Gabriela Matina
BELO HORIZONTE – O escritor amazonense Milton Hatoum foi eleito, na tarde da quinta-feira, 14, para ocupar a cadeira de número 6 da Academia Brasileira de Letras (ABL), vaga deixada pelo jornalista Cícero Sandroni, morto em junho deste ano, aos 90 anos. Favorito ao posto, Hatoum conquistou a vaga poucos dias antes de completar 73 anos. Também concorriam Eduardo Baccarin-Costa, Cezar Augusto da Silva, Antônio Campos, Paulo Renato Ceratti e Angelos D’Arachosia.
Filho de imigrantes libaneses, Hatoum construiu uma obra marcada por memórias familiares e pela influência cultural da Amazônia. Seu avô paterno chegou ao Brasil em 1904 e, após breve retorno ao Líbano, seu pai, Hassan Hatoum, decidiu conhecer a região, casando-se com Naha Assi Hatoum, mãe do escritor. Nascido e criado em Manaus, Hatoum desenvolveu desde cedo o gosto pela literatura, estimulado pela escola e pela leitura de autores como Graciliano Ramos, Machado de Assis e Jorge Amado. Aos 15 anos, mudou-se para Brasília, onde publicou seu primeiro poema no Correio Braziliense, em 1969.
No ano seguinte, iniciou o curso de Arquitetura na Universidade de São Paulo, frequentando também aulas de literatura e teoria literária. A decisão de se dedicar à ficção surgiu aos 27 anos, durante um período de estudos no exterior. Seu primeiro romance, Relato de um certo oriente, publicado em 1989 após quase uma década de trabalho, rendeu-lhe o Prêmio Jabuti e, em 2024, ganhou adaptação para o cinema dirigida por Marcelo Gomes, com elenco de origem libanesa.
Entre suas obras mais conhecidas estão Dois Irmãos, Cinzas do Norte e Órfãos do Eldorado, além de coletâneas como Sete crônicas e Cidade ilhada. Dois Irmãos foi adaptado para minissérie na Globoplay, estrelada por Cauã Reymond e Matheus Abreu.
Hatoum foi o primeiro candidato a enviar carta formalizando interesse na vaga da cadeira 6. A eleição dele ocorre em um ano de intensa renovação na ABL. Em julho, a mineira Ana Maria Gonçalves tornou-se a primeira mulher negra da instituição. Em agosto, a jornalista Míriam Leitão tomou posse, destacando a importância da diversidade e da presença feminina na literatura. Também ingressaram neste ano José Roberto de Castro Neves e Paulo Henriques Britto.
Atualmente radicado em São Paulo, Hatoum é reconhecido como um dos maiores romancistas brasileiros contemporâneos. Para ele, a literatura é um “antídoto à miséria do mundo” — visão que agora levará para o seleto grupo de “imortais” da Academia Brasileira de Letras.