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O xis da questão

Foto: Reprodução

 LUIZ GONZAGA FENENLO NEGRINHO

 

Os espaços de cada um devem ser respeitados na medida das normas e da lei. Isso serve para todos em todo e qualquer lugar e circunstância. E valem para países equidistantes.

 

Afora o respeito institucional, não tenho primoroso afeto pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Por questão de educação nutro respeito a um monte de gente de que não gosto.

 

Pelo governo Lula, vejo aspectos positivos em sua administração, números em pesquisas populares positivamente atestam, mas não deixo de me manifestar contra o que está fora do eixo.

 

Dois exemplos a serem destacados. Um deles quando escorregou-se no tomate, quando da despropositada recepção ao ditador venezuelano Nicolás Maduro em maio do ano passado. Pegou mal para um governo que se diz e se propõe democrático. Fazer mesuras e salamaleques a quem mata e tortura, em absoluto, não.

 

Outro caso, não tão distante, a infeliz comparação entre a Gaza e o Holocausto. Apesar dos pesares – e há dor, ranger de dentes e comoção na história – não há de se comparar os ataques à Faixa de Gaza com o Holocausto, o mais horrendo espetáculo de morte e atrocidades da história, em que Hitler eliminou cerca de cinco milhões de judeus, entre outros tantos. Com efeito, o governante brasileiro adotou postura inadequada. Gerou mal-estar por aqui e nos meios diplomáticos internacionais.

 

No mais, tem se empenhado para arregimentar forças para melhorar o Brasil em muitos setores, caso específico do agronegócio. O nosso país, o grande celeiro em grãos, cuida de alimentar o mundo. E no seu governo com mais energia e vigor. Os números apontam para uma produção sustentável de alimentos, que envolveram o Plano Safra 2023/2024 no valor de R$ 364,22 bilhões de reais. Com detalhe a ser reconhecido: a baixa emissão de carbono.

 

Ainda que a direita torça o nariz, as medidas foram bem recebidas pelo setor. E de fato não há motivo para o não reconhecimento. Afinal, numa comparação com o governo anterior, Lula ganha disparado, embora não se entenda como agropecuaristas de peso não aceitam a verdade em razão dos números estabelecidos. Explica-se, lamentavelmente. A ideologia atrófica os tonteia e entorpece. Fazer o quê?

 

Agora essa do bilionário sul-africano, naturalizado norte-americano, Elon Musk, intrometer-se em assuntos institucionais brasileiros não dá e passou dos limites. Cuidemos nós de nossas hortas, canteiros e galinheiros. E até mesmo o “pé de capim”, dicção do presidente Lula, pode entrar no contexto, com as honras de estilo.

 

É de causar espécie que setores do extremismo de direita do parlamento ainda venham defender o bilionário Musk, ele dono do X (ou Twitter) deixando de lado “o poder absoluto e perpétuo de um Estado-Nação”, para melhor entendimento leia-se a soberania nacional. Não há porque, então, meter o bedelho.

 

Sem entrar no mérito da gestão operacional da empresa e o inquérito que investiga as milícias digitais, a ofensiva da extrema direita parece gostar de cheiro de pólvora, situação de pânico, o esgoto mais deprimente da política brasileira. É o que estamos assistindo nos debates na Câmara dos Deputados. E é inegável que as relações espúrias das milícias se inter-relacionem.

 

Independente de como Lula se relaciona a Alexandre de Moraes, Elon Musk deve cuidar de seus brinquedinhos de voar para, quem sabe, alguém chegue ao espaço ocupada por corpos celestes como se ilha da fantasia fosse por intermédio de seus engenhos. A forma como se referiu ao ministro Alexandre de Moraes foi extremamente deselegante: “Como Alexandre de Moraes se tornou ditador do Brasil? E tem Lula na coleira”.

 

Aos fatos. Em 2018, o ministro Alexandre de Moraes, então ministro do Supremo Tribunal Federal, decidiu negar pedido de liberdade feito pela defesa pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Alexandre votou contra o famoso placar de 6 a 5. Lula amargou 580 dias na prisão. E não ficou nisso. E rejeitou outro pedido para que o recurso fosse julgado pela Segunda Turma da Corte e não pelo plenário. E se da prisão saiu porque ficou provado juridicamente ser vítima de perseguição por parte do então juiz Sérgio Moro. São fatos incontestáveis.

 

Até onde se sabe, Alexandre de Moraes não foi e não é nenhum anjo da guarda do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em sendo assim, a queda de braço entre Musk e Moraes se explica por desobediência a ordens judiciais, o que é crime. Os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (2019-2022) entram de carona no conflito em estado de gozo, mesmo com a inexistência de graça. E é feio.

 

Entretanto, assegurar, pelas voltas que a vida dá, que o dedo e a cabeça nada cabeluda de Alexandre de Moraes têm a ver com oficiais poderes influentes da nossa república, quanto a isso não há de se botar a mão no fogo para não se queimar. Neste universo pode residir o xis da questão na intensidade de muitos blogs e nos mais variados tweets da vida.

 

Por último, o presidente da Argentina, Javier Milei, oferece ajuda a Elon Musk no conflito judicial da rede X no Brasil. Em meio à disputa, a oportuna e proposital frase latina, como uma luva: “Asinus asinum fricat” (um burro coça o outro).

 

Em leve e providencial interpretação, trata-se de excesso de elogios e rapapés de lado a lado. Afinal, os dois se merecem: Milei e Musk. Uma volta à lua de mel, aí, sim, de graça, com direito àquilo que, no aconchego selvagem, o almíscar pode proporcionar.

 

LUIZ GONZAGA FENELON NEGRINHO, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)

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