PASSOS – Os dias de calor intenso, os riscos de incêndios catastróficos e de quebra na safra de grãos devem aumentar nos próximos anos na região da Serra da Canastra devido às mudanças climáticas. É o que aponta um estudo realizado por pesquisadores do Woodwell Climate Reserch Center, dos Estados Unidos. Na safra de milho, as chances de quebra na produção devem dobrar em 20 a 30 anos.
Segundo a bióloga Ludmila Maria Rattis Teixeira, que atua como pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e integra o Woodwell Climate, a Avaliação de Risco Climático na Região da Canastra indica que os dias de calor intenso, com sensação térmica acima de 39°C, devem passar dos atuais quatro por ano para cerca de seis semanas.
”Nos próximos 20 ou 30 anos, teremos cinco semanas e meia a mais de dias de calor intenso na região da Serra da Canastra”, afirma Ludmila. Segundo ela, nesses dias será impossível trabalhar ou praticar atividade física ao ar livre, principalmente para populações mais vulneráveis, como crianças e idosos.
O impacto das mudanças climáticas na produção de grãos deve dobrar o risco de quebra na safra de milho na Canastra, indica o estudo. De acordo com levantamento realizado entre 1998 e 2017, o risco de quebra na safra de milho variou entre 11% e 23%. ”No futuro, a chance desta quebra ocorrer será de 46%, ou seja, a chance de dar certo ou não será praticamente a mesma”, observa a bióloga. Em relação à safra de soja, o risco de quebra deve variar entre 17% a 34% na região da Canastra.
De acordo com Ludmila, análise de dados coletados até os dias atuais indica que, atualmente, a Serra da Canastra registra 18 dias por ano de alto risco de incêndio catastrófico, mas esse índice deve chegar a seis semanas. ”No futuro nós teremos além destes 18 dias mais três semanas e meia de altíssimo risco de incêndio catastrófico”, alerta Ludmila.
A pesquisadora, que é de Passos, afirma que, recentemente, o instituto recebeu a incumbência e recursos financeiros para produção de estudos de risco climático para diferentes regiões do mundo. “Como passense, natural da região da Serra da Canastra, sugeri que também fosse feito um estudo para nossa região”, conta Ludmila.
Na semana passada, ela encaminhou uma cópia da avaliação para representantes do Consórcio Ameg. Após apontar os dados, a pesquisadora indicou que os municípios terão uma importante ferramenta para planejar a expansão da agricultura e que tipo de indústria a região deve priorizar.
”Precisamos pensar que tipo de planejamento territorial queremos para a nossa região e precisamos ter uma atitude agora, tanto para mitigação quanto a adaptação a esta nova realidade climática que já está batendo à nossa porta”, alerta Ludmila.
“É preciso procurar maneiras de se planejar e a Woodwell está aqui como uma aliada da região da Serra da Canastra para que a gente melhore estas estimativas de riscos, mas também que a gente procure soluções para estes riscos”, afirma a pesquisadora.
Questionada sobre as projeções para índices de chuva, a pesquisadora aponta que estudos feitos em região de floresta mostram uma mesma quantidade de volume, porém, a divisão difere ao longo do período. O volume que antes era dividido em garoas e chuvas mais brandas, apresentam-se agora como chuvas torrenciais.