Pantanal acabará
O Pantanal deve acabar até 2070 e a Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, terá metade da sua área devastada até essa década se o desmatamento continuar no ritmo atual, alerta o climatologista Carlos Nobre, referência internacional em estudos sobre aquecimento global. Desde 2023, o ritmo de perda de cobertura vegetal tem caído na Amazônia e em outros biomas, após um período de alta, mas o rápido espalhamento do fogo tem exposto as dificuldades do poder público de conter a destruição. Na floresta, por exemplo, os focos de queimadas estão territorialmente mais espalhados do que em anos anteriores.
Irreversível
Na semana passada, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse em audiência no Senado que o Pantanal chegaria a um ponto irreversível até o ano de 2100 diante do nível de destruição registrado nos últimos anos. “Segundo os pesquisadores, se continuar o mesmo fenômeno em relação ao Pantanal, o diagnóstico é de que poderemos perder o Pantanal até o final do século”, afirmou ela.
Recorde
Após uma explosão de queimadas em 2020, que deixou um rastro de animais mortos e a vegetação destruída, o Pantanal registrou em junho recorde de focos de incêndio. No primeiro semestre, a Floresta Amazônica também teve o número mais alto de focos de fogo e tem visto rios atingirem os níveis mais baixos da história, com riscos para o transporte fluvial, a pesca e o abastecimento. “Acho até que ela (Marina Silva) foi otimista. Acho que o Pantanal acaba até 2070, sem falar nos outros biomas. A Amazônia, o Cerrado, a Caatinga: todos os biomas estão em risco. Se o desmatamento continuar desse jeito, a Amazônia vai perder pelo menos 50% da floresta até 2070″, alerta Nobre. “O Pantanal já reduziu 30% nos últimos 30 anos; está secando. E agora o fogo destrói sua vegetação. Se continuarmos com emissões altas e só conseguirmos zerá-las em 2050, o que já é um enorme desafio, poderemos chegar a 2100 com 2,5ºC acima da média. Se isso acontecer, o Pantanal não terá mais lago”, continua o pesquisador.
Criminoso
Como não há recorrência de raios, segundo os especialistas, a origem do fogo é criminosa. “Entre 95% a 97% são causados pelo homem”, diz ele. Para dar conta disso, a resposta do poder público precisa melhorar: mais brigadistas, mais investigação policial, de forma a desmobilizar o crime organizado, e também tecnologia para detectar os focos. “O sistema detecta o fogo, mas mesmo que a polícia saia correndo, não conseguirá prender o criminoso, ele já não estará mais lá. Os próprios produtores agrícolas contrários às queimadas terão de se envolver, usar mais drones, tecnologia. A polícia precisa ter mais eficácia em atacar o crime organizado. E o número de brigadistas precisa aumentar. É uma guerra e temos de começar a combatê-la”, afirma.