31 de julho de 2023
A capa do livro 'Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones', de Elizabeth Winder./ Foto: Divulgação.
LITERATURA
Há uma passagem, depois de vários capítulos de ‘Parachute Women: Marianne Faithfull, Marsha Hunt, Bianca Jagger, Anita Pallenberg, and the Women Behind the Rolling Stones’, de Elizabeth Winder, que justifica silenciosamente a existência do livro. Na introdução biográfica sobre Marsha Hunt, aspirante a artista R&B – antes de sua vida ser redirecionada ao dar à luz o primeiro filho de Mick Jagger – a história de vida de Hunt contrasta com as seções anteriores.
Enquanto os capítulos anteriores oferecem relatos em camadas, cobertura da imprensa e fofocas da época, o capítulo sobre Hunt não traz citações de apoio, nem perspectivas refratadas pelas lentes do LSD. Em vez disso, Winder apresenta um relato de fonte única a partir das memórias de Hunt. A voz solitária de Hunt ressalta o triste fato de que, diante dos inúmeros livros que documentam todas as facetas e jornadas dos Rolling Stones, Parachute Women é o primeiro a narrar as experiências coletivas das companheiras e esposas que moldaram os músicos. Winder destaca como a vasta influência dessas mulheres sobre os Stones foi praticamente escondida na sombra dos mitos monolíticos da banda.
Parachute Women é um passo para conceder a essas mulheres seu lugar de direito na cultura musical, principalmente Anita Pallenberg, que até agora tinha sido relegada a um ícone de groupie.
A bon vivant e artista germano-italiana foi parceira romântica de Brian Jones e Keith Richards e confidente criativa e amante de Mick Jagger (ele a chamou de “sexto integrante da banda”). Mas, como argumenta Winder, foi o estilo inatacável de Pallenberg, o hedonismo laissez-faire e o ar mundano que imbuíram os rapazes de uma aspereza cool.
Ela foi uma mentora extraordinária, apresentando-os a tudo o que os definiria, desde ocultismo e boás de penas até anéis de caveira e drogas pesadas – a imagem da banda passou a refletir seu glamour contracultural. Pallenberg era tão vital para Richards em particular que, sempre que lhe ofereciam um papel no cinema, Richards propunha cobrir seu salário e implorava para que ela ficasse ao seu lado. Ela sempre recusou sua oferta.
Marianne Faithfull, amiga de Pallenberg, reivindica uma participação significativa na criação de Mick Jagger. Quando a então pop star adolescente Faithfull foi morar com o vocalista em 1966, a dieta intelectual dele era ficção popular de supermercado. Faithfull lhe deu a devida educação sobre poetas beat, Bob Dylan, história, misticismo, aventura sexual, filmes e moda da Nouvelle Vague francesa, além de o levar ao balé com frequência. A insistência dela para que ele lesse O Mestre e Margarita rendeu a canção Sympathy for the Devil.
Como documenta Parachute Women, a proximidade com Jagger e Richards teve um preço alto. Depois que Faithfull foi pega na apreensão de drogas de Mick e Keith em fevereiro de 1967, vestida com nada além de um tapete de pele de carneiro, os paparazzis representaram a jovem de 20 anos como uma rosa inglesa profanada.