Vazão do Rio São Francisco baixou
O quarto maior rio nacional, o São Francisco nasce na Serra da Canastra e alimenta 521 municípios, pertencentes a cinco estados, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Sergipe e Alagoas, ao longo dos 2 814 quilômetros de extensão. É uma bacia de extrema importância econômica, que abastece cinturões agrícolas, longos trechos de navegação, seis hidrelétricas e água na torneira de mais de meio milhão de pessoas. Essa potência hídrica vem encolhendo significativamente, 60% ao ano, nas últimas três décadas, mais especificamente de 2012 a 2022. “O homem precisa mudar urgentemente a sua relação com a água”, diz um dos autores do estudo, Humberto Barbosa, coordenador o Laboratório de Análises e Processamento de Imagens, da Universidade Federal de Alagoas. O estudo foi publicado na revista britânica Water.
Bomba
A informação cai como uma bomba diante da diminuição do sistema de chuvas no Brasil e a constatação que a gestão hídrica não é sustentável. Na região do semiárido, por exemplo, tem até plantação de coqueiros, em grande escala com sistema irrigável. “Trata-se de uma cultura ideal apenas para região litorânea, onde naturalmente chove muito”, diz Barbosa. Além de consumir muita água em um local carente, ela aumenta a salinização do solo.
Fatores
São muitos os fatores que impactaram. Entre eles, a transposição do Velho Chico, como é chamado, iniciada em 2007, obra destinada a desviar parte das águas para regiões semiáridas do Nordeste, especialmente os estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Essa intervenção usa dois canais principais — o Eixo Norte e o Eixo Leste — que distribuem a água do rio para outras bacias hidrográficas nordestinas. Nas épocas de seca, por exemplo, o sistema de transposição compromete ainda mais o volume da bacia, que já desce naturalmente por causa do tempo. Atualmente há trechos visivelmente abalados, com ilhas de banco de areia, e profundidade máxima de 1 metros de água.
Degradação ambiental
A bacia do São Francisco também sofre com o assoreamento e a degradação ambiental, resultantes do desmatamento e do uso inadequado do solo. Isso reduz a capacidade de recarga e a qualidade da água, impactando ainda mais à vazão. Mesmo assim, não há ações de adequações em curso, que se tenha notícia. “É uma região de intensos conflitos pelo uso da água”, observa Barbosa. Apesar da constituição nacional determinar que o abastecimento da população tem prioridade, na prática, o uso agrícola e energético está sempre na dianteira. Não é um modelo sustentável. A mudança climática avança, mas não são os eventos extremos que trazem as calamidades. “O problema está na vulnerabilidade dos sistemas”, diz o pesquisador. Não existe planos de risco, para situações de emergências que diminuam os impactos. “A sociedade precisa largar conceitos antigos e não pode mais ficar alheia ao estado de vulnerabilidade que tende a ser cada vez maior.”