Opinião

O João jamais saberá

8 de agosto de 2024

FOTO: Reprodução

GILBERTO ALMEIDA

 

O interesseiro é capaz de voltar a falar e ser simpático com a pessoa que não gosta para conseguir o que quer com ela”  – Anderson Silva

A lealdade e o companheirismo são virtudes fundamentais na política, pois refletem o compromisso dos líderes com seus princípios, valores e, principalmente, com os eleitores que os elegeram. Essas qualidades criam um ambiente de confiança e estabilidade, permitindo a construção de políticas públicas consistentes e a formação de alianças duradouras que visam o bem comum. Quando políticos demonstram lealdade, mostram respeito pelas suas promessas e pelos seus colegas, fortalecendo o sistema democrático.

No entanto, nos dias atuais, observa-se uma crescente tendência de políticos mudarem de partido ou de aliança conforme suas conveniências pessoais, o que gera uma percepção de falta de comprometimento com ideais e princípios. Esse fenômeno é frequentemente criticado, pois transmite a imagem de que os interesses individuais prevalecem sobre o bem coletivo, enfraquecendo a confiança da população nas instituições políticas. Além disso, a prática do “toma lá da cá” se tornou uma constante, onde o governo consegue aglutinar políticos oferecendo cargos, verbas públicas e benefícios cuja natureza só mesmo Deus sabe.

Nesse cenário, muitos prefeitos conseguem sustentar governos mesmo onde há uma evidente carência de serviços públicos essenciais, como saúde e limpeza urbana, falta de materiais básicos na educação, inexistência de políticas habitacionais, estradas rurais abandonadas por anos, urbanismo sendo tratado com obras de prazo infinito e qualidade discutível e uma assistência social que caminha a passos lentos. Isso ocorre porque esses gestores cooptam políticos, lideranças, órgãos de imprensa e jornalistas em troca de benesses pessoais e polpudas verbas públicas. Essa troca de favores, além de corroer a ética política, desvia recursos que deveriam ser destinados ao bem comum, priorizando interesses pessoais e de grupos em detrimento da população.

Exemplos recentes ilustram essa situação em Minas Gerais, primeiro quando o Deputado Estadual Cássio Soares após 4 anos de uma oposição aguerrida e até mesmo ácida, com reações do governador do Estado que foi   grosseiro com ele em uma de suas visitas a Passos, agora aderiu ao governo se tornando líder de um bloco governista, que, no entanto continuou sendo o mesmo governo e e com o  mesmo estilo, porém tudo o que um dia mereceu críticas foi relativizado. Para completar os exemplos e com chave de ouro, há poucos dias o governador Romeu Zema e seu feroz adversário nas eleições de 2022, Alexandre Kalil, se uniram em apoio a Mauro Tramonte nas eleições municipais de 2024. Essa aliança inusitada chama a atenção, pois evidencia como as circunstâncias políticas podem levar a parcerias inesperadas, independentemente de rivalidades passadas. Essa união, embora possa ser vista como uma demonstração de pragmatismo, também levanta questões sobre a coerência e a constância de posições políticas, aspectos que são cruciais para a confiança do eleitorado.

Mas eu acho que essas coisas são os sinais da evolução dos tempos, que esse velho colunista não conseguiu acompanhar. Afinal, ainda criança, observava em minha casa, reuniões com importantes políticos como Geraldo Freire, Manuel Taveira e Joaquim de Melo Freire, este último responsável pela indicação de meu pai Humberto de Almeida para disputar e se eleger por 3 vezes ao cargo de deputado estadual, que partiu muito cedo mas me deixou lições preciosas de vida e de política. Esses homens, oriundos da UDN e naquele momento pertencentes à ARENA, carregavam consigo uma forte característica  de frequentar o mesmo  lado da política e serem fiéis aos companheiros. Tempos depois, já com meus trinta anos, convivi com José Figueiredo, cujo nome na política de Passos e em Minas Gerais dispensa comentários e depois com Nelson Maia, cuja linha política foi sempre pautada pela  coerência, companheirismo e lealdade e mesmo sem ter maioria na Câmara, aprovou todos os seus projetos, sem praticar nenhum tipo de barganha, que não era do feitio, nem do Prefeito e nem dos vereadores oposicionistas, dentre os quais o Vereador Edmílson Amparado,  até hoje  um destaque de político sério e muito competente naquela Casa . E aí me lembro do maior secretário de Planejamento que essa cidade já teve, Roque Piantino, que sempre me ensinou que “o que Joãozinho não aprendeu, João jamais saberá” e concluo que exatamente por isso não conseguirei jamais compreender a conduta dos novos políticos.

A propósito, no momento em que candidatos a vereador promovem shows de incoerência e artificialidade para granjear votos, chegando ao surpreendente fato de assistirmos  evangélicos homenageando Santas católicas, os passarinhos cantaram que um determinado presidente de um partido nanico, teria aderido a um grupo em troca da promessa de ocupar um cargo na Prefeitura e de preferência como titular da SICTUR. Cuidado, amigo, porque uma das coisas que não abordei em minha coluna de hoje e que compõe o “modus operandi” deste grupo,  é o costume de não cumprir acordos…

E já que o assunto de hoje abordoou o tema coerência, quero pontuar aqui que seria uma medida de respeito ao Poder Legislativo, se isto ainda existir, que o senhor Secretário de Saúde refizesse sua resposta enviada à Câmara Municipal pelas aparentes divergências com sua entrevista à esta Folha.

“E la nave vá” seja “pra frente” ou “pra riba”, mas, de qualquer jeito, sem um destino promissor.

GILBERTO BATISTA DE ALMEIDA é engenheiro eletricista e ex-político, escreve quinzenalmente às quintas nesta coluna