Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho
Abominável frio
Vejo notícias no jornal de que haverá queda de temperatura no Sul e Centro-Oeste de Minas. É onde vivo, ou melhor, procuro viver. E quando se fala em queda de temperatura, logo sou atacado de queda de humor. A partir daí não sou mais o mesmo. Não gosto do frio e nem de falar no frio. Tenho horror a frio.
Tenho comigo – desculpem se estiver errado – o frio em excesso tem algo a ver com a morte. E morte, por mais que tente compreender seu mistério, por mais me faça forte, ousado e corajoso para enfrentá-la, por ela tenho um sentimento frívolo de medo, dor, antipatia e até mesmo uma certa angústia atrelada à covardia, o que não escondo de ninguém.
Mas o frio intenso é de doer nos ossos. Os médicos explicam bonito. Falam em “contração dos músculos e das articulações, vasoconstrição dos vasos sanguíneos, agravando as dores”. Em seguida – parecem forças controladas – vêm os motivacionais para explicar como nos proteger das baixas temperaturas. E falam em alimentação, exercícios físicos, como o corpo deve ser mantido para sofrer o mínimo possível, enfim, tudo aquilo que pra mim ficou para trás, nem por ordem superior acho jeito de fazer.
A verdade é uma só, como não sou bom em razão do estilo de vida que resolvi abraçar ao longo do tempo, não me perco nos arrebatadores discursos. Digo apenas que o frio enche o saco, muito especialmente incomoda gente como eu, passado dos sessenta. Via dos fatos, acumula dores e incômodos pelo peso da idade. E por mais tente fazer o que querem que faça, continuo dizendo a mesma coisa para quem quiser ouvir: – abomino o frio e dele faço adversário no hoje e sempre.
A população que mora em situação de rua deveria merecer os cuidados dos agentes sociais do governo e das pessoas em geral. Como pagamos impostos, a política pública precisa se valer. Honrosas exceções, não é o que se vê. Deixam de ajudar. Privada dos direitos socioeconômicos, o que se passa na mente e corpo de quem vive a pobreza extrema é lastimável e deprimente.
Sabe-se, ali, existem problemas tão terríveis que fogem à compreensão humana. Lares destruídos, cadeias produtivas que foram para o ralo, pessoas que se deixaram levar pelas drogas para se entrincheirar numa droga de vida que foge à compreensão humana e muitos desembocam no mundo podre do crime. No geral, outros problemas em conjunção se agravam para a sociedade humana. Ainda que sobrevivam às intempéries e ao estilo nada agradável de sobrevivência e aos padrões da normalidade, o sofrimento é atroz para tudo e todos. Somos um elo!
Está certo, de um jeito ou doutro a maioria se arranja e o menos favorecido, o mais fraco, morre enregelado nos logradouros dos desarranjos sociais. A esses não apenas o elevado grau de solidariedade humana, mas a compaixão em stricto sensu. Que os homens que se dizem cristãos se atentem para os tais nessa situação.
Algo precisa ser feito e para ontem. Quando lanço meu repúdio àqueles que podem fazer e não fazem. Meu carinho especial às igrejas [saudade de Sara Nossa Terra] e organismos sociais que municiam ajuda à população em situação de rua. Na prevalência, o trinômio: oração, fé e obras.
Talvez por isso não suporte tanto as baixas temperaturas. Deixemos o inverno rigoroso para quem dele goste e até faça proselitismo. Nem em filmes de Papai Noel sou entusiasta. Nos filmes a que assisto, muito que ocorre nas tramas é fantasiado; pregam-nos peças para nos levar e enlevar, sem que ninguém me obrigue, a manta sertaneja é item fundamental em psicológicos momentos. E tem sido assim, nos últimos tempos. Ainda que a temperatura não faça sugestão.
Antigamente até que gostava do inverno e de frio. Era moço, forte e sadio. Hoje, não. Meço queda-de-braço com as baixas temperaturas, não mais falo em ir a Gramado, no Rio Grande do Sul. Prefiro calor ao frio. Aliás, nada em excesso. Tudo regrado no bom e salutar. Se a virtude está no meio, tudo como o velho gosta.
Que coisa!
Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)