Parque vai proteger árvores
Na Amazônia profunda, existe um santuário de árvores gigantes que tem intrigado cientistas. Fica no Norte do Pará, na Floresta Estadual do Paru, onde só se chega de barco, após oito dias de viagem pelo Rio Jari. Pela importância desse deslumbrante ecossistema na mitigação da crise climática, o local acaba de ser transformado em uma unidade de preservação, o Parque Estadual das Árvores Gigantes. Entre seus 560 mil hectares, encontra-se o maior exemplar já identificado no Brasil e também um dos dez maiores do mundo: um angelim-vermelho (Dinizia excelsa) de 88,5 metros de altura, quase 10 metros de circunferência e 400 anos de vida.
Santuário
O status de parque passa a considerar o santuário uma área de proteção integral, onde são permitidas apenas a realização de pesquisas científicas, atividades de educação ambiental e turismo ecológico. Já a categoria “floresta estadual”, em vigor até o mês passado, permitia o uso sustentável da região.
A iniciativa de conservação é liderada pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), do governo do Pará, e conta com as parcerias do Instituto Federal do Amapá (IFAP), Fundação Amazônia Sustentável (FAS) e financiamento do Andes Amazon Fund (AAF).
Ecossistema
A copa dessas árvores gigantes tem um ecossistema próprio, uma biota ainda pouco conhecida. O solo onde elas crescem também é especial, algo que faz com que elas alcancem esses tamanhos extraordinários. “Estamos incentivando pesquisas para entender melhor isso. Se, por exemplo, descobrirmos que há uma concentração específica de nutrientes no solo que favorece o crescimento dessas árvores, poderíamos aplicar esse conhecimento na agricultura ou no reflorestamento, o que seria um grande avanço”, explica Victor Salviati, superintendente de Inovação e Desenvolvimento Institucional da FAS.
Povos tradicionais
As proximidades do parque são ocupadas por povos tradicionais há mais de 150 anos. Essas comunidades se sustentam com a pesca, agricultura de subsistência e produção de farinha, características da Amazônia. Além do angelim, há outras 14 espécies de árvores gigantes na região, o que torna a área única. “Há relatos de moradores sobre a existência de árvores ainda maiores. A área é extensa e não mapeamos todas as árvores gigantes ainda por falta de recursos”, afirma Victor Salviati. Segundo ele, existe tecnologia de satélite poderia ajudar nesse mapeamento, mas o custo é alto. “Nossa ideia é buscar parcerias para, futuramente, mapear a reserva e mostrar que temos as maiores árvores da América Latina. Quem sabe a gente não encontra um angelim de 108 metros e conquista o título de maior árvore das Américas, superando as sequoias dos Estados Unidos!?”, sonha Salviati, biólogo apaixonado pelo local.