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MEIO AMBIENTE – EDSON FIALHO

Foto: Reprodução

Um Brasil entre Desastres relacionados às Chuvas e as Secas

Na edição do Jornal da Ciência online, que pertence à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, no dia 2 de julho, foi destacado o estudo do pesquisador Ronaldo Christofoletti da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), que fez o levantamento dos desastres ocorridos no Brasil entre os anos de 1991-2023 para o Brasil. Segundo o mesmo estudo, entre os anos de 2020 e 2023, o Brasil passou por 7.539 desastres climáticos causados por chuvas intensas. O número revela aumento de 222,8% em relação aos eventos ocorridos ao longo de toda a década de 1990, quando foram registrados 2.335 episódios dessa natureza.

Ainda sobre os dados do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2ID) do Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional no período de 1991 a 2023, foram utilizados na pesquisa apenas dados de desastres relacionados às chuvas intensas ao longo desses 32 anos, que quantificou um número total de eventos de 26.767. Esses resultados vêm ao encontro das projeções realizadas pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), que apontam tendência de mudança no regime pluviométrico brasileiro, com aumento de 30% de chuvas nas regiões Sul e Sudeste e redução de até 40% no Norte e Nordeste, até o fim deste século, em 2100. No período, 64% desses desastres foram de natureza hidrológica, dos quais as enxurradas foram as mais frequentes, representando mais da metade desse percentual (55%), seguidas de inundações, que foram 35%.

Agora, sobre os efeitos decorrentes da falta de chuvas ou secas, um experimento realizado na Unesp de Botucatu em cultivo de abobrinha indicou que a redução de 30% nas chuvas diminuiria em 34% a disponibilidade de calorias no líquido doce que serve de alimento para polinizadores, como as abelhas, enquanto seca extrema praticamente elimina o recurso.

Esse resultado é alarmante para plantas que dependem de polinização cruzada para se reproduzir, como também aponta que as secas podem levar a uma redução de 95% do valor calórico potencial do néctar das flores, prejudicando tanto polinizadores, como as abelhas, quanto as plantas que dependem de polinização cruzada para se reproduzir e frutificar, caso da abobrinha.

Num cenário de redução de chuvas em 30%, a queda observada foi de 34%, como também demonstrou que um acréscimo na pluviosidade teve um efeito positivo no aumento de calorias do néctar em 74%. Porém, também ressaltam os problemas decorrentes de mais eventos de precipitação intensa num contexto ecológico mais amplo. Uma alta frequência e intensidade de chuvas podem ter consequências devastadoras para as plantas.

Os resultados publicados na revista Scientific Reports demonstram a gravidade da ameaça de escassez de água, que foi ressaltada pelo relatório divulgado pela Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, segundo o qual tanto regiões vulneráveis quanto desenvolvidas do mundo foram atingidas por secas recordes nos dois últimos anos.

 

Prof. Dr. Edson Soares Fialho

Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Viçosa.

E-mail: fialho@ufv.br

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