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O espetáculo Pablo Marçal

FOTO: REPRODUÇÃO

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

Por aliados, um gênio da lâmpada de Aladdim. Aquele mesmo, em que se esfrega a lâmpada, surge o Gênio Azul, com precisão faz-se os pedidos e como uma ordem, os pedidos são atendidos. Por adversários, um bandido que vive à custa de pobres cabeças pensantes e que facilmente se deixam imbuir e levar através do que chamam de “cortes”, ou seja, vídeos curtos e impactantes para quase sempre grandes negócios.

De quem estou falando? Claro, dele mesmo: o paradoxo, o ousado, o temível, o “sucesso em pessoa”, Pablo Marçal.

Pablo Henrique Costa Marçal é um empresário de 37 anos, nascido em Goiânia, filho de uma faxineira e um servidor público. Começou a vida modestamente. Segundo ele próprio, “possui uma fortuna milionária e milhões de seguidores, porque utiliza-se de segredos para desbloquear a mente e ter resultados acima da curva, não só do ponto de vista financeiro, mas, também, de controle emocional”.

Candidato à prefeitura de São Paulo pelo pequeno partido PRTB, ou Partido Renovador Trabalhista Brasileiro, o ex-coach não deixa de ser um fenômeno de mídia. Os números mostram isso. Com 12,9 milhões de seguidores no Instagram – no campo político – só perde em quantificação numérica para os dois candidatos que fizeram até então o maior embate político da história brasileira: Luiz Inácio Lula da Silva (13,5 milhões) e Jair Messias Bolsonaro (25,7 milhões).

A princípio, sua vida de “milhões” não tinha absolutamente nada para acontecer, mas foi acontecendo, graças à sua expertise e performance em manipular pessoas através de suas estratégias e habilidades. São narrativas, muitas das quais acabam se transformando em ‘memes’, não importando a forma como isto se dá, se de maneiro positiva ou negativa. O importante, para Pablo Marçal, é estar no inconsciente coletivo. E cita, entre outros, Silvio Santos, Lula, Bolsonaro etc.

É um “maluco beleza”, ao estilo Raul Seixas, que nasceu há dez mil anos atrás? Não há de se botar fé. Todavia e muitos creem nisso, é uma figura já na consideração mítica pelo menos no que diz respeito às suas palestras motivacionais. A própria mídia o construiu e ele dá ibope. Todos querem entrevista-lo, saber de suas tacadas no campo até mesmo da insubordinação.

Há quem nele acredite e até entenda suas posições recheadas de muita discussão, no que acaba gerando desconforto e atentados ao bom comportamento da vida humana e seus princípios básicos. Como, de fato, existe incoerência em muito do que produz e a massa ignara costuma embarcar em amalucados jogos, de tempos em tempos haverá um “pablito marçal” para confundir o espetáculo do dia a dia de nossas vidas.

O que mais causa espanto, não é para menos, é o que se verificou após a famosa cadeirada de Datena em Marçal no debate da TV Cultura (15/09). Depois de tudo, o ex-coach falou em vídeo sobre o caso. Explicou que, após a cadeirada “dava para ir correndo para o hospital” e que o vídeo em que aparece dentro de uma ambulância era “cena”. E mais, segundo Marçal: “Eu dava conta de segurar aquela cadeira, eu dava conta de agredir aquele cara. Dava conta de tudo”.  Em síntese, é o relato.

A pergunta que fica no ar, para respostas não obtidas no campo da lei. Entre ofensas, calúnias, agressões morais e físicas, por que mesmo a Justiça não cuidou de pronunciar-se? Permaneceu e permanece queda, inerte e silente, no máximo, vem passando panos quentes?

Pois essa é a cara do Brasil, em que o errado é o certo, o dito fica pelo não dito. Com o perdão do momento e da expressão: viva a República das Bananas!

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)

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