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Notícia boa, todos os dias

Foto: Reprodução

 Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

Começar o dia já é, por si só, uma vitória. Para muitos, despertar não é apenas abrir os olhos, mas encarar, mais uma vez, um mundo que exige muito e oferece pouco. Há quem acorde no susto, interrompido pelo relógio ou pela preocupação. Outros despertam no silêncio, quase a contragosto, com os olhos ainda presos ao escuro da noite. Mas todos, sem exceção, carregam o mesmo desafio: seguir em frente.

Num tempo em que tudo acontece rápido – e ao mesmo tempo –, manter-se informado é mais que hábito: é uma necessidade urgente. Mas não basta saber o que acontece. É preciso entender como acontece e, principalmente, por que acontece. Nessa travessia diária entre a ignorância e o discernimento, os bons veículos de comunicação fazem diferença. E não apenas pela notícia em si, mas pela maneira como a notícia é contada.

A boa notícia, hoje, é quem escreve com verdade. Quem escolhe as palavras com respeito, quem olha o leitor não como consumidor, mas como um semelhante. O bom texto não grita, não mente, não exagera. Ele informa com clareza, edifica com propósito e respeita a inteligência de quem lê. Em tempos de barulho, ruído e manchetes vazias, a palavra depurada é quase um ato de resistência.

Viver, convenhamos, não é tarefa simples. É preciso fôlego para atravessar os dias. Há dores que não cabem em diagnósticos, há cansaços que desafiam o descanso. Ainda assim, o mundo se mantém de pé porque há quem insista: o pedreiro que acorda antes do sol, a mãe que enfrenta fila de SUS com o filho no colo, o estudante que cruza a cidade com fome e esperança. Gente que não vira manchete, mas que mantém a vida em movimento.

Essas pessoas – anônimas, mas essenciais – sustentam a vida. Merecem mais do que promessas e ruídos. Merecem palavras que acolham, manchetes que expliquem, textos que não sejam armadilhas. Merecem jornalismo com alma. E nós, que escrevemos, temos uma escolha a fazer: usar a caneta como aliança ou como espada. Que seja aliança.
A vida, sabemos, não é um roteiro leve. Tem entraves, frustrações, tropeços. Mas tem também lampejos de beleza.  Uma conversa boa no ponto de ônibus, uma gentileza inesperada, uma criança que sorri para o céu. E, no meio disso tudo, existe uma força silenciosa – não o heroísmo das capas, mas a persistência de quem, mesmo abalado, escolhe não se render. Essa decisão de continuar é, muitas vezes, uma oração sem palavras. Uma fé que não depende de religião, mas que acredita que vale a pena continuar – mesmo sem garantias.
É por isso que a fofoca precisa calar. Que o sensacionalismo precisa ser recusado. Que a mentira, disfarçada de notícia, precisa ser combatida com firmeza. A vida já é complicada demais para que se perca tempo com o que não edifica. Que se fale, sim, do que é duro – mas com honestidade.   Que se denuncie, mas sem destruir. Que se compartilhe, principalmente, o que faz bem.

A boa notícia de cada dia não está apenas nos jornais. Está no gesto de quem ajuda sem pedir nada em troca. No vizinho que olha a correspondência do outro. No pai que, mesmo desempregado, não deixa faltar afeto. No jovem que respeita o idoso. Está, sobretudo, em quem escolhe a verdade – mesmo que ela não dê audiência.

Quem escreve com verdade, quem lê com atenção, quem vive com coragem – todos esses fazem diferença. São eles que nos lembram que, apesar de tudo, viver ainda é a melhor coisa que podemos fazer.

Um viva à vida, com tudo o que ela traz. Que a boa notícia de amanhã comece hoje – com cada um de nós. Porque no fundo, é disso que se trata: reconhecer o valor de cada instante, de cada escolha sincera, de cada gesto que brota do bem.

Viver com coragem e verdade é, todos os dias, a melhor notícia.

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado. (luizgfnegrinho@gmail.com)

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