PASSOS – Na semana de celebração da Consciência Negra, o músico passense Junior Fábio da Silva anunciou que deixou de usar o nome “Juninho Dezessete”, como já foi conhecido, por um novo nome artístico, Juninho Dasilva.
Segundo ele, a durante muito tempo teve seu nome foi atrelado ao número 17, número do macaco no jogo do bicho. Após compor uma música sobre preconceito, ele resolver mudar o nome artístico.
“Eu e meu parceiro Vinícius Leal fizemos uma canção falando de preconceito e aí eu fiquei pensando, mas tá errado, meu nome não pode ser esse”, disse o músico em depoimento nas redes sociais.
“Eu não posso carregar esse nome mais, porque eu tou falando, na minha música, de preconceito, de racismo que nós, negros, sofremos na sociedade e tou carregando esse nome, tou carregando o racismo, nas costas”, diz. “Não faz sentido mais pra mim. Então, a partir de agora, é Juninho da Silva… Esquece o Dezessete, o Dezessete é passado”, disse.
“Eu quero mostrar para as crianças negras que elas não precisam aceitar tudo, que não é correto aceitar tudo, racismo não é brincadeira, é muito sério”, afirma.
Juninho da Silva é um dos mais conhecidos sambistas de Passos, integrante da banda Divino Samba. Começou na música em 1994 e, já em 1996, começou a tocar cavaquinho e, a partir do ano 2000, passou a tocar também o banjo, que se tornou o principal instrumento, sua marca registrada.
O músico participou dos grupos “Bombocado”, “Complexo B”, “Samba Só” e vários outros. Em 2008, decidiu seguir também carreira solo e hoje participa de apresentações próprias, com grupos parceiros ou ainda músico de apoio de artistas que se apresentam em Passos, como Ferrugem, Marcio Art, Beleléu, Lucas Morato e Eder Miguel.
O jornalista e pesquisador de relações étnico-raciais para uma educação antirracista Maurício Mello, professor dos cursos de jornalismo e comunicação social da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) de Passos, aponta que a atitude do artista é importante no combater ao chamado “racismo recreativo”, pelo qual pessoas podem se sentir “confortáveis” para fazer racismo em tom de “brincadeira”.
“O Juninho alterou seu nome artístico pois ele despertou em termos de consciência racial. Apelido criado dentro de uma ação que chamamos de ‘racismo recreativo’ deve sim ser rechaçado como todas as piadas e brincadeiras de teor preconceituoso”, avalia. “É importante perceber que se continuarem a associar pessoas pretas a essas denominações animalescas, a opressão racial na sociedade brasileira se naturaliza”, disse.
Para Alexandre de Almeida, membro do grupo Cotas Municipais para Pessoas Pretas, afirma que a mudança é uma valorização da identidade. “O Juninho é um ser humano ímpar, que sempre está lutando e colaborando pela causa do povo preto e de periferia, então nada melhor que valorizar a identidade. Nós sabemos que termos pejorativos deixam as pessoas em condições de vulnerabilidade, de fragilidade, então eu acho que o Juninho está tendo essa responsabilidade com o peso do nome dele, ele está corretíssimo”, disse.
“O racismo sempre existiu, mas agora nossas atitudes estão sendo mais firmes, mais contundentes, pessoas que antes não falavam sobre o tema agora estão debatendo, então o diálogo é a melhor forma da gente acabar com qualquer mazela da nossa sociedade, então, quando o Juninho faz essa proposta de mostrar o que esse nome representa como um nome pejorativo, ele vai estar dando dignidade para alguns meninos que estão nas salas de aula, nas periferias nas comunidades”, afirma.
O empreendedor Reinaldo Alves de Barros, uma das lideranças do movimento negro jovem de Passos e idealizador da Feira Afro, a atitude de Juninho é um compromisso com a promoção da igualdade. “Ao optar por mudar um apelido com significado racista para um nome mais significativo, a pessoa está demonstrando um compromisso com a promoção da igualdade e respeito. Essa iniciativa pode contribuir para um ambiente mais inclusivo, onde todos se sintam valorizados e respeitados. Além disso, pode inspirar outros a repensarem suas atitudes e contribuir para uma cultura mais consciente e antirracista”, disse.