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Livro expõe crimes na crise dos opioides

15 de agosto de 2023

Jornalista Patrick Keefe, autor do livro 'Império da Dor'./ Foto: Divulgação.

LITERATURA

Foi com um artigo na revista ‘New Yorker’ que o repórter investigativo Patrick Radden Keefe jogou luz sobre os obscuros negócios da família Sackler, trazendo à tona os segredos de uma das mais poderosas dinastias dos Estados Unidos. As investigações deram vida a um trabalho mais amplo, o livro-reportagem Império da Dor que agora virou série na Netflix.

Trata-se de um retrato feroz da era dourada americana – espelhada na ascensão e queda de uma família que jamais assumiu sua responsabilidade pela mais complexa crise de saúde pública nos Estados Unidos. O império dos Sackler, que remonta à construção da América moderna, é obra de Arthur (1913-1987), Mortimer (1916-2010) e Raymond (1920-2017), todos eles médicos.

Por mais de seis décadas, os três irmãos e seus respectivos descendentes deixaram sua marca na cidade Nova York assim como os Vanderbilt, os Carnegie e os Rockfeller. O acúmulo de capital dos Sackler, hoje avaliado em cerca de 10 bilhões de dólares, se deve principalmente ao êxito comercial do potente analgésico opioide OxyContin, lançado em 1995 pela Purdue Pharma, empresa farmacêutica controlada pela família.

O uso desenfreado do medicamento, anunciado como maneira “revolucionária” para tratar dores crônicas, foi uma das principais causas da epidemia de vício em opioides que matou mais de 450 mil americanos nos últimos 25 anos, segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

Discretos e filantrópicos, os Sackler angariaram notoriedade no campo da arte e da medicina, estampando fundações e patrocinando alas de museus renomados como o Metropolitan Museum of Art, em Nova York, e o Louvre, em Paris. Hoje, no entanto, ao visitar qualquer instituição desse porte, não será possível encontrar o nome deles nas paredes.

Uma reputação que outrora foi associada à benevolência hoje é ligada ao crime. Isso se deve, em grande parte, ao ativismo ferrenho, ácido e inconformista da fotógrafa americana Nan Goldin. Após a publicação do artigo de Keefe, a artista se tornou símbolo da luta contra a família Sackler ao orquestrar protestos que reverberaram ao redor do mundo – trajetória retratada no recente documentário All The Beauty And The Bloodshed (2022), indicado ao Oscar na categoria.

“Esta é uma história sobre a maneira como uma família usou o mundo da elite de universidades sofisticadas e galerias de arte para lavar sua própria reputação. A filantropia era uma distração da natureza suja de seus negócios. Quando comecei a pesquisar em 2016, a família ainda era celebrada e admirada por onde passava”, conta ao Estadão o autor do livro e jornalista Patrick Keefe.

“Império da Dor”, lançado no Brasil pela Editora Intrínseca, é best-seller do The New York Times e consolidou-se como a obra definitiva sobre a epidemia dos opioides. O conteúdo é dividido em três partes: Patriarca, uma biografia de Arthur Sackler, o homem que idealizou toda a lógica moralmente questionável da publicidade farmacêutica; Dinastia, que lida principalmente com a invenção do OxyContin sob as rédeas de Richard, sobrinho de Arthur; e Legado, que escancara a maneira como os Sackler eram famintos por dinheiro e ambiciosos em sua tentativa de dominar o mercado de analgésicos.