Opinião

No compasso do outro

30 de junho de 2025

Foto: Reprodução

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

_“O respeito ao outro é a base de toda convivência”_

Vivemos tempos apressados. As pessoas se cruzam, mas nem sempre se enxergam. Escutam, mas pouco se ouvem. Cada um com seus compromissos, seus problemas, seus pesos — e pouca disposição para notar o que o outro carrega. Nesse cenário, a empatia, que parece palavra gasta, ganha contornos de urgência.
Empatia não é favor, nem sentimentalismo. É maturidade emocional. É parar de pensar apenas a partir de si. É, por um instante, calçar os sapatos do outro, mesmo que eles não nos sirvam.
Ela está nas pequenas cenas do dia a dia: no balconista que percebe o cansaço do cliente; na atendente que escuta mais do que o protocolo exige; no médico que entende que, antes da receita, o paciente precisa de acolhimento. No advogado que, ao receber o cliente, sabe que está diante de alguém que não busca apenas uma solução jurídica, mas apoio, escuta e remédio para uma dor que muitas vezes o mundo ignora. No motorista de ônibus que entende o atraso não como desrespeito, mas como sobrevivência. Nas pequenas atitudes, a empatia se revela.
E isso não significa que vamos resolver os dramas alheios. Significa apenas que não vamos ignorá-los. Que seremos menos apressados no julgamento e mais atentos à escuta. Que vamos, quem sabe, suavizar o que é áspero, humanizar o que está duro demais.
Em tempos de confrontos fáceis e opiniões afiadas, a empatia desarma. Ela não grita, observa. Não disputa razão, procura sentido. Onde há empatia, há menos vaidade e mais cuidado. E isso pode mudar muito.
Talvez seja por isso que, mesmo sem fazer barulho, a empatia permaneça entre os gestos que ainda sustentam o que nos resta de civilização.
E é pela solidariedade que isso faz sentido: quando dividimos o peso, multiplicamos o alívio.
Se cada um carregasse um pouco mais do outro, o mundo seria mais leve e menos cruel.
Talvez seja utopia, dirão alguns. Mas é uma utopia necessária: acreditar que é possível, sim, caminhar no compasso do outro, não para viver a vida dele, mas para lembrar que ninguém caminha sozinho de verdade. Mas juntos!

          Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho é advogado e cronista. (luizgfnegrinho@gmail.com