27 de junho de 2024
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GILBERTO ALMEIDA
“Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito” –Georg C. Lichtenberg
Eu devo confessar que a cada dia meu desalento aumenta com aqueles que estão no Poder. Não somente no executivo, como também nas carreiras parlamentares, a política deixou de ser uma ciência grandiosa para se tornar um mercado persa de troca de favores e um desfile asqueroso de autoridades voltadas apenas para seu projeto político, atropelando, com o uso indecoroso da função assumida, todos aqueles que não lhes aplaudem. Tudo começa pela contratação e nomeação de uma lista sem fim de apaniguados políticos, que terão como função maior participar da patética claque a aplaudir, muitas vezes sem sequer saber do que se trata. A ordem é fazer politicagem a favor de alguém, pagos com dinheiro público.
Quem está no poder, eleito pelo povo, tem o direito e a responsabilidade de escolher sua assessoria para cargos de recrutamento amplo. Essas pessoas, naturalmente, são comprometidas com o projeto político do gestor, colaborando para a realização de promessas e a implementação de políticas que atendam aos interesses da sociedade. São contratadas para trabalhar e espera-se que tenham a mínima competência para exercer o cargo para o qual foram nomeados. Contudo, há uma linha tênue que separa a gestão legítima da tirania. Inchar cada vez mais a debilitada máquina pública, que muitas vezes sequer tem o número de cadeiras suficientes para dependurar os paletós, pode gerar numerosos séquitos do governo, mas dificilmente conseguirão resultados nessa congestionada máquina pública. Outra atitude comum desses soberbos gestores e a de perseguir trabalhadores efetivos em razão de posicionamento político contrário, ou mesmo, pasmem senhores, interferir na iniciativa privada para pressionar pela demissão de supostos adversários políticos, praticando uma hedionda atitude arbitrária e tirânica.
Imagine o pai de família que, após anos de dedicação e suor, é subitamente demitido não por incompetência ou falta de desempenho, mas simplesmente por pensar diferente do gestor em poder que usa da máquina administrativa para alcançar o intento de prejudicar pessoas. Aquele trabalhador que, com seu salário, sustenta os filhos, paga o aluguel, e coloca comida na mesa, vê seu mundo desabar por causa de uma retaliação política mesquinha e abominável. Esse é o tipo de crueldade que nenhuma sociedade justa pode tolerar.
Ao praticar essa perseguição, o gestor estará não apenas desvirtuando a nobre função pública, mas também usando a máquina pública de forma ilegal e imoral. Interferir em empresas que prestam serviços para a administração pública com o objetivo de castigar opositores é um atentado contra os princípios democráticos e os direitos humanos mais básicos.
A curto prazo, o gestor pode sentir que está fortalecendo seu controle e eliminando a oposição. O Poder tem esse problema: pessoas imaturas e despreparadas para comandar, invariavelmente passam a acreditar que podem tudo, que são os todo poderosos e que manipulam tudo com o poder do dinheiro, não percebendo o quanto serão desconstruídas quando os fatos chegam ao conhecimento da população. E quando isso acontece, a indignação cresce como uma onda avassaladora e mesmo disfarçando bem, essas pessoas perderão a admiração e o respeito das população, pois, ficará claro para todos a índole de quem isto pratica. A comunidade que valoriza a justiça e a dignidade do trabalho condenará com veemência o ato praticado. A confiança no gestor que se presta a atitudes tão tacanhas será irreversivelmente abalada, resultando em rejeição e desprezo como ser humano e também, porque não, nas urnas.
Além da reprovação popular, existe uma convicção profunda de que a justiça divina não falha. A crença de que, em algum momento, aqueles que agem de forma inconsequente e violenta, retirando o ganha-pão de trabalhadores honestos por picuinhas politicas, enfrentarão as consequências de seus atos. A justiça divina ou cósmica é vista como a última guardiã da moralidade, punindo aqueles que, cegos pelo poder, se esquecem da humanidade.
Pensemos na mãe que, ao ver seu filho perder o emprego por perseguição política, sofre a angústia de não saber como sustentar sua família. Pensemos no jovem profissional que, em início de carreira, é barrado por expressar uma opinião contrária ao governo. Essas pessoas, suas histórias, suas dores, são reflexos de uma sociedade que não pode fechar os olhos para a tirania.
A crueldade praticada um dia será punida. O grito de justiça daqueles que foram injustiçados ecoará até que ressoe nos corações de todos, lembrando-nos que a verdadeira força de uma nação reside na sua capacidade de proteger os direitos de seus cidadãos, independentemente de suas crenças ou opiniões políticas. Que nunca nos esqueçamos de que a dignidade humana é inalienável, e qualquer tentativa de silenciar ou punir a diferença de pensamento é um ataque direto à nossa própria humanidade.
Dedico a coluna de hoje ao radialista Marcos Lopes.
GILBERTO BATISTA DE ALMEIDA é engenheiro eletricista e ex-político, escreve quinzenalmente às quintas nesta coluna