Ézio Santos
PASSOS – Um dos mais conhecidos mecânicos de Passos, principalmente pelas pessoas da velha-guarda, completou 77 anos, sendo 64 de profissão, e só trabalha para quem possui carro da montadora Volkswagen, como Fusca, Brasília e Kombi. Quem pensa que passa a maior parte do dia esperando cliente se engana, porque não consegue atender a demanda por dia.
Já aposentado, José Raimundo Filho, o Torrado, começou na profissão em 1960 na concessionária da Wolks, em Passos, e lá permaneceu por 15 anos. A partir daí, abriu a oficina em sociedade na rua dos Brandões, adquiriu mais experiência e nunca mais deixou o ofício. Hoje, o local de trabalho, há mais de 40 anos, é na rua David Baldini, próximo da esquina com a rua Aurora, no bairro Belo Horizonte.
O mecânico conta que se especializou apenas nos três modelos da montadora, porque, no início da carreira, Fusca, Brasília e Kombi eram os carros mais populares no país. “Acho que 80% da frota era da Volks. Tomei gosto e estou até hoje e, salvo engano, sou o único da cidade que não conserta veículos de outras montadoras. E só lido com a parte mecânica e o sistema de suspensão. Não mexo com funilaria”, afirma.
Torrado contou que por volta dos anos 70 e 80 chegou a ter 20 funcionários, mas foi diminuindo gradativamente até ficar sozinho na oficina. “De dois anos para cá, parei de contratar. É difícil encontrar um profissional bom de serviço. A molecada não pode trabalhar aprendendo ou não quer sobreviver como mecânico. Sem contar a dor de cabeça com a justiça trabalhista. Sozinho é melhor, porém é tanto serviço que não dou conta do prazo, mesmo trabalhando até no domingo”, disse.
Mesmo com os novos modelos de veículos e o aumento no número de montadoras em atuação no Brasil, o mecânico afirma que ainda tem muitas pessoas, principalmente da zona rural, que possuem carros antigos da Volks, alguns como relíquia ou para coleção. Na profissão, com a ajuda da esposa, conseguiu formar os três filhos: Erlon, advogado; Denilson, engenheiro eletrônico; e Maria Cristina, enfermeira de alto padrão.
Com uma imagem grande de Nossa Senhora Aparecida sobre um móvel na oficina, se destacando em volta de outros santos de menor tamanho, Torrado disse que a fé na rainha e padroeira do Brasil contribuiu muito para chegar aos 77 anos e com saúde. “Em primeiro lugar, Deus, depois a nossa mãezinha, seguido da família e amigos. São os pilares da vida para qualquer cristão”, acredita.
O Fusca, no Brasil, foi produzido em duas fases: dos anos de 1959 a 1986 e de 1993 a junho de 1996. O último exemplar, modelo Itamar Franco, alusivo ao então presidente do Brasil, era de uma série especial Ouro, com cerca de 1.500 carros fabricados. A Brasília começou a ser produzida em junho de 1973, e a Kombi, entre 1957 e 2013.