PAULO ROBERTO CORÓ FERREIRA
Na década de 1960, no Carmo, em um bairro rural, chega um fazendeiro em sua fazenda e logo seu empregado pede para falar com ele em particular. O empregado, mais ansioso que anão em comício, aparentava estar muito aborrecido e logo se dirigiu ao fazendeiro:
– Patrão, preciso de um favor.
– Diga logo meu amigo. O que está acontecendo?
– Queria que o senhor vendesse os meus leitões urgente.
– Mas companheiro, mais erados você os venderia por um preço bem melhor. Quem sabe você espera mais um pouco?
– Tenho pressa patrão. Preciso comprar uma garrucha.
– Que isso?!?! Por que isso agora?
– É que o senhor fulano está tendo um caso com a minha mulher e eu não posso deixar isso assim. Preciso da garrucha para matá-lo.
– Rapaz, você está com a cabeça quente. Pense melhor, repense, isso vai acabar com sua vida.
– Já pensei e repensei patrão. Minha honra está em jogo. Volto atrás não.
– Tá bem, fique tranquilo que vou procurar um comprador para seus leitões.
Preocupado, o fazendeiro voltou apressado para a cidade e logo foi na casa do fulano, muito seu amigo, para lhe avisar das intenções de seu empregado. Lá chegando, explicou o caso para o amigo e este lhe respondeu:
– Agradeço de coração você vir me avisar e alertar, mas gostaria de um favor.
– Estou ao seu inteiro dispor.
– Você se incomodaria de me levar na sua fazenda? Quero falar com seu empregado.
– Que isso?!?! Você não acha perigoso ir lá nesta situação?
– Claro que não. Vamos?
E seguiram para a fazenda. Lá chegando o fulano chama o empregado e começa o seguinte diálogo:
– Seu patrão me disse que você tem bons leitões e está querendo vendê-los.
– Sim senhor.
– Pode me mostrar?
– Claro. Vamos lá.
Conversa vai, conversa vem, o fulano arremata a negociação:
– Mas que belos leitões você tem. Está de parabéns por criá-los tão bem. Posso pagar “x” pelo lote todo.
O valor oferecido era bem maior que o empregado esperava receber pelos leitões. Além do mais, ele gostou do elogio e da prosa do fulano e aceitou a proposta com muita satisfação. Apertaram as mãos, entregou os leitões e recebeu à vista.
Passada uma semana o fazendeiro encontra o empregado sozinho, com um dos pés na cerca de tábua do curral, um raminho de capim na boca, o olhar perdido no horizonte e lhe pergunta:
– Você conseguiu comprar aquela garrucha que queria?
– Não. Larguei mão.
– Uai, mas e aquela história da sua honra e da pressa para matar o fulano?
– Sabe o que é patrão? Eu gostei do fulano, me pareceu um homem bom e refinado. Nós fizemos um bom negócio, ele elogiou e comprou meus leitões, pagou um bom preço, então acho que vou esquecer esse assunto e largar isso pra lá. Vai que pra frente ele e eu fazemos outros negócios, não é? Homem ajeitado tá ali…
E a vida continuou calma e serena por aquelas bandas rurais…
PAULO ROBERTO CORÓ FERREIRA é carmelitano, pós-graduado em Ciência da Computação pela UFMG. É autor do livro “Viagem pela Alma Carmelitana”, lançado em 2021, com as histórias de sua terra.