Conheci Maria em fraternas ocasiões. Em terras adubadas ao gosto do sol, da chuva e sereno. Rosas abrigadas em jardins floridos. Em que bons dias propiciavam cantar docemente "serenô, eu caio, eu caio…"
E a gente caía em profundas paixões, hoje cravadas em sede de memória.Na letra da belíssima canção de Fernando, o adereço harmônico é a "mistura de dor e alegria", com pétalas perfumadas e espinhos. Assim era Maria. Maria de todas as virtudes, sonhos e pecados escondidos.
Em casa eram muitas as Marias: das Graças, de Lourdes, do Carmo, da Conceição, Auxiliadora. E havia Aparecida. Seis ao todo. Na pluralidade, todas Maria.
E ao longo da caminhada fui conhecendo e acumulando para o bem outras Marias. Mulheres firmes, fortes e obstinadas. E também as aflitas, tristes e fragilizadas.
Maria, Maria… O nome não só principia. É movimento cíclico. Intertemporal. No dizer do poeta passense Messias Grilo, em "Reflexos", pode-se acolher "silhuetas plantadas na sombra de um sonho", tantas e tamanhas as Marias... Quando se dá a conhecer e contemplar o encanto, ainda que nos desencontros e tribulações.
Tema de multiplicação poética, o nome se espalha mundo afora. Em Django tem Maria. Só esquecem de Maria, a da esquina. Ela vende balas para sobreviver. Não se sabe quanto ganha; sabe-se do filho especial que a acompanha no aconchego dos seus braços no propósito diário. O de ganhar algum para o sustento e sobrevivência.
Pelo que se sabe porque contam: não é Maria das Dores. Simplesmente Maria. Ela não pede, não reclama, não insiste. Talvez nem à noite chore; nem de mansinho deve chorar. No máximo, por dedução de suor alheio, a ingente luta pela sorte. Quer bem ao seu pimpolho. Por ele rala, rola e ralha, se preciso for. Disso não tenham dúvida.
No sinaleiro, agorinha há pouco, vendeu três balas por um real. A moeda se desprendeu da mão e foi ao chão. O tilintar da moeda deu onomatopaico som de Brant. Pegou-a, olhou bonito para o aço revestido de cobre. Fez-se na hora rica. Viu na moeda espelho mágico do seu filhinho, agora adormecido nos seus braços. Ela, forte e guerreira o sustém junto ao peito. Ele não é peso e nem encargo. É o amor da sua vida.
Mal sabem, Maria é intensamente mais forte que as procelas; o vento de tempestades de verão é fichinha. Na grandeza de circunstâncias, no rigor das vezes, "ri quando devia chorar". Ainda que se esfole não se abate frente às tormentas que a perseguem. Arrosta a dureza do cotidiano. É Maria. O retrato fiel da garra e coragem. Maria, Maria...
É de Milton, é de Fernando. É de todos nós. O nome mergulha no imaginário de cada filho que ama a mamãe querida, mãe do Brasil e das nações que povoam o mundo.
No todo e plural, ou simplesmente Maria.
PS: Para Maria Bárbara, com carinho.
LUIZ GONZAGA FENELON NEGRINHO, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com)