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Opinião

GILBERTO ALMEIDA

A falência da Ética

Ética não é atributo profissional, e sim uma virtude de caráter – Mônica Christi
Lá pelos idos do início da década de 90, período em que exerci o cargo de Chefe do Escritório Municipal de Planejamento Integrado, que logo se tornou a Secretária Municipal de Planejamento, servindo ao saudoso e inesquecível Prefeito José Figueiredo, conheci uma jovem assistente social, Carla Pimentel Caixeta, que iniciava sua carreira naquela Casa, trazendo consigo seu comprometimento indestrutível com a responsabilidade que devemos ter com a justiça social e a implantação de políticas públicas que contribuam para tal.

Décadas se passaram e há pouco mais de 2 anos comemorei o convite feito pessoalmente pelo Excelentíssimo Senhor Doutor Prefeito Diego Rodrigo de Oliveira para que ela assumisse a Secretaria de Assistência Social – SEDEST, pela certeza que escolhera uma profissional agora experiente, idealista, séria e competente para o exercício de função de tanta magnitude na cidade.

Foram muitas as ações ali empreendidas pela Secretária Carla e muitos desafios enfrentados, especialmente pelas dificuldades conhecidas do poder público em dedicar estrutura e recursos suficientes para solucionar problemas que se agravam, como por exemplo, o aumento do número de pessoas em situação de rua que, ao contrário do que muitos pensam, é um fenômeno em todo o Brasil e até mesmo no mundo.

No final da semana passada, me surpreendo com a notícia da exoneração da Secretária e devo dizer que é legítimo e incontestável o direito do Prefeito de nomear e exonerar seus assessores. Tecnicamente são demissíveis “ad nutum”.

Entretanto, a atitude do prefeito de Passos ao demitir a Secretária de Assistência Social sem ética alguma e utilizando assessores para comunicar a decisão, sem sequer fornecer as razões por trás da demissão, é extremamente condenável e demonstra uma total falta de respeito e transparência no trato com seus colaboradores.

Primeiramente, a demissão de um funcionário público, especialmente em uma cargo tão importante, deve ser conduzida com seriedade e justiça. Comunicar a demissão através de assessores, em vez de atuar de forma franca, evidencia uma falta de coragem do prefeito em lidar diretamente com as consequências de sua decisão, além de transmitir uma mensagem de desvalorização do trabalho e do esforço dedicado pela secretária durante seu período no cargo.

Além disso, não fornecer as causas da demissão é igualmente inaceitável. Todos os trabalhadores têm o direito de saber os motivos pelos quais estão sendo demitidos, permitindo-lhes entender falhas ou inadequações no desempenho de suas funções e, se necessário, aprender com os erros e buscar o aprimoramento profissional.

A falta de ética demonstrada pelo prefeito, não apenas fere moralmente a secretária em questão, mas também mina a confiança dos demais servidores públicos em sua gestão. Um líder deve agir de forma transparente, ética e justa, buscando sempre o bem-estar da comunidade e dos funcionários que atuam em prol do município.

Em última análise, a demissão sem ética da secretaria e a falta de transparência na comunicação dessa decisão são um reflexo do desarranjo administrativo e da falência do respeito com que a gestão trata seus colaboradores e a população. É importante que a sociedade esteja atenta a esse tipo de conduta e cobre responsabilidade e respeito por parte das autoridades públicas, para que a governança municipal seja, repito, exercida de maneira justa e correta.

Um líder político, especialmente um prefeito, tem a responsabilidade de agir de forma transparente e justa em suas decisões, principalmente quando se trata de questões que afetam diretamente a vida das pessoas e a gestão de políticas sociais. A secretária de assistência social, como figura-chave nessa área, merecia ser tratada com respeito, independentemente do motivo da sua demissão.

Ao agir dessa maneira, o prefeito mostra uma falta de sensibilidade para lidar com questões humanas e com profissionais que dedicam seu tempo e esforço para o bem-estar da população. Além disso, a exoneração da secretária da forma como foi feita sugere uma falta de responsabilidade por suas próprias ações, o que é inaceitável para um líder político que deve prestar contas à sociedade.

O respeito, a ética e a transparência são valores fundamentais que jamais poderão ser esquecidos e são suportes basilares para uma boa governança e para manter a integridade da gestão pública. O prefeito de Passos deveria ter agido de forma mais responsável e ter dado explicações para a demissão da secretária, a fim de preservar quem a seu governo dedicou e a confiança da comunidade na administração municipal.

Outras duas demissões coincidentemente femininas, ocorreram também sem o prefeito “mostrar a cara” sendo que a primeira comunicada por um “jornalista”, a segunda por um vereador e agora pelo menos foi comunicada por um preposto que faz parte do executivo, mas mesmo assim essa atitude representa um retrocesso para a democracia local e evidencia a necessidade de uma reflexão sobre a conduta do prefeito no exercício de suas funções.

Resta manifestar aqui minha solidariedade e meu reconhecimento pelo trabalho da Carla Pimentel, toda a lealdade que dedicou ao governo municipal durante o período como secretária bem como reconhecer suas ações já plantadas e rumo a colheita em prol dos menos favorecidos pela vida e desejar boa sorte a sua substituta e que tenha êxito em suas ações à frente da SEDEST.
Tomara que eminências pardas, praticantes do assistencialismo demagógico das barracas, não sejam mentores da nova gestora.

GILBERTO BATISTA DE ALMEIDA é engenheiro eletricista e ex-político, escreve quinzenalmente às quintas nesta coluna

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