Meio Ambiente

MEIO AMBIENTE

19 de setembro de 2024

FOTO: REPRODUÇÃO

‘Perdemos a luta’

Uma das maiores referências do mundo em estudos sobre a dinâmica de propagação do fogo na Amazônia, a bióloga Erika Berenguer diz que o governo brasileiro não soube agir na prevenção dos incêndios que assolam a região. Por causa das mudanças climáticas, a floresta úmida e densa, que nunca queimava, se transformou em poucas décadas, favorecendo a disseminação das chamas.

Segundo Erika, o combate ao fogo é importante como redução de danos, mas, em um País de dimensões continentais, a única saída é investir em prevenção. “Quando o fogo está pegando na Amazônia, já perdemos a luta”, disse em entrevista. “O governo não está conseguindo responder com propriedade, isso é um fato. Focou no combate ao fogo e pouco na prevenção.”

Alerta

O governo Luiz Inácio Lula da Silva foi alertado sobre a seca, a maior desde o início da série histórica há 74 anos, e o risco de escalada dos incêndios florestais. Uma série de documentos incluindo ofícios, notas técnicas, atas de reuniões e processos judiciais mostra que a gestão petista tinha ciência do que estava por vir desde o início do ano.

O Ministério do Meio Ambiente afirmou, após a publicação dos alertas, que o governo se antecipou, mas que ninguém esperava eventos nas proporções atuais. Disse ainda que não é possível controlar a situação se o “povo” continuar provocando incêndios.

Pesquisadora

Erika integra o Laboratório de Ecossistemas da Universidade de Oxford e é pesquisadora visitante da Universidade de Lancaster, ambas no Reino Unido. Há pelo menos 15 anos, a bióloga passa longos períodos na Amazônia, estudando o impacto das ações humanas e das mudanças climáticas no bioma. O principal foco do seu trabalho é o fogo resultante da atividade humana, que altera a dinâmica da floresta – às vezes de forma irreversível.

Ciência

A pesquisadora explica que tem um ramo da ciência que se chama ciência da atribuição. “Os climatólogos conseguem o porcentual, o quanto da seca está sendo exacerbado por conta das mudanças climáticas. Mas ainda não temos esses números para a atual situação. Eles devem começar a aparecer ao longo do ano que vem, conforme novos estudos saírem. O que pode, sim, dizer, baseado nas evidências que temos, é que secas extremas ocorrem. Porém, o clima já mudou. Temos de usar o verbo no presente e no passado, não mais no futuro. O clima vem mudando e está mudando. O que a gente já sabe, falando especificamente de Amazônia, é que, desde os anos 1970, já houve aumento de 1,5ºC no bioma como um todo. Ou seja, a Amazônia já está mais quente”, explicou.