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O incrível Homem da Capa Preta e sua Lurdinha

LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO

Quem procurar pelo nome de Tenório Cavalcanti em enciclopédias ou na internet, encontrará o nome do cidadão: Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque. Trata-se de um cidadão nascido em 27 de setembro de 1906, em Palmeira dois Índios, no Estado de Alagoas. Faleceu em 05 de maio de 1987, em Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro, antes de completar 81 anos de idade. Foi casado com Valquíria Lomba Cavalcanti e teve três filhas: Sandra Cavalcanti Freitas Lima, Maria do Carmo Cavalcanti Fortes e Maria Helena Cavalcanti.
Sua fama como o homem da capa preta era porque usava uma grande capa preta e sob ela carregava uma metralhadora, cujo apelido era: “lurdinha”. Não consegui pesquisar o motivo do apelido. Provavelmente, possa ser algum afeto escondido, guardado em segredo por alguma antiga paixão cujo nome era Lourdes, ou outra lembrança, ou outro motivo qualquer. Estou, apenas, conjecturando.
Formou-se em direito pela Faculdade Nacional de Direito – FND/UFRJ em 1945. Estudou também no Colégio Pedro II, CMPIS Centro (1932). Era filho de Antônio Tenório Januário Cavalcanti de Albuquerque e Maria Cavalcanti de Albuquerque.
Tenório Cavalcanti teve uma vida modesta até sua adolescência, seus pais eram pequenos agricultores, que depois venderam a propriedade por necessidade. Havia, no seu estado de origem, muitas brigas por questões de terras.
No Rio de Janeiro, ele começou como empregado. Aos poucos, foi crescendo, até entrar na política, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. A trajetória da vida de Tenório Cavalcanti é um verdadeiro filme de longa-metragem, mas longa, mesmo. Aliás, fizeram dois filmes baseados nele. Ele foi notícia de jornais, de televisão, da mídia em geral. Sua trajetória política foi, também, banhada em sangue. Eu me lembro de ler muitas notícias sobre ele. Ainda tinha a fama de ter o corpo fechado, vários foram os tiros que recebeu em seu corpo e que, mesmo assim, sobreviveu. Envolveu-se em inúmeros incidentes violentos, matou, foi acuso de assassinatos, foi preso, conseguiu liberdade, envolveu-se com políticos de vários tipos, foi candidato a governador do então Estado da Guanabara e, também, do Estado do Rio de Janeiro, não venceu, mas foi deputado federal e até reeleito.
Um fato curioso é contado sobre ele. Tenório Cavalcanti teve uma altercação com Antônio Carlos Magalhães no plenário da Câmara Federal. Contrariado ou provocado por Antônio Carlos Magalhães, o famoso e polêmico político baiano, Tenório sacou a arma e lhe disse que iria matá-lo. Alguns parlamentares correram, outros tentaram pedir-lhe para se acalmar, foi um alvoroço. Antônio Carlos Magalhães lhe dizia para atirar, mas ao mesmo tempo teve uma incontinência urinária e se molhou todo. Tenório riu da situação e disse que só atirava, para matar, em homem. Guardou sua arma e não levou à frente sua intenção.
Na região de Duque de Caxias, por questões de terras, disputas políticas, rixas violentas, o perigoso e polêmico político fez amigos, correligionários e também colheu muitos inimigos. Envolveu-se em muitas brigas, foi acusado de assassinatos, levou tiros, sobreviveu. Enquanto isso, sua ascensão política foi crescendo. Sua fama foi se espalhando. Tendo se formado advogado, defendeu um tenente-aviador, provavelmente da FAB, não se menciona se era de outra entidade militar. O tenente foi acusado de assassinato. Tenório envolveu-se em sua defesa, propagou por todos os cantos que os assassinos eram parentes de altas personalidades ligadas ao presidente Getúlio Vargas. Mesmo assim, o tenente foi condenado a quinze anos de prisão. Cumpriu a metade da pena e foi solto em liberdade condicional. Tenório participou como advogado ainda em inúmeros outros casos criminais.
Em certa ocasião, Tenório teve umas contendas violentas com um delegado por nome Joaquim Façanha. Ele havia tido várias brigas e tiroteios vitimando pessoas. Ele alegava que foi tudo provocado pelo delegado. Numa dessas brigas, Tenório levou alguns tiros e foi internado num hospital, tendo antes, matado seu agressor. Ele era bom atirador. Uns tempos depois, o delegado foi assassinado dentro de um trem. Tenório foi acusado pelo crime. Foi condenado e levado para a Casa de Detenção. Conseguiu um “habeas corpus”, foi colocado em liberdade. Resolveu refugiar-se em Alagoas por uns tempos. Provavelmente, por receio de ser tomado de surpresa numa tocaia por alguém que desejasse vingar o delegado.
Há uma infinidade de acontecimentos violentos, de crimes, assassinatos, brigas, desavenças, não só por disputas de terras, mas por questões políticas na vida do famoso, polêmico e violento deputado Tenório Cavalcanti. Em jornais, escritos ou falados em emissoras de rádio, revistas e livros, há inúmeras narrativas que não caberiam aqui no nosso espaço. Na internet mesmo, nos dias de hoje, há muitos textos de historiadores e recortes de reportagens de jornais estampando as proezas do nosso “herói”. É claro que, pelos acontecimentos em sua trajetória, a corrupção deve ter feito parte, de uma ou outra forma. Não me consta que tenha ficado milionário, como estão hoje vários políticos da atualidade. Alguns, porque já vieram de famílias ricas; outros, porque se fizeram ricos por métodos nada ortodoxos.
No caso de Tenório Cavalcanti, para quem gosta de histórias ligadas à política, vale pesquisar e ler sobre ele.

LUIZ GUILHERME WINTHER DE CASTRO, professor de oratória e de técnica vocal para fala e canto em Carmo do Rio Claro/MG, ex-professor do ensino comercial com reg. no MEC, formado no curso normal superior pela Unipac. E-mail: luizguilhermewintherdecastro@hotmail.com

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