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MEIO AMBIENTE – EDSON FIALHO

Foto: Reprodução

A FINANCEIRIZAÇÃO DA NATUREZA

Na semana passada, discorremos sobre o embate no Brasil entre a conservação e a exploração da natureza. No entanto, ainda em maio, entre os dias 26 e 27, ocorreu no Rio de Janeiro o II Fórum de Finanças Climáticas e de Natureza. Ele reuniu líderes políticos, empresariais e civis para debater soluções financeiras que equilibrem o desenvolvimento sustentável, a justiça social e a conservação do meio ambiente. A agenda é vista como estratégica no percurso para a COP30, que ocorrerá em Belém (PA).

No Fórum, buscaram-se estratégias para mobilizar fundos em larga escala, promovendo a transição energética, a preservação das florestas, a segurança alimentar e outros aspectos cruciais para uma economia mais benéfica para indivíduos, empresas e o meio ambiente.

A seis meses da COP 30, o Brasil mantém a esperança de que a conferência ambiental em Belém resulte em progressos concretos. O principal obstáculo para converter o evento numa “COP da Implementação”, como anunciado pelo governo brasileiro, é o financiamento. De acordo com o embaixador André Corrêa do Lago, a questão financeira é um desafio desde a Rio 92.

Esta é uma questão ainda sem resposta, necessitando de novas dinâmicas e avanços. Nunca houve uma transferência efetiva de recursos de nações avançadas para a transição energética em nações emergentes. Durante a COP29, realizada em Baku, um estudo indicou que seria preciso mobilizar aproximadamente US$ 1,3 trilhão até 2035 para assegurar o financiamento de ações eficazes de luta contra as alterações climáticas. Portanto, o Ministério da Fazenda criou um “Roteiro Baku-Belém”, com o objetivo de indicar as rotas para a obtenção dos recursos trilionários.

Esse segundo Fórum reforça as realizações do primeiro evento, ocorrido em fevereiro de 2024, em São Paulo, que recebeu mais de 1.200 participantes presenciais e 1.500 online. Naquele momento, foi preparado um documento de recomendação que foi oficialmente apresentado ao G-20.

Conforme os debates no fórum evidenciaram, há recursos disponíveis e soluções para lidar com a crise climática. No entanto, é imprescindível estabelecer mecanismos de governança e estabelecer confiança no processo de implementação de projetos nos países emergentes.

O Fórum de Finanças Climáticas e de Natureza, por meio de um diálogo entre investidores, autoridades governamentais, líderes de negócios e especialistas de todo o mundo, se consolida como um local estratégico para a articulação entre finanças, clima e natureza.

Como se pode observar, o tema da financeirização é crucial, já que é estratégica para a construção de novas infraestruturas, com o objetivo de diminuir a liberação de gases de efeito estufa em nações emergentes. No entanto, a geopolítica atual afeta essa administração financeira, em um cenário de guerras, conflitos geoeconômicos e instabilidade política. Dessa forma, fica difícil vislumbrar uma solução a curto e médio prazo, principalmente, se persistirmos em um mundo onde o sistema capitalista atua como o administrador das relações de poder, a desigualdade socioeconômica não será erradicada, a menos que surja uma nova organização geopolítica.

Professor Edson Soares Fialho – Programa de Pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de Viçosa. E-mail: fialho@ufv.br

 

 

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