeste por meio do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste, lançado em março de 2019. Sendo gaúcho, acrescento: já passava da hora de os estados do Sul e do Sudeste, que perfazem mais da metade da população brasileira, seguirem o exemplo de união que os políticos do Nordeste demonstram historicamente.

A importante, propositiva e elogiável iniciativa, porém, foi transformada em uma declaração de guerra ao Nordeste pelo editor da matéria no jornal: “Romeu Zema defende frente Sul-Sudeste contra Nordeste”. Em nenhum lugar da entrevista publicada, lido seu conteúdo com lupa, consta esta declaração.

No entanto, na intenção de atrair leitores para a publicação, mais uma vez venceu a tentação do editor de atrair a qualquer custo o clique do internauta no link – daí o termo “clickbait”. E o custo, mais uma vez, foi a transformação de uma matéria jornalística séria, uma entrevista longa com o governador do segundo maior estado do Brasil, em fonte abundante para a criação de fake news para seus adversários.

Não tardou para que os principais líderes da esquerda atacassem Zema por suposta xenofobia, um acinte covarde contra o governador. Guilherme Boulos (PSol), Zé Guimarães (PT) e até mesmo Flávio Dino (PSB) partiram para o ataque, demonstrando mais uma vez do que é capaz a esquerda quando se une para tentar assassinar a reputação de quem identificam como adversário. No caso de Dino, a situação é ainda mais grave: o paladino “vingador” na batalha contra as fake news foi alertado pela comunidade do X (ex-Twitter) de que sua manifestação pública era… fake news!

Dino publicou: “É absurdo que a extrema-direita esteja fomentando divisões regionais. Precisamos do Brasil unido e forte. Está na Constituição, no art. 19, que é proibido criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. Traidor da Constituição é traidor da Pátria, disse Ulysses Guimarães”.

Em resposta, a comunidade que utiliza a rede verificou a afirmação e desmentiram-na por meio de nota que agora acompanha o post: “É FALSO que a ideia do bloco seria prejudicar/antagonizar contra Norte e Nordeste, a intenção é representar interesses do Sul e Sudeste. Já existem outras alianças regionais, como o Consórcio Nordeste, que também não tem como objetivo antagonizar contra outras regiões”.

Ou seja, o ministro da Justiça que quer enquadrar todo o povo brasileiro no seu combate à suposta disseminação de mentiras nas redes sociais usou de uma rede social para disseminar, justamente, mentiras sobre Romeu Zema. Até o momento, não houve retratação.

A verdade é que o PL da Censura (PL 2.630/2020) e todo dito combate às fake news proposto pela esquerda visa unicamente suprimir o direito à oposição e à cidadania em geral de se expressar livremente. O objetivo nunca foi o de combater a mentira – até porque as ideologias socialista e comunista se baseiam, justamente, na grande mentira de que é possível obter igualdade suprimindo-se a liberdade individual.

Quando quem define o que é verdade e o que é mentira é o governo, o objetivo de leis de censura será sempre o de calar e perseguir a oposição, como agora se vê no caso de Romeu Zema, e garantir total liberdade e impunidade aos governantes quando disseminam mentiras sobre quem os desafia.

Com a contestável inelegibilidade de Jair Bolsonaro (PL) declarada pelo TSE, Romeu Zema, já reeleito governador em Minas, é cotado como presidenciável para 2026. Os ataques vis que está sofrendo já agora, em 2023, demonstram claramente que uma eventual candidatura trará muito incômodo a Lula e ao PT. Faz parte do jogo político. O que não deveria fazer parte – mas cada vez se torna mais claro que, neste Brasil distópico em que vivemos, faz – é a perseguição coordenada com base em mentiras e, por vir de quem vem, ser tida como natural.

O mais lamentável de todo este episódio é que a narrativa falsa tenha nascido de uma manchete da imprensa. Nada mais revelador de que fake news não são, nem de longe, exclusividade de “tias do zap”; e que, geradas a partir de matérias jornalísticas anunciadas por manchetes clickbait, podem servir a interesses muito mais poderosos e potencialmente devastadores.

Felizmente Zema tem encontrado suporte, inclusive de seus colegas governadores do Sul e do Sudeste, para combater as mentiras disseminadas com a verdade de suas palavras, nada mais do que isso. Mas o episódio é importante alerta para a capacidade de articulação da esquerda em disseminar calúnias e difamações em total contradição com o pudor que exigem da comunicação de seus oponentes.

MARCEL VAN HATTEM, bacharel em relações internacionais, mestre em ciência política e jornalismo, é deputado federal/RS.

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