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Luta Permanente

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho

A vida se desenrola como um grande tabuleiro, onde cada movimento pode definir o futuro. Ataque, defesa, estratégia — cada passo exige cálculo, cada escolha carrega um risco. No meio desse jogo incessante, há os que avançam sem medo, os que recuam por cautela e os que, em meio à batalha, aprendem que a vitória não pertence ao mais veloz, mas a quem equilibra coragem e prudência.

Prudência, essa virtude tantas vezes confundida com hesitação, é, na verdade, a grande sentinela da existência. Ela não é fraqueza, mas força contida; não é insegurança, mas sabedoria. A natureza nos ensina isso: o rio que corre impetuoso respeita as margens que o guiam, a árvore que resiste à tempestade dobra-se ao vento sem se partir. O mundo está cheio de armadilhas, e quem caminha sem cautela pode cair em buracos sem volta. Essa dinâmica se revela até nos gestos mais corriqueiros do dia a dia.

Vejamos um episódio simples, mas representativo, ocorrido no posto de abastecimento e serviços ao lado do escritório, em Formiga. Um jovem visivelmente transtornado chega até a bomba de combustível e ordena que abasteça seu carro com diesel. O frentista, atento, percebe o erro. Sabe que o veículo só aceita gasolina ou álcool. Poderia simplesmente obedecer, mas não o faz. Com serenidade e senso de responsabilidade, recusa-se a seguir a instrução equivocada.

Ali, ele jogou bem. Não caiu na armadilha do descuido, não cedeu ao impulso de obedecer cegamente à determinação. Manteve o emprego, evitou um problema mecânico, possíveis entraves jurídicos e fez o que era certo.

A vida é assim: um duelo constante entre o ímpeto e a contenção, entre a necessidade de avançar e o dever de parar. Quem se lança ao mundo sem estratégia se torna presa fácil dos próprios excessos; quem se protege em excesso corre o risco de nunca sair do lugar. Entre guerreiros e perdedores, entre riscos e vitórias, há que se encontrar o ponto de equilíbrio.

Porque, no tabuleiro da vida, o xeque-mate raramente vem da força bruta, mas da sabedoria de escolher o momento certo para agir ou esperar. E sigamos em frente, pois o caminho exige discernimento, e o grande desafio sempre será este: caminhar entre a ousadia e o bom senso, sem perder de vista que, no fim, vencer não é apenas seguir adiante, mas saber o momento certo de parar, recuar e escolher o próximo passo com sabedoria.

Entre diesel, gasolina e álcool, há momentos em que o mais prudente é evitar a faísca que pode inflamar tudo.

Luiz Gonzaga Fenelon Negrinho, advogado, escreve aos domingos nesta coluna. (luizgfnegrinho@gmail.com).

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