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“Macbeth”, um clássico de Shakespeare

Por ALBERTO CALIXTO MATTAR FILHO

Há muitos anos, li duas das peças teatrais de Shakespeare, “Hamlet” e “Otelo”, que integram o quadro de suas tragédias mais famosas, como “Romeu e Julieta, uma história que multidões conhecem também por ter sido adaptada para o cinema.

Adquiri os volumes em uma tradicional livraria de Ribeirão Preto, a Acadêmica, que ficava no centro da cidade. Em minhas idas para lá, eu costumava ficar horas ali vasculhando as estantes repletas de livros. Os que possuo de Shakespeare são da Ediouro, aquelas antigas edições de bolso de baixo custo.

Lembro que, na época, fiquei muito empolgado com os textos de “Hamlet” e “Otelo”. Por certo, entrarão em meus desejos de releituras, que, reafirmo, são fundamentais para sedimentar opiniões no vasto universo dos livros.
Desde então, “Macbeth” espera a sua vez. Mas finalmente cumpri o desígnio nesse janeiro de 2023. Como já disse antes, ler textos teatrais não é simples, já que tudo vem em forma de diálogos, uma característica essencial do gênero dramático.

É preciso ir desvendando aos poucos o enredo, ou por meio de frases curtas, ou meras palavras, que, a princípio, deixam o leitor no vácuo, para só fazerem sentido mais à frente. Há ainda o costume da ordem indireta dos períodos e de alguns termos, talvez como uma maneira de dar ênfase às falas dos diversos interlocutores.

Quanto a William Shakespeare, desnecessário dizer além do que já se sabe. Shakespeare desperta teses, estudos, controvérsias sobre dados biográficos e devoções pela vasta obra que legou. Shakespeare é uma fonte inesgotável. Em suas peças trágicas, o amor, a morte, a paixão, o heroísmo, as traições, a justiça, os interesses e as complexidades que circundam o poder são retratados com total intensidade.

No caso de “Macbeth”, em poucas páginas – minha edição possui apenas 94 −, as questões relativas ao poder representam a essência do enredo. Para usar uma definição comum a respeito do personagem, Macbeth é um valoroso soldado do reino britânico que recebe uma profecia de três bruxas de que se tonará o futuro rei.

Após o presságio, sua mente fica tão dominada pela tentação, que lhe resta desabafar com sua mulher, Lady Macbeth. E Lady, mais ambiciosa e dotada de malícias do que ele, passa, em seguida, a persuadi-lo sobre planos de assassinato do então rei Duncan para que a profecia, de fato, viesse a se consumar.

Entretanto, quando Macbeth cede à ambição, e tal crime o torna rei, os fluxos de uma drástica paranoia lhe acometem de tal modo o espírito, que ele começa a ver, por toda parte, inimigos que desejam destituí-lo do reino e, por isso, se transformam em potenciais ameaças que precisam ser eliminadas.

“Não há ninguém em cuja casa eu deixe de ter algum espia…” (pág. 60)
A tragédia resulta, assim, em uma espécie de banho de sangue. Atormentado por fantasias mórbidas e inseguro em manter o trono, passa a determinar e praticar cruéis assassinatos de quem ele entendesse que pudesse lhe roubar a coroa.

Mas, como em tudo há um preço, o final da peça trará consequências, inclusive para sua mulher, que, também assolada por culpas, perambula em insônias e delírios terríveis pelo palácio.
A grande maioria dos diálogos é célebre, uma vez que traz toda a carga emocional de condutas em luta pelo poder, como os instantes em que os inimigos de Macbeth arquitetam a vingança.
Temos, pois, uma obra clássica do que significa desejar o poder e os efeitos de mantê-lo a qualquer custo. Um texto para ser eternamente interpretado nos palcos.
Se, na obra, Shakespeare nos brinda com as circunstâncias da coroa de um antigo reino, nada impede que a tragédia sirva de exemplo para o que acontece a nosso redor em qualquer tempo e espaço.

Poderes, ainda que aparentemente mínimos, podem gerar conflitos e atitudes mesquinhas, cruéis e repletas de paranoia, caso faltem virtude e equilíbrio a quem os alcançar.
Claro que são sedutores e se tornam aptos ao prazer e às glórias, mas sempre carregam consigo riscos de vaidade excessiva e ações insanas para sustentá-los.
Em“Macbeth”, Shakespeare vai ao extremo do que acontece com aqueles que se deixam iludir por ambições ilimitadas.

ALBERTO CALIXTO MATTAR FILHO escreve quinzenalmente, às quintas, nesta coluna (mattaralberto@terra.com.br)


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